Dezoito

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Gustavo narrando

Atirei na quinta garrafa, vendo seus cacos de vidro voarem para todos os lados. Insatisfeito, coloquei mais cinco garrafas de pé e voltei ao meu posto inicial, mirando na primeira. Eu estava puto como nunca.

Eu não conseguia tirar aquela maldita da cabeça. Não sei o porquê. Ela é linda, gostosa e, infelizmente, boa no que faz. Só fode o meu psicológico. Sem contar que é a minha prima, porra. Não quero nem imaginar o que acontece comigo se nossos pais descobrirem. Foda que enquanto eu tô aqui, atirando em garrafas de vidro pra tirar a imagem daquela garota da minha cabeça, ela está se divertindo em Nova Iorque. Caralho, Nova Iorque, pode uma coisa nessas? Ela nem está de férias. Quer dizer, não que eu não tenha dinheiro pra isso, mas é muita frescura. O que me frustra mais é que ela é a porra de uma patricinha mimada pra caralho, e nem faz o meu tipo, pra falar a verdade.

Bufei, guardando a minha arma. Peguei minha moto e fui em direção a casa da Jéssica. Toquei a campainha e ouvi um "já vai", quando o portão foi aberto, encarei a sua imagem. Vestido curto florido e chinelo.

— Amor – Sorriu. – O que aconteceu?

Lhe empurrei para dentro, fechei o portão e a beijei. Ela suspirou contra meus lábios e arranhou levemente a minha nuca.

—Tá sozinha? – Perguntei.

— Sim.

Nos direcionei até o sofá e a deitei, sem parar o beijo. Senti seus dedos puxarem minha camiseta para cima e eu a ajudei a tirá-la. Acariciei suas coxas por baixo do vestido e arrastei sua calcinha para o lado. Massageei meus dedos contra sua intimidade molhada e ela mordeu levemente o meu ombro.

Ela me puxou novamente para um beijo e eu retribuí com desejo, sentindo minha calça já apertada. Abri o botão e o zíper com a respiração ofegante, logo depois tirei seu vestido, massageei seus seios descobertos. Jéssica soltou um suspiro e eu olhei para o seu rosto, parando imediatamente.

Me afastei dela, sentando no sofá.

— Amor, tudo bem? – Perguntou, abraçando meus ombros.

—Tudo, é que... Olha, foi mal, mas eu preciso ir embora. – Falei abotoando minha calça, logo depois vesti minha camiseta.

— Mas... o que aconteceu?

— Nada, eu só preciso ir. – Me levantei, procurando a chave da moto.

— Gustavo, tá tudo bem?

— Tá, Jéssica. – Bufei impaciente.

Eu não tava pensando nela.

Ao encontrar a chave, saí da casa dela e montei na moto. Peguei meu celular, digitei a senha e procurei imediatamente o contato da pessoa que eu sempre vou atrás quando desconfio que talvez eu esteja numa situação ruim, ao encontrar, liguei pra ele. O filho da puta do Tulio não atendeu, liguei de novo e dessa vez rejeitou a ligação, soltei um suspiro, liguei a moto e pilotei até a casa da minha avó.

Entrei sem bater, como sempre, e sorri ao ver ela distraída no sofá, mexendo numa caixa.

— Opa! – Gritei, vendo ela dar um salto assustada.

— Para de me assustar! – Reclamou. Dei risada e fui sentar do seu lado.

— O que é isso?

— Umas coisas que eu não sabia onde guardar. – Disse, voltando o olhar pra caixa. Tirou de lá uma foto minha de uns seis anos atrás. – Olha como você era lindo.

— Então tá falando que eu fiquei feio?

— Claro que não, eu sou linda, então os meus herdeiros precisam ser lindos também. – Ela falou e eu levantei as sobrancelhas. – Tô falando que você parecia um anjinho.

— Não pareço mais?

— Não. Parece um desvirtuado sem juízo. – Deu um tapa fraco na minha testa e eu ri.

— Eu tenho juízo. Só prefiro não usar muito, pra economizar. – Pisquei.

— Juízo é uma coisa que a gente precisa usar sem pena. – Continuou com um tom de aconselhamento.

— Olha só. – Falei, pegando outra foto da caixa pra me livrar do assunto. – A senhora também era bonitinha até.

— Bonitinha?! – Falou incrédula. – Seu avô lutou muito pra me conquistar!

— E ainda falam que eu sou narcisista.

— Você puxou isso de mim. – Bagunçou meu cabelo, depois pegou uma mantinha amarela da caixa. – Lembra disso?

— Não...

— Foi a sua primeira mantinha. Eu que comprei. – Sorriu. – Você amava. Ainda tem o seu cheirinho de bebê.

Cheirei a manta, mas não senti nada, além de cheiro de coisa velha e poeira.

— É... – Sorri fechado. Ela ficou quieta por uns instantes, depois deu um suspiro alto.

— Quando você vai ter filhos?

— Que isso, vó?! Daqui há muitos anos, com a fé em Jesus.

— Ah, eu já tô velha, né... Quero pelo menos conhecer meus bisnetos.

— Você vai conhecer minha futura filha. – Dei risada. – Só que agora não.

— Ai, Gustavo. – Revirou os olhos. – Essa sua geração é tão estranha. Ficam enrolando pra casar, pra ter filhos, pra tudo.

— Vó. – Segurei sua mão. – Eu tenho dezoito anos! Não tenho pressa nenhuma pra ter filho!

— Então quando?

— Eu não sei! – Continuei rindo.

— Fala uma data!

— Dia 30 de fevereiro. – Levantei. – Tu é uma figura, sabia?

Adoro esses diálogos com a minha avó. Nunca sei quando ela tá brincando ou falando sério. Fui até a cozinha, peguei um copo e enchi com suco.

— Vamo sair desse assunto de filho, palavras tem poder e eu não quero nenhum imprevisto. – Esclareci. – Vai fazer o que pro almoço de domingo?

— Não vai ter. – Suspirou, decepcionada. – O Marcelo tá viajando com a Julia e a esposa.

— E o almoço é só pra eles?

— Não, seu ciumento. Mas eu queria que estivesse todo mundo junto. A intenção é unir a família. – Explicou. – Quando eu não estiver mais aqui, vocês ainda vão ter uns aos outros.

Olhei pro copo, tentando evitar o pensamento de um dia perder a minha avó também.

— Não precisa se preocupar, da próxima vez eu faço estrogonofe pra vocês. – Deu risada.

— Então tá. – Sorri. – Não precisa chamar a Julia, ela nem vai se importar.

— Não começa a implicar com a minha menina. Ela é um anjo.

Com certeza, vó.


já ouviram falar que amor e ódio caminham lado a lado? 🤪

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