Quarenta e nove

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Julia narrando

As coisas não mudaram muito depois do episódio dramático na balada. A diferença é que agora conversamos todos os dias, como amigos – e, sinceramente, é um inferno, mas não é pior que a distância de antes, então eu me conformo.

Já faz um mês desde que tudo aconteceu, eu ainda não consigo ficar perto do meu pai por mais de 10min. Minha avó me liga sempre e a Alexa também manda mensagem às vezes. Minha rotina de escola - cursinho preparatório - curso de francês tá cansativa, mas não me impede de pensar muito na vida, no quanto eu queria que as circunstâncias fossem diferentes.

Eu amo o Gustavo. Isso não é segredo, ele também me ama. Mas só amor não é o suficiente. Eu não tenho mais idade pra ficar nessa de namoradinho escondido, é gostoso e divertido, mas também é desgastante. Principalmente pra ele que, venhamos e convenhamos, é visto como vilão da história por toda a família. Não quero mais causar problemas, então é melhor deixar as coisas como estão.

Numa bela tarde ensolarada de domingo, pré carnaval, estava deitada na minha cama conversando besteira com ele.

imundo ♥ | 15:39
A véia já chegou aí?

Eu | 15:39
que véia, Gustavo?

imundo ♥ | 15:40
Puta merda...............

Eu | 15:40
fala logo

imundo ♥ | 15:41
Era surpresa af

Eu | 15:43
QUE SURPRESA?

imundo ♥ | 15:43
Minha avó tá aqui no Rio

Eu | 15:43
desde quando?

imundo ♥ | 15:44
Desde hoje ué

Na mesma hora, ouvi o toque da campainha. Saí correndo do quarto e atropelei a Clara, que que ia atender o portão. Quando vi minha avó ali saltei no seu colo.


— Julia, olha o seu tamanho, não tenho mais idade pra isso! – Reclamou e bateu levemente na minha bunda, logo desci.

— Vó, tava morrendo de saudade!

— Eu também, minha linda. Cadê o seu pai?

— Tá aí, entra.

Dei espaço, ela entrou e eu fechei o portão. Nos sentamos no sofá e ficamos conversando na espera dos meus pais. Não sabia que estava com tanta saudade da minha vó até ela chegar aqui. A Clara serviu uns sanduíches e suco, logo os ditadores chegaram.

— Mãe, que surpresa! – Ela se levantou e deu um abraço no meu pai, depois na minha mãe.

— A intenção era surpreender mesmo. Temos muito pra conversar.

— Quando você chegou? – Ele perguntou.

— Hoje de manhã, não estava nos meus planos voltar tão cedo, mas percebi que é uma urgência. – Cruzou os braços. – Que história é essa de você proibir meus netos de se aproximarem?

Meus pais suspiraram e se entreolharam.

— Mãe, não é bem assim. Você não faz ideia de como é essa "aproximação".

— E quem vai me explicar? – Correu os olhos pela sala. – Vamo, tô esperando.

— A Julia e o Gustavo tiveram um breve envolvimento... – Minha mãe entrou na conversa. – Mas já demos um jeito na situação.

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