Quinze

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Julia narrando

O Thiago me fez companhia. Ele tinha outros amigos na festa, mas eu não conhecia ninguém, então fiquei colada nele o tempo todo. Sozinha é que não fico. Comecei a ficar desconfortável quando nos aproximamos da minha mãe, Alexa e Jéssica. Eu não sabia nem disfarçar a vergonha.

A pior coisa do mundo é se sentir deslocada. Eu só ficava com cara de besta e concordava quando me perguntavam alguma coisa, já que tinha vergonha de entrar no assunto. A Samira chegou e ficou conversando comigo, o que me deixou menos desconfortável, já que ela é um amor. Meu pai não me deixou beber nada, então ficamos na piscina por um tempo, depois pegamos um bronzeado leve e mais tarde já estavam todos indo embora. Eu comi bastante, bebi muito guaraná, tava indo no banheiro toda hora. Já no final do churrasco consegui pegar uma cerveja escondido e coloquei no copo descartável pros meus pais pensarem que eu estava bebendo refrigerante.

Quando Samira teve que ir, fiquei colada na minha mãe o tempo todo. Os convidados já não estavam mais lá, apenas sobramos eu, meus pais, meus primos, meus tios e vovó. A família compartilhava a carne que sobrou e acabava com o resto de bebidas, já era noite, eu estava encolhida em uma espreguiçadeira, com meu corpo enrolado na toalha, morrendo de frio. Eles não paravam de conversar, eu estava doida pra ir embora, tomar um banho quente, lavar o cabelo e ficar acordada até tarde assistindo minhas séries.

Entrei com o Thiago e ficamos na sala jogando dama, só que ele era muito ladrão e ganhava toda hora. Após me derrotar pela terceira vez, ele subiu pra usar o banheiro, enquanto eu arrumava o tabuleiro. Me virei ao sentir uma mão passar pelos meus ombros e ir descendo, acariciando meu braço. Olhei surpresa pro Gustavo.

— Pode ir parando. – Peguei sua mão e a afastei de mim. – Nossos pais ou o Thiago podem aparecer aqui a qualquer momento.

— Nunca ouviu falar que escondido é mais gostoso?

— Você é muito podre! Quantas garotas tu teve a indecência de pegar hoje? Não foi o suficiente? – Ironizei, voltando a atenção novamente para o tabuleiro.

— Não. Nenhuma delas é igual a você. – Virou o meu queixo, me obrigando a olhá-lo, soltei uma risada.

— Eu não sou do tipo que acredita em qualquer coisa bonitinha que sai da sua boca. – Pisquei, tirando sua mão do meu queixo.

Tudo sobre ele me irrita. O jeito egocêntrico, a personalidade de mulherengo cafajeste, a mania de achar que eu quero ele, a beleza... Insuportável.

Gustavo me puxou e atacou os meus lábios, não o privei do contato. Ele era intenso, fazia meu corpo queimar e minha virilha formigar, sabia exatamente onde me tocar para que eu me derretesse em suas mãos. Aproveitei por alguns segundos, antes de empurrá-lo para longe quando ouvi passos se aproximando. Me sentei e voltei a prestar atenção nas damas.

— Tá tudo bem? – Thiago perguntou ao chegar na sala e me encontrar sentada bem próxima do seu irmão (o que não é muito comum de se ver).

— Sim. – Respondemos juntos com rapidez.

— Ah... ok... – Se sentou na minha frente, ainda desconfiado, do outro lado da mesa de centro. – O que vocês estavam fazendo?

— Nada. – Deixei que Gustavo respondesse.

— Tá bom então.

Ele ficou nos encarando e quando abriu a boca pra falar algo, meus pais vieram até a sala, me chamando pra ir embora. Soltei o ar preso em meus pulmões fortemente e levantei, me despedindo de todos. Entrei no banco de trás do carro e minha mãe e meu pai aparentavam estar cansados, então nem trocamos muitas palavras. Quando meu pai estacionou na garagem, fiquei feliz em entrar na minha banheira de água morna. Fechei os olhos e relaxei por alguns minutos, deixando minha mente viajar. Depois lavei os cabelos, hidratei, enrolei mais um pouquinho e finalmente saí da água.

Entrei no meu closet com o corpo já seco, passei hidratante e vesti uma calcinha preta de renda. Ela parecia um shortinho e era bem confortável. Vesti meu pijama; uma calça de moletom e camiseta branca estampada com donuts. Usei desodorante, perfume e peguei meu secador. Em poucos minutos meu cabelo já estava sedoso e todo arrumadinho. Voltei para o quarto e me joguei na cama, pegando o celular. Tinha bastante notificação, já que passei o dia fora e nem peguei no celular. Uma mensagem em especial chamou a minha atenção. Na mesma hora soube quem era, já que a foto de perfil estava visível.

Número desconhecido | 00:30
Oi?
Oooooi?
Ei
Você tá aí?

Eu | 00:34

onde você conseguiu meu número, Gustavo?

imundo | 00:40
Você é a melhor amiga do meu irmão e o celular dele não tem senha

Eu | 00:41
isso é invasão de privacidade

imundo | 00:44
Lamentável

Eu | 00:45
o que você quer?

imundo | 00:48
Tá em casa?

Eu | 00:49
tô, por que?

Ele não me respondeu mais. Cara doido, meu Deus.

Liguei o ar condicionado e coloquei um filme de terror lá na TV. Não estava com sono. Dei um pulo na cama ao ouvir batidas leves na porta da sacada. Me levantei correndo e abri as cortinas, sem acreditar no que estava vendo. Não pode ser. Sem condições.

Gustavo estava com as mãos nos bolsos do moletom e carregava aquele sorriso sarcástico na cara. Soltei um suspiro e destranquei a porta dupla de vidro, abrindo e permitindo que ele entrasse meu quarto. O energúmeno andou pelo ambiente, observando tudo, enquanto eu trancava a porta novamente.

— Que porra você tá fazendo aqui?! – Perguntei irritada. – Ficou maluco? Meus pais dormem no quarto no fim do corredor! Aliás, como você descobriu onde eu moro? E como tinha certeza que esse é meu quarto? Já pensou se...

— Eu gosto muito mais da sua voz quando você está gemendo, e não enchendo o meu saco.

— Eu tô falando sério, Gustavo!

— Você não parece estar incomodada com a minha presença. – Se aproximou, me prendendo contra a porta. Beijou o meu pescoço e eu senti todos os meus pelinhos se arrepiarem.

— Pois eu estou!

— Seu corpo diz o contrário. – Levou as mãos até minha cintura e foi subindo, até colocar uma delas na minha nuca.

— Se você não sair eu vou gritar. – Ele grudou mais os nossos corpos, aproximando seus lábios dos meus, fazendo com que minha respiração ficasse ofegante.

— Então grita.

Engoli em seco e revirei os olhos pra ele.

— Eu odeio você.

Gustavo abriu um largo sorriso no rosto.


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