Capítulo 15

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Gideon

- Gente!

A voz estridente de Ken me fez revirar os olhos tão fundo que doeu. Ele só usava essa voz quando iria falar alguma fofoca e minha nossa, eu estava tão preso neste quarto que não posso evitar não ouvir.

- Josué saiu com o Diabo Sedutor.

Elias e os outros praguejaram. Eu fiquei quieto.

- Como foi isso? - Dário quis saber. Ele era um dos mais desejados, e posso saber o porque, principalmente pelos olhos chocolates brilhante e corpo definido. 

- Ele ficou plantado perto do carro dele e se jogou na hora que o viu. Eu estava por perto, uma maldição eu não ter pensado nisso primeiro.

Acho que todos pensaram nisso.

Quando o furdúncio abaixou, Ken veio até mim. Ele não era exatamente como Elias, mas também não era tão diferente. Os dois eram competitivos, fortes, bonitos e sem sombra de dúvidas, ambos tinham um olhar que fazia você gelar.
Ele sentou-se ao meu lado na cama. Não sei se todos tínhamos intimidades para abusar um da cama do outro.

- Você fez o melhor.

Assinto.

- A gente achou que não ia conseguir. Foi bem corajoso considerando que nosso chefe é o triplo do seu tamanho. Forte. Pode contar... vocês transaram?

Odeio essa pergunta tanto quanto odeio o modo como ele tenta ser confidente, compassivo.  Seria idiotice minha confiar neles. Em qualquer um, em todo caso. Já não bastassem terem me obrigado a fazer aquilo com meu chefe? Ainda espero que ele venha aqui e me rebaixe na frente de todos, afinal, eu seria digno de uma vergonha como essa.
Apenas digo que nunca pensei nisso. Ken fica com raiva, claro, mas aceita apenas isso e vai embora. Não temos a obrigação de ficarmos no Hot, muitos rapazes tem casas, se quisermos sair, nada nos impedia.
O que fazer quando você quer sair mas não sabe para onde? Levanto e penso nas minhas opções: O quarto abandonado é a única coisa que consigo pensar.

Quando chego eu fico perto da janela, a noite está tão fria que não me obriguei a abri-la. Sinto-me mal por fazer isso com ele, como pude dizer coisas tão duras como aquelas? Lembro-me exatamente como aconteceu: Após Elias ter enterrado as unhas nos meus ombros e deixado marcas eu tinha tentado deixar tudo em paz, falei para mim mesmo que iria ignorar parcialmente o meu chefe e seria só isso, ele é meu chefe, relação estritamente profissional. Mas parece que Elias pensou na mesma coisa, só que mais duramente e decidiu que eu deveria cortar as relações imediatamente. Porque eu fiz isso? Porque ele ameaçou me espancar junto dos outros, recebi três socos no estômago, por isso estava suando como um porco e ofegante como um atleta.
Bom... a corda se tora pelo lado mais fraco.

As horas se passam, a noite fica mais fria e meus pensamentos ficam mais obscuros. Meu celular toca. Tinha me esquecido completamente dele nos últimos dias. Leio algumas mensagens e faço ligações básicas, sinto que só estou tentando preencher o vazio do tédio, mas é impossível negar, eu temia o dia de amanhã. 


***




Acordei às seis e meia. Fiquei com raiva de mim mesmo porque odeio acordar cedo e não conseguir dormir mais. Bom, minha única alternativa foi ficar rondando o Hot e sair às vezes, com um chapéu e uma camisa larga para ir do outro lado da rua e comprar algo o que comer já que o dono da loja não gostava dos garotos do Hot. Bom, eu não sabia se ele me reconheceria, é como dizem, ser gay é um desafio diário. Há quem diga que isso é drama. 

Quando já estava voltando vi o carro de Rafael chegar e dele pulou Josué, com aquele maravilhoso e esbelto corpo e um sorriso que mal cabia no rosto. Pelo visto a noite dele fora ótima. Rafael não tinha expressão nenhuma, era quase um manequim de loja, apenas com a roupa do corpo. Josué o beijou antes de entrar saltitando. 

Credo. 

Não acredito que vi meu chefe beijando ele. Não sei porque, mas sempre pensei que beijos fossem ótimos e bondosos, uma coisa clichê. Mas descobri que não é bem assim, existiam muitos tipos de beijos, com malícia, com força, com vontade e os beijos que são apenas por acidente. Bom, aquele foi o beijo de Rafael e Josué já que ele o pegou desprevenido e saio antes de dos segundos se transformarem em minutos. 

Rafael me viu. É claro que ele me viu! Seus olhos parecem olhos de águias, sempre percebendo as coisas. Mas havia coisas que eu percebia também, por exemplo: seu cabelo estava desarrumado mas a camisa bem passada, o que, penso eu, quer dizer que se arrumou bem e apressou-se em sair quando Josué acordou da sua cama. Nunca vi sua cama, mas me perguntei se estava arrumada ou não. Quando chegou perto de mim, ficou a dois passos de distância e mesmo assim eu ainda sentia o cheiro forte do seu perfume. Era algo bem... memorável. 

- Você acordou primeiro?

- Infelizmente. - Murmuro.

Senti a dor no abdômen como um lembrete. Não me afastei dele entretanto, ele ainda estava falando e eu não estou prestando atenção.

- O quê?

- Perguntei se você conseguiu anotar tudo que precisam esta semana. 

- Ah... Nada muito importante. Acho que alguns pediram... espelhos. Produtos de higiene. Muitas outras coisas. 

A face dele mudou radicalmente. Não que ele estivesse sorrindo antes, nada disso, mas não era nada comparado com agora: um rosto frio e sem expressão, mas que você conseguia perceber que seus olhos estavam fervilhando de ódio. Isso fez eu ficar calado, não sei se ele gostaria se eu falasse algo. Me pergunto se ele notou na minha súbita mudança de humor desde ontem para hoje.

- Quero você na minha sala em cinco minutos.

- Mas eu pensei...

- É uma ordem. - Ele enrijece notavelmente. - Odeio atrasos. - Se foi. 

Fiquei plantado no mesmo canto sentido o gosto do café na minha boca e de um bolinho que eu comi antes querendo voltar. Droga, mil vezes droga. Acho que quanto mais tento evitá-lo mais alguma força maior o coloca para perto de mim. 

Deus, Universo ou Destino, vocês não entendem que não quero ficar perto desse homem? 



Apareci na sua sala como ordenado e a primeira coisa que ele me disse foi:

- Está atrasado três minutos. 

Isso me arrancou uma risada e um suspiro junto. Fazia o máximo para controlar o que sinto, mas quero muito rir do jeito que ele falou. 

- Me desculpe. O que precisa? 

- Sente.

O fiz.

- Agora - continua - Quero que me explique que história é essa de que foi obrigado a me evitar. 

Puta merda. 

Odeio quem quer que seja que me colocou diante desse homem. 


Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora