Cinquenta e seis

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Gustavo narrando

Tava curtindo o passeio, porque depois da semana que eu tive, acho que merecia uma folga. Chamei o Junin porque ele é o meu parceiro dos corre, só que o moleque inventou de trazer umas piranha, queria que o Túlio fosse também, mas ele não se sentiu muito bem e preferiu ficar em casa.

Foda que as mina ficavam em cima, e a Julia é ciumenta, eu sabia que viria treta por aí. Achei estranho não ver ela por perto, então fiquei tranquilo, quanto mais longe, menos motivos pra sentir ciúmes. Só que depois de um tempo comecei a sentir sua falta, então comecei a procurá-la.

Comecei a me preocupar quando não tava encontrando ela em canto nenhum. Desci até o banheiro e abri a porta, suspirando aliviado ao encontrar a Julia sentada no vaso.

— Tá ocupado. – Reclamou, fechando a porta de novo.

— Julia! – Chamei, abrindo a porta de novo. – O que você tá fazendo aqui?

— Pilates. – Cruzou os braços.

Respirei fundo e entrei no banheiro pequeno, fechando a porta atrás de mim.

— Você quer me matar de susto? Pensei que tinha caído da lancha e se afogado ou sei lá.

— Obrigada pela preocupação, eu sei nadar.

— O que aconteceu?

— Nada.

— E por que você tá aqui?

— Porque eu quero.

Precisei contar até dez mentalmente pra manter a paciência.

— Fala comigo, Julia. – Me abaixei na sua frente, apoiando as mãos nos seus joelhos.

— Não sou obrigada a assistir você dando corda pra aquele bando de meretriz. – Sussurrou.

— Meretriz? – Levantei as sobrancelhas e segurei uma risada.

— Aí, tá vendo, você acha graça. Sai daqui, Gustavo. – Revirou os olhos, empurrando meus ombros.

— Meu amor... – Murmurei, vendo seus ombros relaxarem. – Você não precisa ficar com ciúmes de nenhuma delas.

— Não é ciúmes. – Suspirou. – Só me incomoda.

— O que te incomoda?

— Tudo. – Seu rosto começou a ficar vermelho e eu me lembrei do quanto a Julia odeia falar sobre o que sente. – Eu odeio ver elas se oferecendo pra você, odeio saber que não tenho o direito de me incomodar com isso, e também odeio não controlar o que eu sinto.

Sua voz estava tão baixa que quase não ouvi, e confesso ter sentido uma pontada no peito. Coração filho da puta.

— Me desculpa, Julia. – Esfreguei o rosto com as mãos. – Eu não queria que as coisas fossem assim.

— Eu sei, eu também não queria, mas não é sua culpa. Eu só... preciso me controlar. – Sorriu sem graça. – Eu surtei, desculpa.

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