Trinta e três

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Julia narrando

Finalmente o último dia do ano chegou. Metas para o próximo: estudar, conseguir uma bolsa para cursar nutrição e ficar longe de problemas.

Fomos surpreendidos pela manhã com o resto da família vindo para o ano novo. Foi churrasco o dia inteiro, decidimos passar a virada na praia. Comecei a me arrumar 21h. Lavei meus cabelos e deixei secar naturalmente. Fiz uma maquiagem muito leve com um delineado que ficou lindo. Vesti um conjunto de cropped e saia vermelhos, calcei um tênis branco e fiz um penteado no cabelo. Passei meu Floratta, peguei meu celular e fui no quarto dos meus pais. Me joguei na cama deles.

— Cadê meu pai? – Perguntei pra minha mãe, que arrumava os cabelos na frente do espelho.

— No banheiro. – Respondeu. – E aí, o que vocês fizeram durante esses cinco dias?

— Praia e festa.

— Espero que não tenha bebido muito. – Me olhou séria. Abri um sorriso falso. – Bonito, hein, dona Julia?! Veio aqui só pra isso, né?

— Claro que não, quanto drama.

— Pelo menos os meninos estavam aqui. – Meu pai disse ao sair do banheiro. – Duvido que algum moleque tenha chegado perto dela com aqueles dois ao redor.

— Você que pensa. – Murmurei.

— É o que, menina?! – Me encarou sério.

— Nada, pai, vou ali, tchau.

Me levantei e saí do quarto deles ouvindo meu pai me xingar. Eu amo dizer essas coisas pra ele ficar irritado, é engraçado demais. Fui pra sala e me sentei no sofá, fiquei mexendo no insta enquanto esperava os outros. Aparentemente, só eu estava pronta. Minha avó desceu e ficamos conversando do lado de fora enquanto os outros terminavam.

Umas 23h saímos de casa. A burra aqui teve que tirar o tênis, lógico, onde já se viu ir em praia de tênis?! Fiquei descalça o resto da noite. Eu estava doida pra xingar o Gustavo, dá pra acreditar que ele passou a virada do ano de camisa do Flamengo? Tava lindo mesmo assim. Meu tio levou uma caixa de isopor com algumas bebidas, eu só consegui pensar no quanto eles dois se parecem. Até nisso.

Fiquei bebericando uma Heineken enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias, nem vi o tempo passar. Era meu primeiro ano novo com a família completa e eu não poderia estar mais feliz. Normalmente, eu passaria esse dia na casa de algum sócio do meu pai ouvindo eles falarem besteiras, mas não dessa vez, porque agora eu tenho pessoas especiais de verdade quem compartilhar esse momento. Isso me traz uma felicidade que eu mal posso descrever. Meia noite chegou, jogamos bebida pra cima, gritamos, nos abraçamos, assistimos aos fogos e fomos pra uma praça, porque a gente não aceitava se arrumar só pra ficar na praia. A partir de 1h da manhã começou a ter um show acústico, dancei muito agarradinha com a minha vó. Me deu vontade de ir no banheiro depois de um tempo, mas era longe, meu tio pediu pro Gustavo ir comigo porque tava tarde e (milagrosamente) muito parado. Thiago deu uma risadinha de deboche, mas eu belisquei ele pra parar, antes que alguém percebesse.

— Tá de vermelho por quê? Procurando amor? – Gustavo perguntou no caminho.

— Não, essa é a supertição da calcinha. Aliás, de onde você tirou essa ideia ridícula de usar camisa de time no ano novo?

— Fala mal do manto não, porra. – Me olhou irritado.

— Só não é a ocasião.

— Todas são ocasiões de usar uma camisa do mengão.

— É vermelha também, tá procurando amor?

— Não. – Lambeu os lábios e riu. – A cueca é amarela.

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