[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...
Ainda deitado na minha cama, soltei um suspiro pesado. Passou uma semana desde a morte do meu avô. Meu corpo estava cansado, eu tenho acordado assim todos os dias. Meu celular não parava de vibrar com ligações da Jéssica. Essa garota é doida, na moral. Eu precisava conversar com meu pai sobre ela. Tava foda aguentar aquela mina todo dia me cobrando coisas que eu obviamente não poderia dar.
Eu não amo a Jéssica. Eu nem chego a gostar dela. O máximo que posso sentir é uma atração física, e ela nem enche meus olhos tanto assim.
Levantei da cama e me arrastei até o banheiro, tomei um banho gelado e me sequei, pegando meu celular. Abri o Instagram e fui aceitando as solicitações de quem me pedia pra seguir, olhando bem os perfis. Eu não posso compartilhar muita coisa nas redes sociais, como, por exemplo, lugares que eu visito, informações do morro, nomes de aliados, é meio chato mas dá pra aturar. Rolei um pouco pra baixo no feed e me deparei com uma foto da minha prima. Olhar pro seu rosto me deixava puto, por ela ser tão linda, e também tão desgraçada.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
jumuller opa 🌌
Na foto tinha umas 800 curtidas e uma porrada de comentários. Quando os abri, percebi que era só moleque punheteiro. Mó puxação de saco, encontrei comentários daqueles amigos dela e um do Thiago. Um bando de playboyzinho comentava também, ela nem dava atenção, só curtia.
Eu sabia que chegaria um momento no qual eu não aguentaria ficar muito perto da minha prima e, bom, ele chegou antes do previsto. Eu não tinha intenção de fazer nada, ela era gostosa e eu precisava me distrair, só abracei a oportunidade. Tínhamos o mesmo sangue mas eu não considerava incesto. Quer dizer, incesto é só entre irmãos, né? Tulio dizia que nosso caso também contava como incesto, mas eu mandei ele tomar no cu.
Prefiro acordar arrependido do que ir dormir com vontade.
Tinha passado tempo demais no meu banho, quando saí do banheiro meus dedos estavam enrugados. Sequei o corpo e vesti a cueca, logo depois uma bermuda e camisa preta lisa. Deixei minha toalha pendurada no varal e saí de casa, indo até a boca. Antes de entrar no "escritório" peguei umas gramas. Ao entrar, meu pai levantou os olhos pra mim e mandou eu sentar com o olhar.
— Tá faltando dinheiro. – Falou, enquanto eu bolava um.
— Muito? – Perguntei.
— Não, mas a gente não pode deixar isso pra lá. As vendas tavam indo bem, eu calculei a porra toda, era pra gente tirar quase 5 mil da biqueira da zona sul, mas não chegou nem a 4 mil.
— O problema é só nessa?
— É.
— Quer que eu vou lá resolver?
— Você vai perder a paciência e matar todo mundo, deixa que eu vou. – Suspirou. – Segura as pontas aí, não vou ficar lá por muito tempo.
Assenti e terminei meu cigarro um tempo depois dele ter saído. Vi que havia umas contas não acabadas ali relacionadas a uma compra, então continuei.
Meu irmão não se envolve nessas coisas, ele não gosta. O máximo que sabe é como atirar e se proteger. Ele quer virar veterinário, não posso fazer nada né. Meu pai fica orgulhoso, eu sei que no fundo ele queria que eu fosse assim também, mas não combina comigo. Prefiro a adrenalina.
Quando acabei de checar as finanças já era quase 12h, então saí do escritório e fui pra casa da minha vó comer. Ao abrir a porta da frente, a véia deu um grito, depois me xingou. Ri e fui abraçá-la.
— Gustavo, não faz uma coisa dessas comigo, eu sou idosa, porra, não posso me assustar assim.
— Ai ai, a senhora é dramática viu.
— Você chega invadindo a minha casa, é claro que eu vou estar despreparada.
— Tem o que aí pra eu comer? – Perguntei, seguindo para a cozinha com ela vindo atrás de mim. A véia ama quando alguém vem comer, odiava ficar sozinha.
— Fiz um frango com requeijão gratinado no forno. – Disse sorridente. – Já ia ligar pra Alexa vir almoçar comigo.
— Ah, é assim? Lembra só da Alexa? – Fiz drama enquanto já pegava um prato, atacando as panelas.
— Eu achei que você estaria na boca com seu pai, e o Thiago sempre chega mais tarde da escola.
— Hoje seu neto favorito está presente. – Sorri convencido e me sentei na mesa.
Minha vó fez o prato dela também e se sentou comigo, então ficamos conversando sobre assuntos vagos, o que me levou a ficar bastante tempo por lá, tempo suficiente pra comer o pudim dela quase todo. Umas 17h fui pra minha casa, tava só meu irmão lá, jogado no sofá com a TV ligada, mas mexia no celular. Subi pro quarto, tirei a roupa e tomei um banho rápido, ao sair, peguei o celular, já ligando pro Tulio.
— Fala, seu bosta. – Atendeu.
— Se arruma rápido aí, vamo roubar uma carga.
— Carai mano, tinha esquecido disso.
— Anda logo, já devem estar esperando nós lá.
Desliguei e vesti a roupa, passei desodorante, perfume e abri meu arsenal. Peguei uma M4 e uma glock, subi na moto e saí a mil. Ao chegar na pista, vi que alguns fogueteiros realmente já me esperavam. Tulio chegou minutos depois e ficamos esperando por algumas horas. A pista não estava movimentada, quando vimos o caminhão aparecer nos organizamos. Foi tudo muito rápido, quando ele estava próximo, fechamos a rua com motos e carros, o cara já sacou tudo.
Assim que parou o veículo, abri a porta e puxei o motorista de lá com agressividade. O homem que aparentava ter seus 50 anos caiu no chão, mas se levantou com velocidade ao me ver destravar a arma e apontar em sua direção.
— Por favor, não faz nada comigo, minha família tá me esperando em casa, eu preciso...
— Cala a boca. – Mandei, entrando no caminhão.
Os outros já abriam o caminho. Vi um celular em cima do banco ao lado, acendi a tela e tinha a foto de duas garotas, uma bem novinha e a outra maior. Acima da minha cabeça havia uma foto das duas também, junto à sua carteira. Quando a joguei pela janela, o homem correu e pegou do chão. Pensei em jogar o celular também, mas seria bondade demais, ele com certeza ia ligar pra polícia e aí fodia com tudo. Só dirigi pro galpão marcado.
Quando parei, desci e meu pai já veio na minha direção, com um sorriso maior que a própria cara.
— Parabéns, moleque. – Me abraçou.
Todos foram parabenizados, afinal, roubar carga de droga de um rival é extremamente revigorante. Fiquei um tempinho lá, meu pai ainda tinha muita coisa pra resolver mas eu tava morto, então fui pra casa. Coloquei as armas de volta no arsenal e me joguei na cama, em pouco tempo dormia igual uma pedra.