Gustavo narrando
Após o café da manhã, fiquei na sala ouvindo Julia e Thiago falarem sobre o quanto estavam animados para as férias. Minutos depois, alguém tocou a campainha e eu me levantei para atender.
— Oi amor! – Jéssica invadiu a casa e puxou meu rosto, me dando um selinho.
— Quem te disse que eu tava aqui?
— Seu pai. – Sorriu.
— E o que você quer? – Senti o olhar da Julia pesar sobre mim e vi que ela me fitava com repreensão. Soltei um suspiro.
— Ficar com você, ué. Poxa, faz tanto tempo que a gente não se vê direito. – Pôs as mãos nos meus ombros. – Você só fica naquela boca, eu sinto sua falta, sabia? – Ela nem esperou uma resposta, se virou e caminhou para dentro de casa.
Bufei e fechei a porta, a seguindo. Deus, eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo, mas dá uma aliviada nos castigos aí.
Me sentei ao seu lado no sofá e ela começou a falar com animação sobre qualquer coisa que eu não tava nem um pouco interessado em ouvir. Suspirei e olhei para o seu rosto, fazendo parecer que eu estava prestando atenção. Vovó veio da cozinha e revirou os olhos ao ver a Jéssica ali. Prendi a risada.
— Dona Helena! – Se levantou indo cumprimentá-la. – Que saudades. Como a senhora tá?
— Estou bem e você, querida? – Senti um pouco de falsidade na voz da minha avó, ela ainda deu um sorrisinho no final.
— Eu estou ótima. Comentei agora mesmo com o Gustavo sobre passarmos as férias juntos em Angra.
Hm... Comentou foi?
— Nossa, então é uma pena. Uns dias atrás fizemos planos de passar as férias juntos, só eu e meus netos. – Arregalei os olhos.
— Vó... como assim? – Perguntei.
— Ué, já esqueceu? Foi no almoço da semana passada, vocês concordaram.
No almoço da semana passada... Ah! Quer dizer no dia em que eu tava completamente focado em provocar minha prima por me achar muito lindo? Claro, lembro sim vovó. Olhei discretamente para Julia, que parecia ter tido a mesma reação que eu.
— Não esqueci não, eu só... queria confirmar a data. – Cocei a nuca.
— Vamos passar a véspera e o natal aqui com a família toda, na madrugada do dia 26 viajaremos.
Assenti em concordância. Caralho, nem tava sabendo disso. Cabo Frio não é tão longe, mas eu não tô afim de deixar meu pai sozinho aqui no morro. Desde o que aconteceu com o meu avô, eu fico preocupado, e se rolar uma invasão e eu não estiver aqui?
Pensando pelo lado bom... eu nunca viajo. É sempre a mesma rotina. Talvez seja bom conhecer a casa nova da minha avó, curtir um pouco, respirar novos ares. Meu pai vai saber como cuidar do morro.
— Poxa, amor, vou ficar com saudades! – Jéssica fez bico.
— São só alguns dias. – Murmurei.
— Vou te ligar todos os dias, tá? Não quero vagabunda nenhuma rondando você. – Sorriu e eu franzi a testa, dando risada.
— Fica tranquila, Jéssica, eu e a Julia vamos ficar de olho. – Thiago falou, dando um tapinha no meu ombro e eu olhei pra ele com as sobrancelhas levantadas. – Né não, Julia?
— É. Com certeza. – Assentiu, com um sorriso sem graça.
— Não preciso de babá. – Falei.
— Não é necessidade. É precaução. – Julia respondeu. – A gente não ia querer ver o relacionamento de vocês com problemas por causa de uma viagem em família.
— Ah, muito obrigada por sempre proteger o meu relacionamento. – Sorri com sarcasmo.
— É um prazer. – Deu de ombros e piscou um olho, depois levantou e foi pra cozinha, onde a minha avó estava. O Thiago me olhou com desconfiança.
— Por que ela piscou pra você? – Jéssica começou, cutucando o meu braço.
— Piscou?
— Piscou! – Afirmou, num tom de ciúmes.
— Nem vi.
— Ah, claro. – Cruzou os braços. – Aposto que não.
— Jéssica, não começa. Foi uma piscada normal.
— Eu não ando por aí piscando pros outros!
— A Julia pisca pra todo mundo. – O Thiago falou.
— Meu namorado não é todo mundo.
— Você não tá surtando por causa da minha prima, né?! – Suspirei.
— Não ligo pra quem ela é. Vocês nunca tiveram laço nenhum, nem se conheciam, vai dizer que ama ela como família agora? – Ironizou e eu virei o rosto, sem conseguir responder.
— Tá meio cedo pra vocês dois ficarem brigando. – Disse o meu irmão, e eu concordei.
— Se eu souber que essa mimadinha tá tendo alguma coisa contigo, eu vou dar uma surra nela, entendeu?! – Continuou.
— Não vai ser preciso. – Me irritei. – Não tenho nada com ela. Para de ser paranóica!
— Gente, o almoço tá pronto! Jéssica é a visita do dia! – Minha avó gritou do outro cômodo.
Dei o assunto como encerrado e fomos comer. Sentei entre minha avó e a Jéssica, precisava ficar perto dela pra evitar qualquer outra crise de ciúmes. Tentei agir normal, pra não gerar mais desconfiança ainda. O Thiago me olhava toda hora, e a Julia passou o almoço todo em silêncio, enquanto minha namorada não parava de tagarelar.
Depois do almoço, levei ela em casa e fui resolver meus corre. Tive que fazer umas cobranças, quando terminei, voltei pra casa e ajudei a Alexa com algumas coisas.
Finalmente a noite chegou e eu fui pro baile. Não tava tão movimentado, mas, mesmo assim, já era uma distração. A Jéssica não foi, graças a Deus, me deu uma folga. Comprei uma batida e fiquei curtindo até o Túlio chegar, ele trouxe uma mina linda, que eu não conheço (e também não faço questão), mas fiquei com ela mesmo assim.
Depois de me cansar do movimento, só fui pra casa dormir, sem nem trocar de roupa antes.
∆
o de hoje tá pago, até segunda 💙

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Marginal
Teen Fiction[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...