Trinta e quatro

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Gustavo narrando

— Tão te procurando.

Meu pai foi direto, enquanto o resto da família dormia, eu e ele conversávamos na sala.

— Alguém disse que te viu jogando a granada na viatura. – Cruzou os braços.

— Mas não tinha ninguém por lá!

— Se foi denunciado é porque tinha, né. – Revirou os olhos.

— E agora?

— A gente tem que voltar, mas não com o mesmo carro. Vamos dar um fim nele.

— Vou caçar esse filho da puta. – Bufei.

— Não adianta ficar bolado, a gente tem que voltar ainda hoje, o mais rápido possível. Vou conversar com a Alexa, arruma as suas coisas.

Subi irritado, sem responder. Não queria ir embora. Estava há, pelo menos, 5 anos sem sair do Rio, agora não podia curtir por causa desses arrombado. Ainda fiz pouco, deveria ter socado uma granada no cu de cada um.

Puxei minha mochila e comecei a jogar as roupas lá dentro de qualquer jeito, tava tudo espalhada. Tinha cueca até na cabeceira da cama. Por esse motivo eu não trago muita coisa, já consigo fazer bagunça com uns trapo, imagine mais. Bolei um pra relaxar antes de ir embora e fiquei fumando enquanto esperava o meu pai, arrumando a mochila que eu trouxe. O zíper tava quase estourando.

— O que você fez? – Dei um pulo da cama e xinguei, essa porra aparece do nada mano.

— Caralho Julia, quer me matar?! – Coloquei a mão em cima do peito.

— Responde.

Fitei os seus pés, depois fui subindo até o rosto. Ela me olhando toda mandona, de braços cruzados e cara fechada fica uma delícia.

— Fiz o que era necessário.

— Traduzindo, arrumou problema, né? – Assenti. Ela suspirou e se apoiou no batente da porta. – Agora você vai ter que ir embora?

— Nem fui ainda, já tá com saudade? – Sorri.

— Eu te ouvi conversando com o seu pai. Quem tá atrás de você?

— Advinha.

— Não tem nem como, você caça briga com Deus e o mundo. – Dei risada.

— Confesso que eu odiei ouvir isso, mas vou ter que concordar. – Dei um trago. – São os verme.

— Por causa de ontem?

— Ontem não, né Julia, hoje. Já tinha passado de meia noite. – Brinquei.

— Gustavo, para com isso, não é hora pra ficar de gracinha! – Se irritou.

— Que isso, calma, precisa ficar bolada não. Claro que não foi por causa de ontem, eu tenho um histórico, sabia?

— Mas pra te fazerem fugir, alguma coisa você deve ter feito.

— Não tô fugindo, aprontei no Rio e tô voltando pra lá. – Dei de ombros.

— E por que não fica aqui?

— Porque lá é a minha casa, tem mais gente por mim do que contra. – Ela ficou um tempo calada, depois veio até mim e se sentou do meu lado. Pegou minha mochila e esvaziou, jogando tudo em cima da cama.

— Não vou te deixar sair daqui com essa mochila mal arrumada. – Disse e pegou uma camisa qualquer, dobrou e colocou dentro da mochila. Depois pegou a do flamengo e jogou no meu colo. – Essa você pode jogar fora.

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