Cinquenta e nove

556 60 101
                                        

Julia narrando

Acho que eu deveria ter bloqueado o Gustavo assim que cheguei em casa, mas passei uns dias esperando pra ver se ele iria mandar mensagem (no fundo, era o que eu queria). Depois de 5 dias, vi que não receberia nada, então bloqueei. Doeu? Doeu, mas foi necessário.

Tô realmente um lixo. Morta de tédio nesse carnaval, sem conseguir recuperar meu relacionamento saudável com os meus pais, chateada com tudo que aconteceu e com saudade dele. Alê e Valentina passaram a semana toda tentando me levar pros bloquinhos, mas não tinha um pingo de ânimo. Só tava afim de ficar em casa, assistindo série, comendo e me lamentando.

O Thiago entrou no meu quarto do nada, no meio de um episódio de Grey's Anatomy. Dei um sorriso e saltei da cama, correndo pra abraçar ele.

— Tava com saudade, feiosa. – Brincou.

— Tava nada, nem lembra de mim.

— É que você tem um primo favorito. – Revirei os olhos e fui sentar na cama, convidando ele pra sentar do meu lado.

— E aí, como você tá? O que tem feito? – Perguntei.

— Acabei de voltar de viagem, tô suave.

— Viajou e não me chamou? – Fingi indignação.

— Ia fazer o que lá? Segurar vela pra mim e pra Camila?

— Ui ui ui. – Ri. – Pra onde vocês foram?

— Fomos pra Angra, ficamos na casa da minha avó enquanto ela tá aqui.

— Que fofos! Falando em minha avó, como ela tá?

— Bem bolada contigo. – Suspirou e eu enruguei a testa. – Disse que você não foi lá dia nenhum.

— Ah... – Desviei o olhar.

— O que aconteceu, hein?

— Nada. Só acabei me esquecendo.

— Sei não, tô te achando estranha.

— Tirou isso de onde, Thiago?

— Dessa tua cara de cu aí. Brigou com o Gustavo?

— Tô com a cara de sempre. – Dei de ombros.

— Isso tem a ver com ele voltando a ser aquele merda?

— Como assim?

— É, o Gustavo tá insuportável. Grosso e escroto como sempre foi. Ele tava melhorando, mas parece que regrediu.

— Não sei qual o motivo da surpresa.

— É que foi do nada, né, Julia?! Tava me acostumando com a versão melhorada dele. – Cruzou os braços. – Cês dois parecem ioiô.

— Parecíamos. – Corrigi. – Cansei desse ciclo.

— Agora tá tudo explicado. Terminaram?

— Não tinha o que terminar. A gente era amigo, mas isso nunca deu certo, então acho melhor não sermos nada.

— Vocês complicam cada coisa...

— Eu não complico nada!

— E prefere ficar aí, mofando, ao invés de se resolver com ele?

— Sim. – Engoli em seco.

— Julia, olha o orgulho.

Dei um suspiro e mudei de assunto, começando a falar sobre a escola. Acho que ele entendeu o recado, então não ouvi mais o nome do Gustavo até que Thiago fosse embora, algumas horas depois. Só percebi que tinha dormido quando acordei às 20h da noite, já tinha passado vários episódios da série e eu acabei nem assistindo. Nunca pensei que diria isso, mas sinto falta da escola, do cursinho, de tudo que me distraía.

Fui até o meu banheiro, tirei o pijama tomei um banho frio, lavei os cabelos, escovei os dentes e me dirigi ao closet. Vesti um par de peças íntimas e coloquei meu outro pijama, depois desci pra comer alguma coisa com o cabelo enrolado na toalha mesmo. Na cozinha, preparei um sanduíche natural de peito de peru com ricota e também suco de maracujá. Quando sentei no balcão, vi minha mãe entrar na cozinha.

— Resolveu sair do cativeiro? – Murmurou e eu dei um sorriso fraco. – Achei que o Thiago aqui fosse te animar um pouco.

— Você que chamou ele?

— Sim. – Cerrou os lábios. – Vamos almoçar na casa da sua avó amanhã.

— Tá bom. – Mordi o sanduíche, engolindo com dificuldade ao pensar na tensão desse almoço.

— A gente podia ir pro shopping depois, te deixo comprar o que você quiser!

— Não tô muito afim de sair. – Franzi a testa. – Semana que vem a gente vai.

— Julia... você vai ficar assim até quando?

— Relaxa, mãe, só tô com vontade de ficar em casa.

— Você tá há muito tempo se arrastando pra lá e pra cá pela casa, com essa carinha de desânimo... eu e o seu pai estamos preocupados.

— É tédio. – Dei de ombros.

Ela ficou calada por uns momentos, me observando comer.

— Filha, isso não é por causa daquele garoto, é? – Ao ver que não teria uma resposta, continuou a falar. – Eu sei que é difícil, adolescentes são tão intensos, mas garanto que vai passar. Vocês dois são tão jovens, vão conhecer milhares de pessoas, e no futuro vão rir desse momento.

— Achei que esse assunto tivesse morrido.

— Isso não vai acontecer enquanto eu te ver nessa fossa. – Passou a mão no meu joelho. – Não quero que me veja como vilã, Julia.

— Não vejo.

— Eu só tento fazer o que é melhor pra você, eu queria te proteger, entende? – Assenti. – Não achei que te machucaria, tanto.

Novamente, permaneci em silêncio, sem saber o que responder. Ela deu um suspiro exaustivo.

— O que eu posso fazer pra me redimir com você, minha filha? – Fez carinho nos meus cabelos.

Puxei minha mãe para um abraço, apoiando a cabeça em seu ombro. Não havia algo que ela pudesse fazer. Agora é tarde. A gente não tem mais nada.

— Vou conversar com o seu pai. – Beijou o topo da minha cabeça. – Vou tentar. Prometo.


PERDOEM PELO HORÁRIO, mas tá aí. sei que tô postando tarde sempre, perdoem a mamacita 😿

MarginalOnde histórias criam vida. Descubra agora