Quarenta

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Gustavo narrando

Julia montou na garupa da minha moto e saímos em direção a praia de sempre. O porteiro do condomínio sempre me olha com uma puta cara de desconfiado. Ele me encara tipo: “o pai dela pode ser otário, mas eu não sou”.

— Da próxima vez eu venho de coque, essa ventania deixa o meu cabelo horrível. – Resmungou enquanto se olhava no retrovisor.

— Nada a ver, seu cabelo tá normal.

— Então quer dizer que meu cabelo normalmente é assim? – Me olhou indignada.

— Dramática. – Ri e passei o braço pelos seus ombros, lhe puxando para andar.

— Você vive pra me ofender.

— Seu cu, Julia. – Olhei pra ela irritado, depois desci os olhos pelo seu corpo. Ela usava um vestido todo colorido, gatona pra caralho.

— Grosso. – Revirei os olhos.

— Gostei do seu vestido. Primeira vez que eu vejo o pote de outro vestindo o arco íris. – Sorri malicioso e ela gargalhou.

— Tá tentando ser romântico?

— Meu amor, tentando não, eu SOU romântico!

— Até parece, Gustavo. Eu sei que na sua mente só tem safadeza.

— Quero te comer tanto quanto quero te dar flores!

— Flores você dá pra quem tá morta... – Murmurou, com um sorriso de lado e eu arregalei os olhos.

— Caralho, que isso, Julia?! – Ela começou a rir com a minha reação.

— Vamos sentar, tô cansada. – Reclamou e me puxou pra sentar na areia.

— Cansada de que?

— De andar, ué. Levantei 6h da manhã pra fazer uma caminhada.

— Acho que essa hora eu tava acordado também.

— Fazendo o que?

— Dando um jeito de achar o Túlio. – Suspirei.

— O Alê ficou muito mal quando eu contei tudo. Já tem notícias boas? Descobriu pra onde ele foi levado?

— Não e sim. Na moral, aquele pai dele é um arrombado do caralho. O maluco faz de tudo pra fuder os corre, cansei de oferecer dinheiro pra aquele merda parar de perseguir a gente mas ele não se cansa. – Bufei. – Já tô sem paciência pra ele.

— Vou fazer uma pergunta idiota, mas, por que vocês só deixam por isso mesmo? Tipo...

— Por que a gente não mata? – Interrompi.

— É, não que eu ache isso necessário, mas não parece ser o que vocês costumam fazer, sabe? – Assenti.

— Ah, mexer com verme é foda. É igual mosquito, você mata um e vem vinte pra cima. Sem contar que ele continua sendo pai do moleque que é meu irmão de consideração, não dá pra simplesmente fazer um bagulho desses.

— É, ele ficaria muito mal.

— Pois é, eu ficaria bem puto se ele matasse o meu pai também.

— Mas depende da situação. Você ficaria bravo mesmo se o seu pai estivesse perseguindo e querendo matar ele?

— Ah, sei lá, porra. – Ri. – Você ficaria?

— Você quer matar o meu pai?!

— Não, é um exemplo, carai. – Ri.

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