Capítulo 22

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Gideon

Não vi surpresa nenhuma no rosto de Elias quando botou os olhos em mim, mas isso também não me surpreendeu, já sabia que Luke contaria a todos onde estou agora. O que me deixa desconcertado é que ele está agarrado aos dois homens na entrada, sorrindo como se estivesse prestes a se tornar algum rei. Abaixei o olhar e tentei me concentrar no meu trabalho. Dion estava atendendo algumas pessoas já que ele disse que estava farto de ficar atrás do balcão onde estou agora. Em menos de um minuto Elias se joga em uma cadeira na minha frente, sorrindo como um lunático. 

- Como vai?

Tento lembrar que estou falando com a mesma pessoa que me acertou um soco. Não sorrio para ele, mas o respondo. Educação era algo que tinha mesmo com pessoas com a falta dela.

- Você sabe o que faz? 

- Porque pergunta?

Elias batuca com os dedos no balcão de madeira. A música está alta, porém não tanto como costumava ser no Hot. Aqui as pessoas eram mais civilizadas se é que é possível. Rafael passa direto por nós e o odeio mais nesse momento do que em qualquer outro. Peter aparece e fala comigo e depois vai embora, tudo muito rápido. Luke não está com ele. Elias sorriu mais ainda por algum motivo.

- Porque você é tão esquisito?

- Como é? - A raiva começa a ferver dentro de mim. 

- Você é estranho. Mas acho que sei porque está agindo assim.

- Estou ansioso para que me explique. - O encaro enquanto suas palavras em atingem em cheio.

 - Transar com nosso chefe foi só o início, ele te levou para a cama e depois enjoou de você de repente e agora você anda todo carente pelos cantos. Pensa que eu não notei quando olhou para ele de cima a baixo e ele nem mesmo notou sua presença? Você foi só uma figurinha no álbum dele assim como eu e metade de todos os idiotas naquela boate. Mas advinha, Gideon meu amigo, eu estou disposto a ser mais que uma figurinha na vida dele. Sei que vou ter que trabalhar duro para conseguir o que quero,  mas isso nunca me impediu antes e não vai ser agora que vou desistir. Você pode até ser lindo, pode até ter sua inocência e tudo que lhe favoreça, mas eu, eu meu querido, sou dez vezes melhor e não só no quesito beleza... ele disse que você não sabe ler. 

Larguei o pano que usava para limpar o balcão.

- Vá se foder. - Ronso e saio tentando conter as lágrimas. Estou a beira de um ataque de choro e não quero que ninguém me veja assim, seria vergonhoso.

Corri em direção ao depósito de novo, era lá que eu ia quando queria ficar sozinho. Mas ao abrir a porta descobrir que tinha duas pessoas quase transando lá dentro. Que droga, esse lugar aqui tem quarto, porque não os usam? Fechei a porta depois de ver o que não queria e corri na direção da saída, quando o ar da noite me atingiu foi o suficiente para meus olhos arderem e eu piscar, soltando a torrente de lágrimas que estava segurando. Não era tão difícil assim passar despercebido entre as pessoas, eu conseguia com muita facilidade, mas quando comecei a chorar atrai atenção mais do que queria. As pessoas me olharam enquanto eu passava e quando estava prestes a atravessar a rua para ir o mais distante possível da boate fui puxado com brutalidade pelo cotovelo na mesma hora em que ouvi o barulho estridente de uma buzina. Percebi no meio segundo em que alguém me segurou que ia ser atropelado sem que percebesse. 

- Você está bem? 

É a voz de Ed.

Me agarro mais ao corpo dele e assinto. As lágrimas tinham cessado, sinto o cheiro de Ed e isso me traz um misto de segurança e confusão. Não sabia que o cheiro de alguém podia ser tão memorável. Ele está agarrando meus cotovelos e percebo timidamente que estou tremendo. Quantos minutos passamos assim, não sei, mas o suficiente para que a música no Gin's aumentasse e mais pessoas chegassem. Ao me desapegar de Ed, lhe agradeci.

- Eu só estava no lugar certo na hora certa, Gideon. Mas você não parece... Exatamente... Bem.

- Pois é... Eu só estou de cabeça quente. 

- Podemos... Quer dizer, você pode... não necessariamente você e eu, só estou dizendo que...

- Que podemos sair daqui? 

Ed assentiu. Seus olhos estavam brilhantes e o cabelo louro estava entrando na frente dos olhos, senti uma extrema necessidade de tocar no cabelo dele para sentir a maciez. Me contenho, entretanto.

- Não posso. - suspiro - tenho que trabalhar. 

- Você não me ligou. 

Sinto-me enrubescer. Que droga, eu esqueci completamente disso. Agora sinto o papel que ele tinha me dado mais cedo no meu bolso, parecia um peso de consequência. Digo a ele que sinto muito e ele sorri.

- Me compense depois. - Diz. - Posso ajudar você lá dentro.

- Como faria isso? Aposto que não tem experiência com bebidas.

Nos encaramos por um tempo, havia uma tensão entre nós, quase um desafio.

- Serei seu cliente fixo, conversarei com você enquanto atende as pessoas, não deixarei que... falem... ou façam... mal a você. 

- Posso concordar com isso. Obrigado, mas você não tem obrigação nenhuma comigo.

- Você vai me compensar, eu já disse. - Ed sorri mais uma vez e juntos seguimos para dentro da boate. 

Sequei os vestígios das lágrimas.




***




Elias dançava enquanto dois homens estavam colado nele. Peter, Rafael mais alguns outros estavam em uma ampla mesa com copos de bebidas. Vez ou outra eu pegava um deles olhando para mim e Ed, Rafael principalmente. Mas fingia que não percebia, não havia nada que estressasse mais alguém do que fingir ignorar algo. Rafael não gosta de ser ignorado, talvez isso tenha a ver com seu passado ou sei lá. Continuo minha conversa com Ed, ele ri bastante, ele tem argumentos incríveis é realmente um homem interessante.

Mas ainda havia aquela fagulha dentro de mim. Uma fagulha de dor que trazia à tona a verdade. 

Queria que Rafael Laurent estivesse no lugar de Ed, fazendo a mesma coisa que ele está fazendo agora; rindo e conversando abertamente. Mas isso é um sonho impossível porque Ed e Rafael são opostos, ambos misteriosos, mas ainda assim, opostos. Odeio a mim mesmo por pensar em coisas assim. 

 - Gideon?

- Sim?

- Algum problema? Parece incomodado.

- Nenhum. Desculpe não estar prestando atenção, minha cabeça ainda é uma confusão. Preciso sair por um minuto, se você não se importar.

- Não, tudo bem. Vá. Ainda estarei aqui.

Assinto e saio de novo. Pelo canto de olho, os rapazes daquela maldita mesa ainda me olham. Fui para o ar frio de novo, mas dessa vez me encostei na parede e tratei de respirar fundo, não tinha a vontade de chorar, era só a angústia que dava pontadas no meu peito como várias agulhas. Olhei para as estrelas por um momento e repeti para mim mesmo: Lembre-se do porque você escolheu isso, Gideon. 

Repeti diversas vezes. 

Só parei de repetir quando senti ele atrás de mim, rígido e frio, a respiração soprando meus cabelos até que eu decidi olhar para seus olhos verde-azulados.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora