Cinquenta

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Gustavo narrando

Minha avó brotou do nada pra encher minha cabeça de minhoca. Ela é inteligente pra caralho, sabe entrar na mente das pessoas, mas não deu. No fim, continuei tendo certeza do que eu sinto pela Julia e do quanto eu quero ela.

Com o carnaval chegando e tal, minha avó resolveu passar o feriado por aqui mesmo, pra tentar reaproximar a família (de novo). Admiro as tentativas, mas eu não tenho vontade alguma de ter aquele cara por perto. Assim é melhor. Dá menos problema.

Eu não sei como isso se espalhou, mas logo o morro todo sabia que eu tava pegando minha prima. É meio chato, odeio fofoca, mas não posso fazer muita coisa, né? Tem os que falam mal, os que só comentam, os que acham engraçado e até os que apoiam. Esses são os meus favoritos.

Agora que somos "amigos" parece que as coisas estão no controle, a gente não se vê desde o que rolou na balada, mas conversamos todo dia. Às vezes ficamos em ligação até tarde, ou eu mando entregar açaí no condomínio dela, acordo cedo pra mandar bom dia antes que ela vá pra escola... coisas de amigos.

Depois de acordar e mandar bom dia pra minha morena (que não é mais minha), fui até o banheiro pra tomar um banho. Tava morrendo de sono, mas meu pai queria resolver uns assuntos comigo na boca, então troquei de roupa, bebi uma xícara de café preto e saí. Já era umas 8h da manhã e o morro tava movimentado, sexta feira né, dia de baile, geral se animava.

— Gustavo, vou te afastar do movimento por um tempo. – Falou ao me ver entrar.

— Nem bom dia eu recebo? – Cruzei os braços.

— Tu é muito impulsivo, precisa ficar na tua até aprender a ser mais cauteloso.

— De novo esse papo? – Levantei as sobrancelhas. – Porra, eu nem voltei direito.

— Deixa de drama, é só até o carnaval passar.

— Mas o que eu fiz de errado?

— Nada. Eu tava de olho no seu comportamento, só acho que precisa melhorar algumas coisas. Você chama muita atenção. Isso é ruim. Aliás, vai ser bom passar um tempo com a sua avó enquanto ela tá por aqui.

— E de onde saiu essa ideia?

— De mim e da Alexa. – Cruzou os braços. – E não adianta ficar com raiva, você sabe muito bem que a polícia tava na tua cola pouco tempo atrás.

— Já passou! Foi só um deslize...

— Não foi, Gustavo. – Me cortou. – Eu ainda sou o seu pai e me preocupo, sabia? Aquele deslize podia ter acabado contigo. Tu tá com a cabeça cheia de coisa agora, não dá pra focar em tudo ao mesmo tempo.

— Então... – Respirei fundo. – O que você quer que eu faça?

— Não sei, aprende alguma coisa nova, que tal tricô? – Ele deu risada e revirei os olhos. – Seu tio joga tênis.

— Combina com ele mesmo. – Bufei e dei as costas, na intenção de sair.

— Passa na casa do Túlio pra ver se ele tá melhor. Acho que vocês precisam ter uma conversa.

Não respondi, só acenei e saí. Porra, me afastar? Ah, vai tomar no cu. Não sei de onde saíram essas frescuras, tô fazendo tudo do mesmo jeito que sempre fiz, e agora querem meter o louco pra cima de mim.

Antes de ir no Túlio, parei pra tomar café da manhã direito. Comprei uma lata de coca e uma coxinha na lanchonete da rua, enquanto comia peguei o celular pra ver se ela tinha respondido.

Eu | 7:12
Bom dia cara de cu

Gostosa | 7:55
bom dia burro do shrek

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