Gustavo narrando
Na véspera de natal acordei 12h. Ouvi uma música alta e imaginei que a família já estivesse fazendo aquele clássico churras. Tomei um banho rápido, vesti uma bermuda, passei desodorante, perfume e sequei o cabelo com a toalha. Escovei os dentes e desci pro quintal, vendo todo mundo bebendo e comendo. Cumprimentei meu tio e a mulher dele.
— Vocês acordam cedo, hein, puta que pariu. – Cocei os olhos. Abri o freezer e peguei uma latinha de Brahma geladinha.
— Cria vergonha na tua cara, Gustavo. – A Alexa bateu na minha cabeça.
— Poderia chamar a sua namorada, né? – Meu tio sugeriu.
— Não, ela tá curtindo com a familia dela. – Inventei uma desculpa. Meu pai me olhou desconfiado, mas eu desviei o olhar.
— Mesmo assim, chama. – Ele mais ordenou do que pediu.
— Mais tarde eu chamo. Meu celular tá descarregado. – Bebi um gole da minha cerveja. Ele soltou um suspiro.
Sentei numa cadeira lá e fiquei conversando com eles sobre assuntos aleatórios, Thiago foi em direção à piscina, Julia foi atrás. Olhei pros dois rapidamente, sem prestar muita atenção, mas logo voltei meu olhar para aquela filha da puta desfilando de biquíni no meu quintal. Não consegui desgrudar os olhos. Ela entrou na piscina, mergulhou, nadou até a borda e parou próximo a onde eu estava. Emergiu com os cabelos para trás, apoiou os braços ali, me encarou com o lábio inferior preso entre os dentes e um sorriso querendo surgir. Engoli em seco e respirei fundo, tentando não pensar em besteira. Eu não sei como ela faz isso. Parece tão... natural.
Primas deveriam ser todas feias. Horrorosas. Deveria existir uma lei que proíbe isso. Principalmente as patricinhas mimadas e privilegiadas. É um absurdo.
O ambiente estava agradável, tocava um funk leve, depois um pagodinho, e ia revezando. Comi muita carne assada com farofa e arroz, delicia. A noite chegou, minha barriga estava roncando só em sentir o cheiro da ceia. Mas tinha que esperar até meia noite.
Vesti uma roupa que a Alexa escolheu, passei bastante perfume e – pasmem – até arrumei o cabelo, a ocasião merece. Me sentei no sofá da sala enquanto tomava uma brahma (de lei), logo veio a Julia da cozinha com uma taça de vinho nas mãos. Ela usava um vestido longo, ele era bege e feito de um tecido que a Alexa fala sempre mas eu não lembro o nome, babei demais. Julia se sentou do meu lado, dando um gole na sua taça.
— Você tá linda. – Mordi a língua após dizer o que veio na minha mente. Sinceramente, hein, eu sou otário demais, deveria ter ficado calado.
— Meu Deus, tô desacreditada. Você acabou de me elogiar mesmo?! – Abriu a boca, fingindo surpresa.
— Vai se foder. – Revirei os olhos.
— Obrigada, Gustavo. Você também tá arrumadinho.
— Engraçadinha, tô gatão. Se liga no estilo do pai. – Falei passando as mãos sobre a minha camisa.
— Ai, você não pode ser elogiado. É egocêntrico demais pra isso. Queria ter essa auto estima.
— Ué, pois deveria. Você é gostosona. – Dei um sorriso travesso e bebi um gole da minha cerveja.
— Você não sabe fazer um elogio sem malícia? – Começou a rir.
— Sei, mas qual a graça?
— A graça é agir igual um primo normal.
— Não fala essa palavra.
— Que palavra? Primo?
— É. Tô brigado com ela. – Bufei.
— Com a palavra?
— É, Julia.
— Posso saber o porquê?
— Odeio primos. Principalmente primas.
— Algum motivo específico? – Ironizou.
— Vários motivos. É o parentesco mais idiota que existe. Sério, qual o sentido de ter ligação sanguínea com a filha do irmão do meu pai?
— Você tá bêbado?
— Minha família tem uma genética muito boa. Isso resultou numa prima gata pra caralho, e qual o sentido de ter uma prima gata pra caralho se eu não posso pegar ela?
— Gustavo! – Sussurrou, em choque. – Cala a boca. Os nossos pais vão te ouvir.
Revirei os olhos e continuei bebendo em silêncio. Eu e a minha boca grande.
— Você tem namorada. – Murmurou.
— Isso não parece ter te incomodado antes. – Sorri sarcástico.
— Mas incomodou. Eu não gosto de traição. Me sinto mal.
— Seria traição se eu sentisse algo por ela.
— Vocês tem um compromisso. É traição.
— Vai me dar lição de moral agora?
— Não tô te dando lição de moral. – Suspirou. – Só tô te alertando. É melhor a gente não tocar mais nesse assunto, é passado.
— Claro, porque isso resolve tudo. – Dei um gole na minha cerveja.
— Não sei onde você quer chegar! – Se irritou. – Pode até ter sido bom o que aconteceu, mas a gente ia ter que parar em algum momento. Não dá pra se arrepender de um erro e continuar errando. Vê se entende.
Dito isso, ela se levantou e saiu em direção a algum outro cômodo.
Que véspera de natal terrível. Eu deveria ter ficado calado, mas já tava sem paciência e meio alterado também. Não sei exatamente qual a minha intenção, eu só sei que quero ela. Quero pra caralho, e isso tá me torturando.
Passei o resto da noite bolado. Quando deu meia noite, comemos e eles ficaram jogando conversa fora, mas 1h da manhã eu já tinha ido dormir com a desculpa de que não estava me sentindo bem.
∆
não vou mentir, eu amo escrever eles brigando, mas essa discussãozinha doeu 💔agora a gente vai entrar numa fase mais sentimental, como vocês já perceberam hihi
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Marginal
Teen Fiction[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...