Julia narrando
Eu não sabia que estava sentindo TANTA falta do Gustavo até ver ele. Então se apaixonar é isso? Morrer de saudade depois de ficar 1 mês sem se ver?
Ele puxou meus ombros e me apertou num abraço, sem me dar tempo de falar muita coisa. Aproveitei pra dar um cheiro no seu pescoço e inalar o perfume que ele sempre usa e eu amo. Recebi um beijo na bochecha e não pude evitar sorrir.
— Você tá diferente.
— Não tô não. – Dei risada.
— Tá mais gostosa. – Sorriu de lado.
— Como é?! – Minha avó exclamou, fazendo com que eu me lembrasse de sua presença.
— Foi mal! – Gustavo levantou as mãos.
— Não fique pensando que eu vou ficar aqui de braços cruzados olhando vocês se pegando. Eu não perdi o juízo ainda.
— Somos amigos. – Falei e ele assentiu.
— Exatamente.
— Entendi. – Nos encarou desconfiada. – Vocês sabem que eu não tô aqui pra brigar, né?
Juntei as mãos pra trás do corpo, já esperando um sermão (como se todos os outros que ouvi no último mês não fossem o suficiente).
— Isso não significa que os dois tem passe livre pra ficar de safadeza por aí não. Não sou contra, já deixei isso bem claro, mas ainda precisam ouvir os pais de vocês. Vou interferir até onde achar necessário.
— Sabemos, vó. – Gustavo se prontificou em dizer. – Sério. Não torna isso mais estranho do que já é.
Minha avó levantou as sobrancelhas e eu dei risada da sinceridade dele.
— Então fiquem cientes que eu tô de olho em vocês o tempo todo. – Apertou os olhos. – Tô indo buscar uma torta e um suco, mas não vou demorar nem cinco minutos!
Assenti e observei enquanto ela se afastava para a cozinha, nos dirigindo olhares desconfiados. Após tê-la perdido de vista, senti o Gustavo virar meu rosto para si com um olhar atento.
— Deixa eu dar uma olhada nesse seu piercing. – Revirei os olhos. – Você tá ficando rebelde, hein. Daqui a pouco vai tá fazendo tatuagem e trocando tiro com a polícia.
— Quem disse que eu nunca fiz isso?
— Já trocou tiro? – Arregalou os olhos.
— Tatuagem. – Ri.
— Ah, não sei. Tira a roupa pra eu conferir. – Lambeu os lábios.
— Idiota...
— É charme. – Piscou.
— Achei exótico. – Corri os olhos rapidamente pelo seu corpo. – Você emagreceu.
— Nada a ver. – Levantou a camisa e olhou para si mesmo, passando a mão na barriga. – O pai tá em forma, isso sim.
Não pude evitar uma mordida disfarçada no lábio inferior. Ele precisava mesmo ser tão gostoso? Às vezes chega me dar raiva. É, Gustavo, você tá em forma.
— Não faz isso. – Murmurou, desviando o olhar.
— Isso o que? – Ele ficou em silêncio por um momento, depois suspirou.
— Não me provoca, tu sabe que eu não aguento.
Se eu não tivesse ouvido os passos da minha avó voltando da cozinha, definitivamente saltaria em seu colo e me entregaria pra ele, como sempre. Decidi ser apenas comportada, controlada e obediente. Sentei no sofá, saboreei a torta de chocolate e talvez tenha comido 3 pedaços. Minha mãe surtaria, mas tava muito boa, juro.
Estávamos esperando o Thiago chegar, só que ele demorou MUITO, então subimos pra laje da minha avó porque eu queria ver o pôr do sol. Pedi que o Gustavo tirasse uma foto minha pelo celular dele, já que o meu estava prestes a descarregar. Eu definitivamente postaria assim que chegasse em casa, ele é um bom fotógrafo.
Passei bastante tempo olhando lá pra baixo, vendo o movimento das pessoas. Parece que todo mundo da comunidade se conhece, enquanto eu sequer vi o rosto de metade dos moradores do meu condomínio. Tinha uns meninos na calçada da frente carregando fuzis pendurados nas costas e fumando maconha. Várias crianças brincavam de futebol na rua.
Enfim, anoiteceu e voltamos pra dentro de casa, aí sim o Thiago chegou. Nos vemos todos os dias na escola, então nem tava com tanta saudade dele assim. Com muita insistência, conseguimos fazer a minha avó jogar uno com a gente.
— Se o Gustavo começar a roubar eu paro de jogar, vou logo avisando. – Thiago falou enquanto distribuía as cartas.
— Não sei jogar isso, vocês vão ter que me ensinar. – Minha avó falou.
— Então a gente joga em dupla, seu parceiro te ajuda. – O Gustavo sugeriu.
— É, assim vai ser melhor. – Thiago concordou. – Vou fazer dupla com a Julia.
— Não, eu vou fazer dupla com a Julia. – Gustavo falou, pegou as cartas e sentou do meu lado no chão, enquanto eu dava risada.
— Insuportáveis. – Thiago respondeu, revirando os olhos, depois se virou pra de uma explicação rápida pra minha avó.
— Não aguenta ficar longe de mim? – Brinquei, batendo meu joelho no do Gustavo.
— Você joga muito mal, decidi fazer caridade e te ajudar. – Piscou.
— Você só joga bem porque é o maior trapaceiro.
— Não sou trapaceiro!
— Então suas cartas somem com mágica? – Ironizei.
— Sim, quer ver eu fazer suas roupas sumirem agora? – Sorriu malicioso.
— Se comporta! – Falei rindo.
— É mais forte do que eu!
— Palhaço. – Revirei os olhos, depois dei uma olhada nas nossas cartas. – Realmente, bem que você poderia trapacear um pouquinho...
— Não é trapaça. – Insistiu.
— Então o que é?
— Estratégia de jogo.
— Que belo nome pra trapaça. – Ri. – Teimoso.
— Você ama a minha teimosia.
— Eu amo tudo em você. – Provoquei.
Ele não respondeu, apenas avançou pra me roubar um beijo, mas fomos interrompidos por uma almofada que veio voando do outro lado da sala.
— Quais são os critérios de amizade pra vocês, hein? – Minha avó falou, se sentando na nossa frente. – Vamos começar esse uno antes que eu mude de ideia.
∆
e vamos de best friends

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Marginal
Novela Juvenil[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...