Capítulo 41

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Gideon

Quando acordei pensei que estava sendo atacado de novo.

- Ei, sou eu! Calma. Fica quieto.

Ouvi a voz dele me fez bem.

- O que aconteceu, Kien? - Murmuro.

Então ele me contou e a minha memória foi voltando. A dor também. Ele estava cuidando de mim, então tudo bem. Fechei meus olhos e senti o cansaço me envolver. Eu precisava de descanso.

- O que você fez? - Perguntei de modo meio vago. Meio sonâmbulo.

- Já cuidei de tudo. Não se preocupe. Até das câmeras. Nada aconteceu.

- Minhas costas...

- Foi uma tentativa de assalto. Só isso. Acho melhor você descansar um pouco agora.

Eu descansei mesmo. Por duas horas.
Quando acordei meus dedos estavam dormentes e minhas costas, melhores. Percebi que estava dormindo em um amontoado de cobertores, tudo estava silencioso que suspeitei se realmente aconteceu. Mas minhas costas ainda estavam doloridas, então sim. Tudo foi real.

Quando abri a porta da saleta para ir em direção ao bar percebi que tudo estava... bem. Não totalmente bem, ainda faltava algumas garrafas de bebida nas prateleiras e tinha respingos de sangue no balcão. Mas o resto: cacos de vidro, destruição, o cheiro de álcool forte demais... tudo havia sumido. Então vi Kien. Ele segurava um balde grande e preto, um rodo e uma flanela. Não me contive, corri para envolvê-lo em um abraço apertado.

- Não quero machucar suas costas irmãozinho.

- Obrigado. - Murmurei, embargado. As lágrimas ameaçavam sair tão depressa que para contê-las tive que me esforçar até meus dedos fazerem marcas na minha palma.

- Não foi nada... Deixa eu terminar de limpar que eu te explico.

Dez minutos depois Kien me explicou: o cara foi levado para o hospital, ele desmaiou. Não tinha identidade com ele e Kien ainda não tinha informações sobre quem ele era ou quem poderia tê-lo mandando apesar de eu já ter uma ideia de quem seria esse anônimo mandante. O bar foi arrumado, as filmagens apagadas, por sorte ninguém ouviu nada. O mais importante, Kien está sem nem um arranhão.
Eu queira abraçá-lo de novo. Minhas costas me impedem de grandes movimentos, entretanto.

- Alguém ligou para mim? - Pergunto.

- Não. Estava esperando uma ligação dele? - O brilho malicioso nos olhos azuis de Kien sugerem que ele sabe perguntando de novo.

Reviro os olhos. Não acredito que estou sendo o que mais temia: Previsível. Fico sentado obedecendo às ordens. Não que eu fosse muito útil não movendo os braços direito, mas ver meu irmão fazendo tudo me deixava incomodado. Quando terminou ficamos conversando sobre os outros. Por que, minha nossa, temos dezena de irmãos e não nos vemos há dois anos!

Em determinado momento meu celular realmente tocou. Mas não era Rafael como pensei, como esperava que fosse.

- Quem é? - Kien pergunta.

- Papai. - Murmuro.

- Você tem de atender. Sabe que ele fica possesso quando o rejeitam. Ele mandou esse... idiota aqui. Tenho certeza. Só... pense no que vai dizer.

- Eu sempre penso! - Digo e atendo.

Por três segundos inteiros a ligação fica em completo silêncio, penso que tudo não passa de um engano, ele não queria falar comigo foi apenas um erro. Mas a voz ele surgiu e pareceu mais assustadora do que antes, quase posso imaginar meu pai aqui do meu lado.

- Acabei de receber a notícia de que foi atacado. Com o você está? Kien está cuidando de você, sei disso também Gideon não tente esconder nada de mim. Já provei várias vezes, você deve lembrar-se, de como é errado mentir para seu pai. Ou seus irmãos.

Minha garganta fechou e foi como se lama fosse adicionado à fórmula. Engolir me fez querer vomitar.

- Eu lembro. Não... Vou mentir.

- Muito bem. Muito bem. Então me conte o que aconteceu.

Ele sabe exatamente o que aconteceu. Ele premeditou tudo isso na cabeça antes de agir porque é assim que ele faz, meu pai manipula, ele cria e depois liberta para o mundo. Faz isso desde sempre. Então sabe se eu mentir; tomei cuidado a cada palavra, tomei cuidado a cada sílaba que falava e quando ouvia algo como "aham" ou "entendo" eu sabia que estava no caminho certo. A ligação durou torno de vinte minutos torturantes. Sem pensar, arremessei o celular na parede à frente.

- Gideon!

Deitei minha cabeça no ombro de Kien. Bom, ele pelo menos sabe que não estou para mais nada. Ficamos calados e em meio ao silêncio meu coração bate mais depressa, minhas mãos formigam quando aquela pressão volta em forma de bigorna. Meu destino nunca foi ficar com Rafael Laurent, eu nem devia tê-lo conhecido, foi um erro. Mas agora as coisas pioraram, tanto dentro de mim quanto fora. Dentro de mim por um momento pensei que as coisas estavam bem, magníficas na verdade. Então tudo estava apaixonante e depois a realidade veio à tona, as coisas ruins do mundo atrapalharam as coisas dentro de mim. Tudo é por influência afinal.

- Quer ir para meu apartamento? - Kien pergunta depois que as nuvens nubladas de pensamentos somem.

- Achei que nunca ia perguntar.

***

- Você ainda sabe cozinhar.

- Cozinhar é como... aprender a montar uma ratoeira, você se machuca das primeiras vezes. Depois pega o jeito e faz sem pensar duas vezes.

Foi um exemplo nojento, mas aceitável.

Comemos em silêncio assistindo à Netflix. Mesmo que eu não prestasse atenção, eu tinha que fingir. Mas minha mente ainda está no Gin's, e em como vou tentar explicar isso a Rafael. Assalto como meu irmão disse é uma boa opção. Só não quero que Rafael desconfie de mim, eu ainda estou em uma corda bamba com ele. Logo, logo essa corda poderia estar no meu pescoço e...

Estremeço com o pensamento. Não vou pensar nessa merda agora. Perdi meu celular, minha mente foca na tela da televisão enquanto o sono não me acalenta.

Depois de duas horas assistindo eu durmo com Kien fazendo cafuné na minha cabeça. Ele também murmurava uma música antiga que ajudava a mim e aos outros a dormir. Kien sempre foi mais pai do que irmão, e eu o amo por isso.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora