Gustavo narrando
Montei na minha XJ6 e dei partida em direção a casa do Tulio. Estacionei na porta e entrei sem bater, vendo a mãe dele pular assustada e logo relaxar ao perceber que era eu.
Dona Marina estava sempre tentando proteger o filho. Sabe que a vida que ele se meteu não é fácil, ainda mais com o pai policial. Conheço muita gente que quer a cabeça dele. Tanta gente que não conseguiria contar nos dedos.
— Já pensou em bater antes de entrar? – Ironizou, enquanto carregava as roupas do filho num cesto. Eu sorri e fui ate o seu lado, deixando um beijo na sua bochecha.
— Não preciso bater. Sou de casa.
Ela riu e eu subi as escadas da casa e esmurrei a porta do quarto de Tulio. Entrei ao ouvir sua permissão e me joguei na cama, enquanto ele se namorava no espelho.
— Anda logo, mano, a gente vai atrasar.
— Que merda, Gustavo, nem horário marcado a gente tem. Deixa de frescura. – Revirou os olhos.
— É, mas eu não posso chegar tarde em casa. Meu pai tá querendo fazer um churras lá, já que o irmão dele voltou da puta que pariu, e se eu não aparecer ele me arrebenta.
— Uma pena que não vou poder ir.
— Você não foi convidado.
— Eu não preciso ser convidado. – Me olhou com ironia. – Vamos logo.
Levantei da sua cama e seguimos para o lado de fora após ele se despedir da mãe, montei na minha moto, Tulio na sua e fomos até o morro do Chapadão. O caminho era de 20min, mas chegamos em menos tempo. Ao parar na frente da boca, pude ver alguns usuários se encolherem em seus cantos. É claro, a região toda conhecia a gente. Nos aproximamos de Junin e B2, os caras que tomavam conta da biqueira de maconha, os cumprimentando.
Eu e Tulio somos responsáveis por receber o dinheiro a cada quinzena e, no fim do mês, fazer as contas e dividir o salário de cada vapor, depois separar a propina dos PM. Temos, ao todo, 15 pontos pela cidade que são NOSSOS, e mais alguns na nossa área de traficantes independentes, mas eles precisam pagar uma taxa mensal pra permanecer no nosso território. Cada biqueira nossa lucra mais de R$ 10 mil por mês, então conseguimos ao todo mais de R$ 150 mil. Parte do dinheiro vai pra polícia, outra parte pra comprar droga e continuar vendendo, outra parte pros vapores, outra parte pra ajudar algumas pessoas da comunidade e o resto pra gente, que comanda. Normalmente ficamos com uns R$ 12 mil, por aí.
— E aí, GC. – Junin falou comigo, pegando uma maleta. – Tamo vendendo bem esse mês, tem uns moleque dando trabalho pra pagar, mas isso não tá atrapalhando...
-—Tá sim. – Tulio o cortou, abrindo a maleta e checando os bolos de dinheiro.
— Por que não tão pagando? – Cruzei os braços.
— Ah mano, são uns caras novos aí que começaram agora a usar. Eles não sabem ainda no que tão se metendo.
— Mostra a eles então. Vai atrás de cada um. Ameaça a família, namorada, cachorro, sei lá, só consegue a porra o dinheiro, senão quem vai ser cobrado é você. – Mandei, voltando a fechar a maleta.
Saí dali com Tulio, indo para a próxima biqueira, depois para outra, e outra, e outra, e assim por diante. Aquilo tomou nossa manhã toda, quando eu voltei pra casa já passava das 12h. Tava uma agitação, meus parentes todos reunidos, bebendo e contando piadas sem graça. Fui tomar um banho (pra tirar o fedor de maconha do corpo) e vesti uma bermuda apenas. Calcei meu chinelo, passei desodorante e desci, respondendo as mensagens de Jéssica com um simples "oi".
Cumprimentei todo mundo ao chegar no fundo da casa, onde meu pai e o irmão dele cuidavam da carne ao redor da churrasqueira. Não tinha ninguém de fora da família. Pedi bença aos meus avós e peguei uma lata de cerveja, me sentando perto da piscina. Continuei mexendo no celular. Senti minha lata secando e fui na cozinha procurar mais, onde vi Thiago e minha QUERIDA prima conversando.
— Mas você falou sobre isso com ela, Thiago? – Julia perguntou. Eu ainda não sabia sobre o que eles estavam falando.
— Claro que não! Você tinha que ter visto, Ju, eu travei totalmente e fiquei olhando pra cara dela. Foi muito constrangedor.
— Claro, né, você chama a menina pra conversar e fica olhando pra cara dela. Era só falar de uma vez "Camila, eu gosto de você". Isso não dói.
— Mas um "gosto de você apenas como amigo" dói. – Quando meu irmão disse isso eu juro que apertei meus lábios pra não rir. Não acreditava no que estava ouvindo.
— Se ela te visse apenas como amigo vocês não teriam ficado.
— Que situação, hein Thiago, se apaixonou depois que ela tirou seu cabaço? – Não consegui segurar minha língua e acabei zoando meu irmãozinho, que me olhou puto da vida.
— Vai a merda, Gustavo.
—Sempre soube que você era o mais sentimental, mas não achei que chegaria a esse ponto. – Ri, me aproximando dele. – Pelo menos fez ela gozar?
— Isso não é da sua conta. – Julia se intrometeu.
— Tô falando com meu irmão, fica na sua.
— Fica na sua VOCÊ. Eu estava conversando com o Thiago, não deveria ter se intrometido.
Eu tinha uma raiva absurda da expressão de superioridade que aquela menina fazia toda fez que começava a soltar seus desaforos. Tinha vontade de xingar por horas. Eu odiava a forma que ela se achava a dona da razão.
— Se você pelo menos soubesse o quanto eu adoro sua voz, pararia de falar comigo. – Ameacei, enquanto me aproximava dela olhando em seus olhos da forma mais intimidadora que conseguia.
— Gustavo! Aprende a acalmar seus nervos. – Thiago empurrou meus ombros para trás.
— Não entendo a sua preocupação, irmãozinho. Por que eu perderia meu tempo brigando com essa garota pra receber um sermão e uma surra do meu pai? Ela vai embora logo mesmo. - Ironizei.
— Porque você é um merda descontrolado que se acha o dono da porra toda, mas na verdade as pessoas só te respeitam por causa do seu pai.
Mano, é sério, ela tá querendo muito me fazer perder a paciência.
— Thiago, se você não calar a boca dela, eu calo.
— É assim que funciona a sua mente? Quando alguém começa a te falar a verdade você acha que a pessoa deve se calar?
— É. É assim que funciona a minha mente. – Sorri sarcástico. – Você é uma presa fácil, Julia. Para de procurar briga com todo mundo que aparece na sua frente, uma hora você vai encontrar alguém que talvez não seja tão paciente quanto eu sou.
Bati a porta da geladeira e saí da cozinha com uma outra cerveja em mãos. Todos continuavam tranquilos comendo, mas eu só queria que eles fossem logo embora. Aquela garota é muito chata, ela me deixa puto de uma forma que ninguém consegue.
Segui o resto do dia conversando com umas mina pelo celular. Todo mundo queria dar atenção e puxar o saco das visitas (que já estavam enchendo o saco), então fiquei na minha.
∆
ai Gustavo, é tão fácil te amar e te odiar...me desculpem por não responder os comentários do capítulo 6, eu não sei o que aconteceu, o wattpad não tá mostrando onde foram comentados. deve ser um bug da plataforma.
votem e comentem vidas, tô muito feliz q tem gente lendo até aqui 💖
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Marginal
Teen Fiction[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...