Cinquenta e quatro

551 61 136
                                        

Gustavo narrando

A Jéssica foi muito filha da puta em pedir pro pai invadir o morro. Não sei se ela pensa que isso tudo é uma grande brincadeira. Não queria desobedecer o meu pai, nem ignorar o pedido da Julia, mas sabia que ele tava lá atrás de mim, e não sou de correr do confronto. O tiroteio demorou pra acabar, mas estávamos em maioria, então foi de boa controlar a situação. Só que algumas coisas mudaram...

“Enquanto eu andava sorrateiramente pelos becos, tomei uma rasteira e caí. Quando consegui me recompor, dei de cara com o Gusmão na minha frente, apontando uma arma pra mim.

— Filho da puta! – Rosnou. – O que te faz pensar que você tem o direito de mexer com a minha filha?

— Sua filha é quem veio atrás de mim! – Respondi, tentando me concentrar em pontos desprotegidos do seu corpo.

— Sabe, GC, eu não tenho muitas prioridades na vida além da minha mãe e a Jéssica. Soube que ela terminou com você... e tava tudo certo. Mas ver a minha menina chegar em casa chorando hoje por sua causa... eu nunca deixaria barato.

— E decidiu vir cobrar aqui no morro? Cheio de morador e criança na rua?

— Você sabe quem eu sou?! – Me empurrou. – Eu entro nessa porra quando eu quiser! Mas meu problema é com você.

— Então vira homem e resolve comigo, ao invés de colocar vida de inocente em risco!

— Tá vendo isso aqui? – Puxou uma corrente de baixo da blusa, mostrando inúmeras pedras brilhantes. – Cada pedrinha dessa aqui representa um rival que eu já matei. E a partir de hoje, você é meu rival!

— Sou? – Levantei a sobrancelha e dei um sorriso. – Valeu pela moral.

— Isso, pode continuar cheio de marra. Eu vou beber o seu sangue como se fosse vinho, moleque.

Gusmão se aproximou e eu atirei em seu braço. Foi um movimento rápido, arriscado, poderia ter dado errado, mas minha mira foi muito boa, e ele deixou a arma cair. Ainda tentou me atacar, mas estava enfraquecido, prendi o corpo dele contra a parede pelo pescoço.

— Olha só... tu não é tão fracassado quanto eu imaginava. – Falou com dificuldade.

— Não te dá vergonha, Gusmão? – Perguntei, encostando o cano da arma no seu queixo.

— O quê?!

— Morrer pelas mãos de um moleque que tem a metade da sua idade.

Seu rosto se contorceu em raiva até que ele cuspisse na minha cara. Suspirei, dei um sorriso e atirei. Duas, três vezes. Até que não houvesse mais salvação. Larguei seu corpo no beco, indo a procura do meu pai. Eu tava sujo, fedendo a sangue, mas depois do que aconteceu com o meu avô, precisava saber que ele estava bem.

De longe pude avistar sua boca dando ordens para que proibissem a entrada ou saída do morro. Quando ia falar algo, um vapor apareceu gritando:

— O dono do Chapadão tá morto!

Troquei um olhar com o meu pai e levaram alguns segundos pra ficha cair. Eu matei o Gusmão.

MarginalOnde histórias criam vida. Descubra agora