Capítulo 56

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Rafael

O carro andava disparado pela rua escura. A rua deserta, uma rua fantasma que causava calafrios incessantes em mim. Meus dedos estão gelados e agarram com toda a força o couro do volante apenas para ter algo ao que puxar calor, em quem descontar. O pesadelo ronda minha cabeça vez ou outra, todas as vezes eu preciso chiar o nome dele para me lembrar de que ainda era algo real. Alguém vivo.

O ponto vermelho piscava na tela do meu celular e nem uma vez se moveu para longe da propriedade, isso podia ser tanto uma coisa boa como uma coisa ruim. Eu não sabia dizer o que meu peito queria dizer, eu não sabia simplesmente se eu estava com medo ou com raiva. Talvez o medo esteja sobrepujando a raiva em todos os sentindos que já não fazia tanto sentido ter a raiva correndo nas minhas veias. Sim, isso é medo, puro e desesperador medo.

A propriedade de Feliciano se destacava pelas inúmeras luzes acesas dentro de casa, o que me deu o palpite de que alguma coisa estava acontecendo ou prestes a acontecer. Parei o carro no ponto morto e abro a porta. Então paro. Confiro as coisas que trouxe comigo: Duas facas presas à cintura, dois canivetes nos bolsos um em cada, uma arma. Era o máximo que eu podia arriscar e mais um pouco.

- Aonde vai?

A voz veio do meu lado. Era fina e por um momento cogitei estar louco, muito pelo contrário. Eu estava certo quando pensei que era uma criança. Cabelos ruivos, olhos castanhos enormes e o rosto... ensanguentado.

- De onde você veio? - Proferi a pergunta alto demais. O garoto apontou para dentro da casa e um beijo gélido assombrou minha espinha. - Procuro uma pessoa. Gabriel.

Os olhos dele arregalaram-se.

- Está lá dentro. Pegaram ele. Como vamos entrar?

Pensei por um momento.

- Sua adaga está danificada - digo - pegue a última que tem dentro do meu carro. Cabo de madeira e detalhes de ouro entalhado. Você vai achar.

- Ele mandou aquela carta para você?

O tanto de perguntas que ele estava me fazendo me deixava irritado. Disse que sim e ele começou a procurar a adaga inventada. Foi o momento perfeito para que eu o trancasse lá dentro.

- Ei! Me deixa sair!

- Você fica. Não vou colocar você lá. 

- Eu acabei de sair de lá! Me solta!

Ignorei aquele rostinho contorcido de raiva e os olhos castanhos ferventes. Se eu ousasse abrir a porta mesmo que por um segundo não duvido que essa peste tentaria acertar a adaga que tem na minha coxa. Ele me lembra um pouco de mim mesmo, só que com mais raiva e ruivo.

Suas batidas na janela do carro são inúteis tanto quanto seus gritos. Ele só poderia ter saído de dois jeitos pelo portão. Passando livremente por ele, o que com certeza não é o caso e pulando. A cerca elétrica deve estar desligada. Era meu único meio também a não ser que eu quisesse usar o carro como bola de demolição.
Pulei o portão e dei duas cambalhotas antes de conseguir me equilibrar. Eu estava enferrujado no quesito de saltos e acrobacias. Me aproximei mais e mais e mais da casa, não sabia até que ponto seria seguro ou se algum momento já foi. Meu coração estava na garganta mesmo que eu estivesse animado por causa da descarga de adrenalina no meu corpo. A janela da cozinha estava escancarada e de dentro, vozes animadas, murmúrios apressados mas nem um sinal da voz de Gabriel.

As vozes ficaram mais distante e muitos passos seguiram o mesmo caminho. Então cheguei a conclusão de que não ouvir a voz de Gabriel e saber que todos estavam seguindo o mesmo caminho... ele estava em perigo. Pulei a janela com o máximo de silêncio que consegui, aonde quer que esses filhos do demônio estejam indo fazem barulho demais para notar nas solas do meu sapato batendo na cerâmica. Apressei-me, eu não tinha tempo a perder ainda mais quando estou excitado o suficiente para matar alguém.

A primeira pessoa que encontro é um rapaz que parece não ter mais do que vinte e cinco anos, ele segura uma faca do tamanho do meu antebraço. Quando me vê seus olhos arregalam até quase sair do rosto e assim consigo saber a cor deles; azuis. Não sei dizer quem avançou primeiro, o mais importante foi que ele não me acertou e que o seu corpo não emitiu nenhum estalo quando o acertei com a própria faca. Ela entrou nas suas costelas, enquanto o sangue derramava eu o coloquei no sofá. Uma trilha de sangue se formou. Não tive tempo para perguntas. Ele já estava morto. Acho que estou agindo à moda antiga; matar primeiro e perguntar depois.

Um corredor enorme se estendia à frente. Levavam a uma porta de vidro e pude ver. Gideon estava na parte de trás do jardim, cercado pela roda de irmãos e no meio junto a ele, o pai. Eu não poderia acertar todos de uma vez e acabar um por um me deixaria sem tempo. Minha mente rodou atrás de planos para elaborar, entretanto, nenhum deles parecia adequado pelo dilema: Demorar e deixar que Gabriel se machuque ou ir depressa e arriscar estragar tudo.

Então percebi. Eu estou dentro da casa de um general mafioso armado até os dentes. Sozinho.
Não consegui evitar o sorriso malicioso.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora