Oito

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Gustavo narrando

Já era noite quando começamos a ouvir os tiros vindos da rua. Meu pai e o seu irmão tinham saído mais cedo pra comprar cerveja e ainda não estavam de volta, então você poderia imaginar a situação da minha casa: crise, surto e desespero.

— Vou descer. – Meu avô murmurou enquanto destravava uma arma que pegou no cofre do meu pai.

— Não, vô, fica com elas. Eu desço. – Pedi.

— Gustavo, confia. Não é só porque eu deixei o morro que significa que estou enferrujado. – Disse pondo a mão na maçaneta. – Cuida delas.

E após dizer isso ele saiu porta afora. Eu ODIAVA aquilo. Odiava ficar em casa cuidando delas. Me sentia inútil pra caralho. Enquanto meu avô protegia a comunidade eu cuidava das moças pra ninguém invadir a casa e atacar elas. Cada uma viu.

Fechei a cara e me joguei no sofá com a arma destravada, cruzando os braços. Alexa acalmava a mulher do meu tio e Julia andava de um lado pro outro quase arrancando os próprios cabelos. Thiago estava sentado no sofá com a cabeça nas nuvens. Revirei os olhos ao perceber a situação ao meu redor. Eu sabia que ninguém nunca chegava perto da nossa casa sem morrer no caminho. Não tinha necessidade aquilo.

Levantei do sofá e fui para a janela vigiar, já que era o meu trabalho. As ruas estavam quase completamente vazias. Uma hora ou outra aparecia alguém correndo pra chegar em casa a salvo. Me preocupava um pouco com meu pai e seu irmão lá fora, mas eles saberiam se virar.

— Tudo bem, Julia, você faz meditação toda semana, sabe como lidar em situações de desespero... – Minha prima começou a falar sozinha enquanto respirava de forma pesada. Continuei olhando pra ela enquanto segurava a risada. – É só se concentrar na sua respiração. – Disse novamente ao se sentar no chão de pernas cruzadas e com as mãos nos joelhos.

Não consegui segurar a gargalhada alta quando ela fechou os olhos e puxou o ar pelo nariz com força. Ela seria uma cheiradora de pó profissional. Minha risada chamou a atenção da Julia, que me olhou já irritada.

— O que foi?! – Perguntou impaciente.

— Você é muito idiota, mano. – Passei a mão no rosto, tentando controlar a gargalhada. Ela revirou os olhos.

— Fica em silêncio, por favor. Você está me atrapalhando.

— Levanta daí, menina. Deixa de ser doida.

— Você é muito insuportável mesmo, meu Deus. Vai cuidar da sua... – Julia foi interrompida pelo som de um tiro que atingiu a janela que estava na minha frente.

Me abaixei, os outros fizeram o mesmo. Dei uma olhada rápida no meu corpo e por sorte não fui atingindo, mas a janela estava em pedaços. Fui até o outro lado da sala e olhei brevemente através da cortina, aparentemente haviam duas pessoas lá fora. Fui para frente da porta e sussurrei pro Thiago pegar uma arma e ir pro andar de cima com os outros. Ele imediatamente fez o que eu mandei. Tirei o estojo de munição do bolso e comecei a por cartuchos no carregador. Arregalei os olhos quando alguém empurrou a porta, tentando abri-la, mas eu impedi. Tentei carregar a arma mais rapidamente ainda.

— Tem alguém do outro lado. – Ouvi um sussurro.

—Empurra. – Outra pessoa respondeu.

— E se tiver armado? Além do mais, não sabemos quantos são, VG.

Esse foi o momento em que eu peguei o walkie talkie no meu bolso.

— Preciso de vapores na casa branca AGORA. – Ordenei em voz baixa.

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