Marginal

Vinte e um

Julia narrando

Eu tava frustrada comigo mesma, nem acreditava que tinha deixado aquilo acontecer de novo entre eu e o Gustavo na festa. E o pior de tudo: eu gostei. Fiquei morrendo de vergonha. O que mais me incomodava era a pessoa provavelmente mais afetada com isso: Jéssica. Cara, ela sofria muito naquele relacionamento e eu ainda colaborava.

Tomei a decisão final, não deixaria mais nada acontecer entre o Gustavo e eu. Ainda assim, era preocupante, porque não diminuiu 1% do desejo que sentia e o fato dele me comer com os olhos em todos os almoços em família aos domingos não ajudava. De qualquer forma, eu evitava que ficássemos sozinhos até mesmo por 5min, apenas conversávamos o necessário. Ele é problema. Chega disso.

Duas semanas passaram, eu ia bem na escola, tirava notas boas, o ano letivo estava prestes a acabar e eu provavelmente viajaria com os meus pais. Eles sempre faziam uma surpresa para revelar o destino, só contavam quando as passagens estivessem em mãos. Thiago e Camila estavam um nojo, Alê continua naquela amizade estranha com o Tulio, Valentina entrou pro nosso grupo de amigos e tá tudo indo bem. Até mais um almoço de domingo chegar.

Após um banho delicioso, eu fui até o closet, passei hidratante corporal, desodorante e vesti minhas peças íntimas. Escolhi uma blusa branca, junto a um short da mesma cor. O dia estava quente, então eu amarrei a blusa, deixando-a mais curta. Sequei os cabelos com o secador e penteei, no rosto, apenas base e corretivo. Calcei meus clássicos vans, usei uma colônia floral e saí do quarto. Fiquei durante um tempo na sala, mexendo no celular, trocando mensagens com a Valentina.

Assim que chegamos na casa de vovó ela veio atender a porta toda sorridente, como sempre. Lhe abracei e segui para dentro a procura de Thiago. Logo de cara, no sofá, estavam Gustavo e Jéssica sentados. Fiquei durante alguns segundos parada, processando a informação, então sorri forçadamente, a cumprimentando. Ela foi educada. Já o outro do seu lado, ignorei, apesar de sentir seu olhar queimar sobre mim. Segui para o banheiro no andar de cima e, ao chegar lá, soltei o ar pesadamente. Não esperava encontrar ela ali, já que não frequentava os almoços. Enrolei bastante, arrumei o cabelo, tirei fotos zoadas, mandei mensagem pro Alê, mas eu precisava sair dali em algum momento. Então, resolvi descer.

Todo mundo já tava sentado na mesa conversando alegremente, como sempre. O único lugar sobrando – ironicamente – era ao lado do Gustavo, que mexia no celular por baixo da mesa, enquanto sua namorada conversava com Alexa. Me sentei e foquei nos meus pais, tentando saber sobre qual assunto eles conversavam. A comida foi servida e eu comecei a comer, quando senti uma mão parar na minha coxa. Engoli a comida lentamente e logo a tirei dali. Continuei com a refeição, quando percebi novamente o contato. Suspirei e olhei para o garoto ao meu lado, que tentava esconder um sorriso enquanto comia. Peguei meu celular no bolso e passei a digitar.

Eu | 13:22
não começa

O celular do Gustavo vibrou em seu colo. Ele olhou para baixo e um sorriso malicioso crescia em seu rosto enquanto lia. Continuei comendo normalmente, até sentir sua mão subir um pouco mais. Foi quando meu tio puxou assunto comigo.

— Julia, e a escola? Vai bem? – Levantei a cabeça e cocei a nuca.

— Sim, tio. – Sorri.

— Thiago tá tomando conta de você lá? – Soltei uma risada.

— Mais fácil eu tomar conta dele.

— Ihhh, quer dizer que meu moleque tá dando trabalho? – Olhou pro Thi com as sobrancelhas arqueadas. – É o quê que tá acontecendo? Tem mina envolvida nisso? – Thiago me olhou com uma cara bastante intimidadora de "não conta".