Rafael Laurent
Gideon estava me evitando. Não que eu tenha tentado conversado com ele, eu via como ele me observava de soslaio e de como evitava até tocar no meu ombro quando passamos pelo corredor. Outra coisa que eu tinha percebido: ele só fez isso porque estava lotado de rapazes e todos pareciam seguir seus passos, isso é de amedrontar qualquer um. Gideon estava inseguro com alguma coisa e com certeza é relacionada a mim, algo grande o bastante para fazê-lo ficar como um camundongo assustado, um tomate de tão vermelho que ficava quando me pegava olhando para ele.
Agora está na hora que eu o ajude com a leitura, mas ele não apareceu. Ele nunca falta.
Resisto a ideia de ir chamá-lo. Não aguento atrasos, nem mesmo quando são os meus. Será que a possibilidade de achá-lo sozinho em algum canto era válida? Talvez naquele quarto abandonado de antes, ele gostava de ir lá para pensar, mas eu sabia que ele não gostava quando o seguiam, ele podia não querer mais isso?
Indecisão, indecisão. Decisão.
Levantei da cadeira e antes que eu pudesse sair da sala. Gideon entra.
Estava suado e ofegante. Ele havia corrido. Corrido muito por algum motivo. Esperei até que ele acabasse.
- O que aconteceu?
- Tive que sair escondido enquanto os outros conversavam.
- Você me evitou. - Comento.
Pela primeira vez ao dia eu vejo um sorriso brotar em seu rosto. A vermelhidão vai diminuindo gradativamente e espero que ele diga o porque está sorrindo tanto.
- Você não gosta de ser evitado, gosta? - Ele não me deixa responder e continua - Você é desesperado por atenção tanto quanto um adolescente.
Algo começou a borbulhar dentro de mim. Raiva. A voz dele ainda chega até mim, mais alta, mais raivosa, até mais séria enquanto seu sorriso sumia.
- Naquela noite, eu mal pude ter certeza do que estava fazendo e...
- Está se fazendo de vítima.
- Eu fui uma vítima! Eu fui estuprado! Você não entenderia, seu idi...
Prendi seus pulsos à parede com força e velocidade. Eram pulsos finos e minha mão conseguia fechá-lo o quanto quisesse e dessa vez resolvi causa-lhe um incômodo de dor. Ele gemeu de dor perto do meu rosto e percebi que seu rosto estava quase a beira das lágrimas. Mas isso não me fez soltá-lo ou enfraquecer o aperto.
- Cuidado com suas palavras.
- Você me machucou - rosnou ele como um cãozinho que late e não morde. - o que foi? Você mesmo disse que eu odiava mentiras então estou aqui te dizendo a verdade.
- Você está louco, isso sim.
Ele tenta me chutar, o que foi um erro. Meu corpo fazia pressão contra o seu e estávamos ao lado a porta, usei uma das mãos para trancá-la e não peguei seu pulso de novo, com apenas uma mão eu ainda o conseguia manter preso à parede. Aquele incômodo borbulho ascendeu dentro de mim, agora está fervendo, ardendo.
- Qual a porra do seu problema? - Sibilo sussurrando.
Gideon tem os azuis dos olhos brilhando mais pela raiva do que pelas lágrimas.
- Me solte. Falo sério.
- Não solto.
- Me solte ou chuto seu pau.
- Gostaria de ver você tentar.
Ele ficou congelado. Percebi que a distância entre nós praticamente não existia, eu sentia os músculos quase definidos dele em mim, sentia o calor das mãos e o suor escorrendo pelos braços e eu sabia também que ele está tremendo. Acho que foi isso que me fez soltá-lo, porque percebi agora que Gideon está com medo de mim. Com medo e com asco.
A raiva explodiu, mas não direcionada a ele e sim a mim mesmo.
- Saia da porra desta sala antes que eu me arrependa do que faça. Saia!
Ele saio. Lentamente mas saiu.
Arquejei contra a parede em que ele esteve há pouco e para não destruir a sala eu simplesmente fiquei respirando fundo com os braços acima da cabeça, possesso de fúria, tanto dele quanto de mim e logo, logo será do mundo inteiro. Tranco a porta de novo e resolvo ficar em pé, gastaria minhas forças em algum momento, ficaria tão cansado que a única coisa que iria querer seria sentar-se e me afundar em trabalho. O esqueceria.
Aqueles papéis para ajudá-lo a ler que estão na minha mesa? Eu os amasso e jogo fora. Tenho vontade de colocar essa sala do avesso, mas não posso me descontrolar aqui, nunca fiz isso a não ser na minha casa e não seria por um garoto que eu faria agora.
Quatro horas depois eu finalmente me senti cansado e sentei-me. Me afundei no trabalho até a noite.
***
Eram sete e meia da noite quando decidi sair da sala.
Encontrei os garotos no salão que havia sido reformado. Uns conversavam, outros arrastavam outros homens para os quartos que fica em outro corredor agora. As luzes piscavam, o cheiro estava me aborrecendo. Não quero beber agora, nem mesmo penso nisso. Chegar perto do balcão e pedir uma bebida seria só para que eu vomitasse, absoluta. Caminho em direção a saída, talvez se eu for para casa consiga me acalmar o suficiente para beber sozinho e não deixar essa noite acabar sendo um desastre.
- Quer companhia?
Um rapaz, não muito mais alto que eu está parado em frente ao meu carro. Ele tem olhos verdes fulminantes de desejo e isso bastou para que eu aquecesse por dentro e deixasse que o desejo sobrepujasse a raiva. Que se dane a raiva, eu estou de pau duro.
Abro a porta para ele e o levo até minha casa. Não tinha frescura com coisas como "Não levo ninguém a minha cama porque ela é exclusiva e blábláblá", uma cama era uma cama e servia para dormir bem e ter um sexo forte, que se dane a exclusividade, comigo não era desse jeito, eu fazia as minhas regras e se eu quisesse, transaria nas paredes como costumo fazer. Ninguém nunca reclamou.
Ele falou muito durante o caminho, mas eu me sentia submergido, talvez afundando ou sei lá. Mal posso esperar para calar a boca dele.
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Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)
RomanceRafael Laurent é o mais novo, o mais sagaz e misterioso dos irmãos Laurent. Gideon veio de muito longe, deixou várias pessoas para trás e chegou para cumprir um objetivo difícil. Uma mistura de mistério, sexo, descobertas de sentimentos e loucura...