Vinte e oito

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Julia narrando

Ter aquela conversa com o Gustavo mexeu comigo. Foi a primeira vez que eu senti tanta honestidade vindo de sua parte, aquilo me desestruturou. Não consegui disfarçar o desconforto perto do resto da família, quando ele foi dormir, me senti pior. Abrimos os presentes aproximadamente às 02:30, eu estava feliz com o que tinha ganhado, mas havia uma caixa a mais com o meu nome, muito mal embrulhada por sinal. Ao abri-la, encontrei um colar de ouro branco, no pingente, havia uma miniatura de cigarro. Aquilo me fez sorrir instantaneamente, era tão simples, tão bonito e parecia ter sido tão caro. Na mesma hora pendurei no pescoço.

Eu queria ir lá no seu quarto agradecer, mas não era o momento certo, precisava dar esse tempo e espaço a ele. Dormimos na casa do meu tio, tomei um banho frio, removi a maquiagem e passei hidratante e desodorante no corpo. Vesti uma calcinha e o meu baby doll, escovei os dentes e me deitei para dormir. Era pouco mais de três da manhã, eu tava cansada, mas me revirei na cama, sem conseguir me sentir confortável. Deixei a ansiedade me vencer, me levantei, peguei o presente da minha mochila, calcei os chinelos e fui até o corredor. Olhei por baixo da porta, pra saber se a luz estava acesa ou não, mas tinha algum pano cobrindo minha visão. Girei a maçaneta e abri, a luz tava apagada, mas a janela aberta clareava o quarto. Gustavo tava sentado em um sofá, fumando o que parecia ser o milésimo beck, se for olhar para o cinzeiro. Ele me olhou de relance, depois fitou a janela aberta.

— O que você quer?

— Vai me perguntar isso todas as vezes que eu aparecer do nada? – Ele deu um suspiro.

— Fecha a porta, pro cheiro não se espalhar pela casa. A Alexa não gosta. – Fiz o que pediu, logo me toquei do porquê de ter um pano ali.

— Eu queria te agradecer pelo colar. Eu gostei muito e...

— De nada. – Me cortou.

— Não começa com a sua grosseria. Você sabe que isso não vai me tirar daqui. – Reclamei, começando a me irritar.

— Eu sei. Tu é insistente pra caralho. – Fui até ele e me sentei ao seu lado, seus olhos continuavam presos na janela.

— Comprei isso pra você. – Abri a caixa, tirando dali uma camisa do flamengo e um perfume.

— Eu já tenho esse perfume. – Deu uma risada.

— Eu sei, mas eu gosto muito dele. É uma indireta pra você não parar de usar.

Ele pegou o bilhete que tinha em cima da caixa, leu e me encarou indignado.

— "Feliz natal, seu escroto"? É esse o seu espírito natalino? – Eu dei uma risada e empurrei o seu ombro.

— Só pra deixar claro, não te acho mais tão escroto quanto achava na hora que escrevi isso.

— Eu tô me esforçando. – Se gabou.

— Tá? – Levantei uma sobrancelha e ele assentiu.

— Me desculpa pelas coisas que eu falei. – Sussurrou.

— Isso foi um pedido de desculpas? – Fingi estar chocada. – Você tá bem comunicativo ultimamente. Que estranho.

— Vai se fuder, menina. – Brincou.

— Não precisa pedir desculpas, tudo bem ser sincero. Só controla essa sua boca.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, olhando pela janela.

— E agora? – Perguntou.

— E agora o que?

— Como as coisas vão ser? Entre a gente? – Voltou seu olhar para mim, me deixando nervosa.

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