Capítulo 17

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Rafael Laurent

Comprar o Gin's não estava nos meus planos até eu dizer isso a Gideon. Bom, tive que comprar o lugar assim que saí do Hot, o dono do lugar não quis fechar negócio logo de cara, mas eu o convenci. O convenci em cinco minutos fazendo o oposto do que geralmente faço. O importante é que a escritura está na minha mão, não vou demitir ninguém e que as coisas por aquele lugar iriam mudar. É um lugar bonito, bem localizado, mas que tinha um histórico na minha cabeça, muito ruim. 

Quando trouxe Gideon, três dias atrás, para cá, ele ficou surpreso com o que disse.

- Como assim você... No que estava pensando quando fez isso?

Eu não havia lhe respondido. Na verdade, eu estava com raiva dele. Uma parte de minha admitira isso sem pudor nenhum: estou com raiva porque ele se deixou controlar pelo medo, negou a opção correta e fugiu, se escondeu nas sombras da sua pior decisão e mesmo que eu goste de vê-lo sorrindo, o odeio por ser tão fraco. 

Claro que nem todas as pessoas são fortes. Mas Gideon é, esse é o ponto. Ele só não quer assumir sua força e fica com medo, provavelmente ficará com medo para sempre. 

Ele havia começado bem o primeiro dia, trabalhara junto aquele rapaz que ficou com ele naquela noite; Dion. Não pude ficar todas as noites, mas acompanhei as três primeiras e agora procuro minhas chaves para aparecer no Hot antes de ir ao Gin's. Talvez eu queira mudar este nome. 

No carro, recebo literalmente, uma dezena de ligações da minha mãe e duas do meu pai: se eu não a conhecesse poderia até acreditar que não pegou o celular do meu pai e discou meu número para ver se eu atenderia. Rejeitei a todas. Pensar em falar com minha família me causa cansaço, não sei o que sentir em relação a eles, me sinto um estranho com minha própria família, um lunático que só é visto como... como isso mesmo. Talvez seja eu e toda essa torrente de sentimentos que carrego dentro de mim; quando criança tudo fora ótimo, eu sentia-me feliz e maravilhado, conhecendo pouco a pouco tudo. Na adolescência tudo mudou drasticamente,  algumas coisas perderam um pouco do sentido, comecei a gostar mais de estranhos do que dos meus próprios irmãos e as brigas, todas as discussões para mim, eram como um desafio e eu não sou de recusar nenhum desafio. Talvez sejam eles, que não se esforçam para conseguirem me entender, há apenas julgamento e isso me deixa tão furioso que tomo decisões como esta, de não falar, de não pensar, de não olhar para eles. Em um futuro longínquo eu voltaria a encarar as coisas como boas coisas e tudo estará em ordem, até mesmo meus sentimentos. 

Sentimentos são confusos e destruidores por isso, não? 

(Faço uma curva, acelero)

Acho que amo de uma forma diferente: amo meus pais, amo meus irmãos mesmo que eu nunca vá dizer isso a eles. Os amo tanto que me sinto sufocado com vontade de falar mas...

(Paro no sinal vermelho, algumas pessoas atravessam a faixa)

Não seria certo dizer que você ama alguém assim tão de repente. Eu estaria me jogando de um precipício se o fizesse, por isso a palavra está trancada no fundo da minha garganta e lá ficará. Claro que Davi já disse que me amava - Ele sempre diz -, mas mesmo para ele minhas palavras são postas no fundo do poço. 

(Tranco meus pensamentos e acelero)



***



- O que está fazendo aqui? 

Minha voz saiu com um esforço enorme. Não acredito no que estou vendo.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora