Capítulo 32

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Rafael

Davi está no quarto de hospital há quinze minutos: os cinco primeiros minutos foram o que os enfermeiros precisaram para ajustá-lo lá; mais cinco minutos e meus pais chegaram afobados e questionadores, mais dois minutos para acalmá-los e o restante dos minutos passaram-se com toda a família esperando a oportunidade de entrar no quarto para poder vê-lo.

Quando entramos, senti um frio na barriga que só acontece quando vou fazer sexo, mas dessa vez foi intenso o suficiente para que meus ombros encolhessem minimamente, alguém que me conhecesse bem — ou seja, todos —poderia ter percebido isso.

Ele estava com curativos nos olhos, curativos que pareciam com argamassa e ele em si, parecia-se com uma estátua, perfeita, loura, calma e singela em toda a sua glória angelical. Ele estava descansando e se não fosse seu peito se mexendo, apostaria que ele estava morto.

William está na poltrona bege do outro lado do quarto de hospital.

— As médicas falaram com você? — Minha mãe pergunta.

William assentiu. Não posso deixar de notar o quão gostoso ele está hoje. Mas isso não tem importância agora.

— Ele tem que ficar com os curativos por quinze dias. É o duramente de cura. Mas deu certo.

Sem querer minha mãe bate palmas, animada, mas logo para ao perceber que Davi ainda precisava descansar. Meu pai e ela abraçam-se demoradamente enquanto meus irmãos e eu apenas sorrimos. Quase não consigo sustentar meu sorriso, pois não consigo parar de pensar em qual reação Davi vai ter ao me ver, ao me ver completamente, olho a olho.

Há uma frase que diz: Olho por olho, e todos ficarão cegos; Gandhi.

Sinto um calafrio beijar minha espinha quando penso assim, tão profundamente, tão intensamente. Davi sempre foi meu irmão favorito por mais que eu tenha sido totalmente indiferente com ele todos esses anos, e o que o tornava meu favorito era o fato de que ele não enxergava. Ele não podia me ver, apenas me sentir como diz que sente e isso me agradava. Ele não poderia me olhar como os outros me olham e para mim, bastava. Agora não basta mais, porque daqui a duas semanas e um dia, ele tirará os curativos e enxergará o mundo. A mim.

Meu celular vibrou no bolso do terno cor de marfim. Tive que olhar o lembrete disfarçadamente. Trabalho.

Sai do quarto sem dizer nada a ninguém.

***

Entrei no Hot com pressa. Tive que passar na empresa e fiquei preso lá por mais de três horas já que tudo que tenho feito é adiar reuniões e jogar pastas para as gavetas. Não sou assim, mas é excitante ter duas boates no seu nome e diversão em todas elas a qualquer hora.

— Como vai, gostoso?

Olho para trás e sorrio. Elias. Ele ainda está sorrindo como um gato, achando que o poder dele sobrepuja o meu.

— Ótimo. Não achei que o veria tão cedo.

— E porque não? Eu trabalho aqui. Eu sou... seu empregado, não? — A voz dele foi sedutora e forte. Conseguiu me excitar com êxito. Mas isso não é grande coisa, até mesmo uma foto minha consegue me excitar.

— Está ocupado?

— Para você? Nunca. Aonde vamos?

— Aqui mesmo, chame uns amiguinhos.

Ele parecia decepcionado. Mas fez o que eu disse. Então, que a diversão comece.

Quando terminamos, os outros cinco garotos estavam saindo do quarto, apenas Elias continuava na cama. Quando abotoei minha calça, Elias levantou ainda nu e perguntou de cara fechada:

— Porque não vamos para sua casa?

A pergunta foi tão chocante que ri.

— Minha casa. Não levo muitas pessoas para lá. Porquê?

— Gideon foi. Ele é especial para você?

— Não. E mesmo que fosse, o levei para minha casa por urgência.

Consigo ver as engrenagens do cérebro de Elias rondando, rodando, rodando até que ele perceba o que quero dizer e não disse. Coloco meu cinto e abotoo a camiseta. Sai do quarto com Elias vindo atrás de mim, ainda nu. Ele não tem vergonha de exibir o corpo para quem quer que seja, mas isso não me impressionava tanto.

— Vamos marcar?

— Não. Mas se você quiser ir a um motel bacana, talvez eu pense na ideia.

Ele bufou e concordou.

Sai do Hot e fui em direção ao Gin's.

Encontro Gideon. Está no bar. E Ed está com ele. Fico parado apenas observando a cena. Ed tem se encontrado muito com Gideon e não posso acreditar quando ele diz que só está indo ao bar para beber.

Sem quem Ed é, sei o que ele faz, mas não sei o porquê está na cola de Gideon e o porquê os dois cochicham tanto. Eles parecem íntimos mesmo não sendo. Fico mais alguns minutos parado até ver Gideon colocar seu rosto nas mãos e olhar para Ed como se quisesse mata-lo. Não consigo ver mais do que a nuca de Ed, mas percebo que o celular dele está tocando no bolso, e que seus ombros estão eretos. Parece desconfortável o bastante para não falar mais nada.

Meu celular toca no bolso. Meu pai.

Cogito não atender à ligação, pois não quero ter mais dor de cabeça ainda mais com ele que no começo teve a ousadia de ir até o Hot para tentar me dar um sermão. Por mais que estejamos bem agora, a corda ainda é bamba e pode torar a qualquer minuto. Atendo.

— Onde está? — Ele pergunta.

— Indo para o Gin's. Não venha atrás de mim se estiver pensando nisso.

— Não estou pensando, Rafael. Só quero te dizer uma coisa. Quando você trouxe aquele rapaz aqui, nós, sua mãe e eu, o conhecemos e tudo mais... Tinha algo que eu queria falar com você.

— Pode falar.

— Pesquisei sobre esse garoto. Gideon. Não achei nada sobre ele, absolutamente nada e isso é quase impossível.

— Eu também pesquisei — revirei os olhos e apertei o telefone contra a orelha. Não acredito que meu pai está me subestimando e ainda tendo a coragem de falar isso para mim — e também não encontrei nada. Mas como você mesmo disse, é quase impossível. Quase.

— Estou percebendo pelo seu tom de voz que não quer falar disso. Certo. Só te digo uma coisa. Eu não confio nele.

E assim, meu pai desligou.

Olhei para o bar de novo. Vi Gideon sorrir para Ed, um sorriso amável, mas ainda assim, amistoso e assustador. Ed atendeu ao telefone e saiu da cadeira, e foi aí que Gideon me viu. Seu sorriso se transformou em uma careta por um único segundo, mas depois ele sorriu. Um sorriso que eu não sei o que significa. 

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora