Cinquenta e cinco

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Julia narrando

Desde o início, sabia que essa coisa de "amigos" era uma ideia ruim, mas poderia ser pior, então tô tentando me conformar.

O Thiago me chamou pra um passeio de lancha no domingo, pra comemorar a nova "conquista" do Gustavo e tal. Passei a semana inteira pensando se deveria ir ou não, e decidi que talvez fosse uma boa ideia, ainda mais que é feriado de carnaval, não tem problema curtir. Acho que, de certa forma, a ausência dos nossos pais ou da nossa avó faz com que eu me sinta incapaz de evitar qualquer recaída.

No sábado, levantei da cama mais cedo. Tomei banho, vesti um maiô preto com tiras nas costas e um short igualmente preto. Deixei meus cabelos com suas ondas naturais, no rosto, passei base e delineador, ambos a prova d'água. Borrifei meu perfume e me olhei no espelho pela última vez. Peguei meu dinheiro, chave de casa, bolsa e desci.

— Julia? Onde você tá indo? – Meu pai perguntou, antes que eu abrisse a porta. Dei um suspiro e me virei.

— Passeio de lancha.

— E você vai com quem?

— Com o Alexandre. – Encolhi os ombros.

Eu não menti, né? Realmente vou com o Alê.

— E quem mais vai estar lá?

— Ah... não sei. Outras pessoas... – Cerrei os lábios e suspirei ao perceber que ele esperava uma resposta mais completa. – A Camila, o Thiago, o Túlio... o Gustavo...

Minha mãe, que estava sentada no sofá, levantou as sobrancelhas e desviou o olhar.

— Você realmente achou que eu permitiria isso? – Meu pai perguntou retoricamente e deu uma risada.

— Mas qual o problema? É carnaval. – Bufei.

— Você sabe muito bem qual é o problema. Se quiser, faz as malas agora e a gente viaja pra qualquer lugar.

— Não. – Cruzei os braços.

— Não? – Repetiu o meu ato.

— É.

— E por que não, Julia?

— Não quero.

— Filha. – Minha mãe me chamou. – Para de agir como uma criança mimada. Você nunca foi assim.

— Agora sou. – Dei de ombros e me joguei na poltrona, pegando meu celular pra avisar ao Alê que meus pais não deixaram.

— Então quer dizer que agora você faz birra quando não permitimos algo? – Complementou.

— Não sou eu que tô fazendo birra. – Ri ironicamente. – Gustavo é meu amigo, e mesmo se não fosse, é a minha vida. São as minhas escolhas.

— Quer saber? Eu vou te dar o benefício da dúvida. – Meu pai falou. – Vai lá passear com aquele bandido. Não vou proibir.

— Marcelo?! – Minha mãe repreendeu.

— Ué, ela não é a dona do próprio nariz? Não confia nas próprias escolhas? Vamos ver até onde vai sem quebrar a cara.

Após terminar de falar, ele subiu as escadas batendo o pé. Ok, por isso eu não esperava, dirigi um sorriso pra minha mãe, que ainda estava contrariada, e saí antes que ele mudasse de idéia.

Corri um pouco pra encontrar o Alê quase na saída do condomínio.

— Pensei que não viria mais. – Ele falou ao me ver correndo em sua direção.

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