Capítulo 3

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Rafael Laurent

O tal Gideon veio à sala que estava meia hora depois. O olhar dele era como o de um gato assustado, aqueles olhos azuis estavam esgueirando-se procurando perigos nos cantos das paredes e suas bochechas ficaram levemente coradas com o tempo que levei ficando em silêncio apenas observando o fato de ele observar.

- O que eu tenho que fazer?

Minimalizo um sorriso.

- Sexo com certeza não. - Ele cora. - Você pode cuidar do bem-estar dos outros garotos, cuidar para que estejam a vontade, etc. Eu só cuido da parte burocrática e a parte divertida.

Gideon assentiu. Me aproximei dele.

- O que fazia? Antes?

- E-eu, não sei do que está falando. Senhor.

- Se não fazia sexo, se não gosta de sexo, quando era escolhido... O que fazia?

- Eu nunca era escolhido.

O rapaz olha para os cantos da sala, se nega a encarar meus olhos. Não tenho certeza se alguma vez chegou a encarar de fato.

- Sei quando as pessoas mentem, é um dom, tive anos de prática. Sei que está mentindo agora.

Não há nada que me incomode mais do que mentiras. A simplicidade dele é encantadora, meio estressante, ele só sabia gaguejar e corar e simplesmente odeio isso a não ser que seja no sexo. Ele odeia sexo, o que já me fez sentir um pouco mais de raiva dele. Espero por uma resposta.

- Não vai me responder?

- Eu só... Fugia.

Uma gota de verdade em um mar de mentiras ocultas, tenho a sensação de que esse garoto esconde mais do que diz, por trás daqueles olhos inocentes existe uma força que quero saber qual a origem. Não peço que ele fale mais nada, pelo visto ele é bom em mentir, mesmo que suas bochechas o denunciem.

- O que devemos melhorar agora?

- Dormimos em um chiqueiro.

Dou de ombros e digo:

- Faça uma lista das coisas que querem e me dê.

Gideon assente.

- Você está convidado a se retirar. - Digo. Ele cora, de novo.

O rapaz sai da minha sala. Chamar esse lugar de sala é um tremendo elogio. Terei que mudar bastante coisa por aqui, mas hoje não. Não. Hoje esse lugar estará aberto, os garotos terão trabalho e do contrário que pensei não vou me divertir como queria, pois, já tenho outros planos. Ao passar do tempo vou ignorando as ligações dos meus pais e de Davi, recebo alguns funcionários na minha sala e alguns deles até se insinuam de modo descarado, o que eu gosto. Talvez eles não pudessem fazer isso com Dylan. Meus pensamentos ficam sombrios. Lembro-me de Olavo Cart, atualmente, debaixo de sete palmos de terra. O homem era idolatrava o sexo assim como eu, mas existia um abismo entre nós que nos distinguia: ele fazia não só fazia sexo, como torturava, abusava sempre que podia. Tenho convicção de que somos diferentes. Mas às vezes tenho dúvidas, às vezes me pergunto se não só o monstro que as pessoas pensam.

A nuvem de pensamentos some quando o despertador do meu celular toca.

Já se passaram cinco horas.

Saio da sala organizando meu terno e meus pensamentos, tento parar de pensar em Olavo ou sei lá quem. Esbarro em alguém.

- Sinto muito. - Digo.

O homem parado a minha frente dá um sorriso de lado. Ele tem cabelos escuros com luzes, olhos castanhos escuros que possuem malícia. Os lábios são de uma cor vermelho natural provocante. Ele sabe que possui tamanha beleza, ele a usa como um superpoder. De imediato o reconheço. Elias Montes.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora