Julia narrando
Vovó pediu que os seus netos passassem a noite com ela e eu não consegui negar. Em pouco tempo ela não estaria mais lá, então achei melhor aproveitar. Meus pais trouxeram algumas das minhas coisas, como escova, roupa de dormir e tal, eles dormiram na casa do meu tio. Tomei um banho no banheiro do quarto dela e me troquei, depois de escovar os dentes saí do cômodo.
— Ju, deita aqui. – Bateu no lugar vago ao seu lado na cama. – Quero dormir com vocês. Bem juntinhos.
Sorri e me deitei, a abraçando, logo depois Thiago e Gustavo entraram no quarto, apagaram a luz e se deitaram com a gente. Tava muito apertado, mas tudo pra agradar a velhinha.
— Eu fico tão feliz tendo vocês aqui, pertinho, que nem dá vontade de ir embora. – Esticou os braços pela cama e tentou abraçar nós três de uma vez só.
— Não queria que a senhora fosse. – Thiago disse.
— Quero vocês me visitando todo mês, ouviram? Principalmente nessas férias, vamos fazer tudo que quiserem.
— Eu não tenho férias. – Gustavo murmurou.
— Você vai mesmo assim, não quero saber de desculpas. – Rimos. – E a Julia também. Nada de ir pro exterior. Vai pro meu barraco sim, vamos pra praia todos os dias, comer farofa e frango assado.
— Caralho vó, praia é pra tomar água de coco. – Thiago brincou.
— Só vou te deixar falar palavrão perto de mim dessa vez, da próxima eu arrebento você. – Vovó reclamou.
— Vó, a senhora vem pro meu aniversário? – Perguntei.
— Claro que sim! Dia 5 de janeiro, né? – Assenti. – Eita, tá perto, faltam poucos dias.
— Vamo ter que misturar um churrascão na laje com uma festa de executivos. – Thiago, o piadista, ataca novamente.
— Vai ser Brahma de um lado e vinho do outro. – Gustavo entrou na brincadeira.
— A gente vai comer escargot e linguiça assada.
— Af, vocês são muito idiotas. – Reclamei.
— E você é espaçosa, chega pra lá. – Gustavo me empurrou.
— Vó, o Gustavo tá me empurrando!
— Para de empurrar ela, Gustavo. – Pediu.
— Manda ela me dar espaço então. – Ele bufou.
— Não tem como, meu filho. Somos quatro em uma cama só. – Ela afirmou e eu sorri vitoriosa, mesmo que não pudessem ver.
— Então deita de lado pelo menos, eu tô quase caindo daqui.
Fiz o que ele pediu e me deitei de lado, logo sentindo a quentura do seu corpo se aproximar. Sua mão estava próxima a minha bunda e aquilo não era muito seguro, eu não confio nele, então levantei seu braço e deitei com a cabeça por cima dele. Eu esperava alguma provocação ou piadinha sem graça, mas, em resposta, Gustavo deitou-se de lado também e puxou a minha cintura, colando os nossos corpos. Consegui ver o rosto da minha vó pelo feixe de luz que entrava pela janela e percebi que ela dormia. Thiago também.
Que situação estranha. Nós nunca tivemos um momento assim, sem malícia. Ele só está me abraçando, o que tem demais nisso? Exatamente. Nada. Estamos na mesma cama, deitados, abraçados e sem impureza alguma. Talvez tenha sido a primeira vez que eu fiquei perto dele sem sentir unicamente a malícia. Eu estava confortável, tranquila e em paz. Me senti melhor ainda ao perceber sua respiração se acalmar no meu pescoço, então notei que ele dormia.
Senti meus olhos pesarem após um bom tempo e em minutos adormeci. Quando acordei vi que estava sozinha na cama, levantei e fui até o banheiro, levando comigo minha mochila. Lá tomei banho e escovei os dentes, vesti as roupas íntimas, um short jeans e blusão branco com a foto da Monalisa estampada. Enrolei meus cabelos em um coque e saí do banheiro, indo em direção ao espelho grande que tem no quarto da minha avó. Lá comecei a aplicar base no rosto, corretivo e estava passando um gloss transparente, quando abriram a porta do quarto.
— Minha vó tá chamando você pra tomar café da manhã. – Disse Gustavo.
— Obrigada por bater na porta.
— Não acho que tenha algo mais pra esconder de mim, se é que me entende. – Riu, se apoiando no batente da porta. Eu apenas revirei os olhos. – Você só vai ali na cozinha, meu Deus, não precisa de maquiagem pra isso.
— Você diz isso porque nunca me viu de cara limpa.
— Já sim. – Respondeu convencido.
— É mesmo? Quando? – Perguntei sarcástica.
— No meu aniversário. Você tava na piscina.
— Pra isso foi criada a maquiagem à prova d'água.
— Então... você fica de maquiagem o tempo todo?
— É. – Respondi sem graça e passei a encarar o gloss em minhas mãos.
— Por quê?
— Porque sim, ué. – Segui até minha mochila, guardei minha maquiagem lá e calcei minhas havaianas.
— Porque sim não é resposta.
— Você é insuportável. – Falei enquanto saía do quarto, levando comigo meu celular.
— Eu sei disso. – Começou a me seguir. – Dizem que faz mal, sabia? Maquiagem toda hora estraga a pele.
— Onde você leu isso? – Ri.
— Em vários lugares.
— Eu pesquiso bastante sobre os produtos antes de usar e lavo muito bem o meu rosto quando vou dormir, obrigada pela preocupação.
Continuei o meu caminho, porém fui interrompida novamente. Dessa vez, ele segurou meu braço firmemente, me fazendo parar de andar. Soltei um suspiro e o encarei, cruzando meus braços.
— Por que você não gosta? – Perguntou.
— De que, Gustavo?
— De ficar sem maquiagem.
— Eu já me acostumei a usar. – Dei de ombros.
— O dia inteiro?! – Ironizou.
— É. – Desviei o olhar.
— Você não quer falar. – Franziu as sobrancelhas.
— Deixa isso pra lá, é besteira. É só maquiagem. – Dei de ombros.
— Mas não precisa, você é tão... – O interrompi.
— E eu odeio falar sobre isso. Fim.
Dei as costas, indo ao encontro da minha vó, dessa vez, sem interrupções. Dei bom dia ao chegar na cozinha, onde encontrei ela e Thiago. Peguei um pedaço de bolo e um copo de suco, me sentando no balcão junto à eles. Logo depois Gustavo entrou na cozinha.
— Vocês demoraram muito. – Thiago observou.
— Isso porque o seu irmão é chato. – Respondi revirando os olhos.
— Poxa, deve ser de família então. – Gustavo ironizou, pondo café numa xícara.
∆
sei que vcs devem estar tipo: "essa menina não tem casa não?"
é que eu tô cortando algumas coisas que escrevi há muito tempo e atualmente sinto que não se encaixam mais na história da Julia e do Gustavo. além do mais, queria mostrar mais interações deles dois, pra vcs entenderem como os sentimentos dos dois se desenvolve. é isso gente, bjs e obrigada por ler 💙

VOCÊ ESTÁ LENDO
Marginal
Ficção Adolescente[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...