Capítulo 55

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Gabriel

Eu estava sufocando. Soube que não era um sonho. Alguém estava mesmo me sufocando. Abri os olhos que estavam ardendo e lacrimejando e vi Ryan em cima de mim, as mãos grandes e firmes no meu pescoço mesmo que não conseguisse fechar tudo ao redor eu senti como se pudesse. Uma coleira feita para ser mortal. O ar se fez necessário no mesmo segundo que um segundo pensamento aconteceu na minha cabeça. Eu me debatia em busca de ar e as lufadas que eu conseguia era apenas o bafo podre de Ryan. O rosto dele estava coberto pela escuridão, mas sei quem ele é assim que senti suas mãos calejadas no meu pomo de Adão, apertando, apertando...
O quarto é desprovido de objetos que eu pudesse usar como arma. Acho que Feliciano temeu botar um simples quadro no quarto com receio de que eu usasse o vidro para tirar minha própria vida. Minhas mãos eram inúteis, eu não conseguia fazer muito mais do que arranhar os antebraços musculosos de Ryan. Ele estava falando alguma coisa, algo que meu cérebro não conseguia saber quais eram as sílabas porque o ar... a porra do ar me faltava até que eu decidi me render e fechar os olhos sentindo a dor. As coisas estavam acabando... então a pressão diminuiu por um mísero segundo e eu aproveitei. Fui treinado para perceber quando minha vida dependia de um único segundo de hesitação ou coragem, eu poderia perder a chance por isso agi mais rápido que uma estrela cadente e acertei minha testa contra o nariz de Ryan. Ele urrou e ecoou como o grito da morte. O empurrei para o outro lado da cama com o que me restava de forças. O resultado foi um impacto certeiro de cara no chão e o mundo girou. Minha garganta oscilou e a bile preencheu aquele espaço. Por um curto momento pensei que iria vomitar até as tripas. Então meus calcanhares foram alcançados de surpresa. Fui puxado para trás na direção do próprio demônio que era Ryan, o rosto, eu percebi um segundo depois, estava ensanguentado e o nariz vazava toda aquela quantidade de sangue o que só podia significar que eu o quebrei com apenas um golpe. Tentei me livrar agora que tinha ar, mas mesmo assim me senti inútil com os braços tão molengas quanto às pernas. Meu corpo pedia para que eu parasse de me mover porque havia dor em todos os lugares. Mas eu tinha força de vontade e não cairia sem lutar. Viro-me, ergo uma perna com vontade e a lanço contra o queixo de Ryan e por um triz não acertei novamente aquele nariz sangrento. Ryan percebeu movimento antes que eu o tivesse feito e acabou por esquivar. Suas mãos procuraram por algo na própria cintura e o terror possuiu meu corpo quando percebi que ele ergueu uma adaga afiada e brilhante pela luz da lua.

- Não - sussurrei, a voz pálida de medo e terror - por favor.

- Queime no Inferno. - Aquele rosto sangrento me respondeu, rouco como um fantasma.

Então tudo aconteceu muito rápido. A adaga abaixou na direção do meu coração galopante e em um segundo eu vi tudo que eu mais desejava - a liberdade, o amor, a minha vida - passar a ser nada mais do que lixo. Um sonho passado antes da morte.
Mas nada aconteceu e abri os olhos para perceber que Ryan tinha congelado em cima de mim. Com uma faca enterrada na testa. Um único requisito de sangue caiu em mim antes que o corpo todo dele caísse na curva do meu ombro. O afastei de pressa e olhei para a pessoa que me salvou. Arfei o nome dele.

- Queime no Inferno. - Rafa repetiu para o corpo de Ryan que formava uma poça com o próprio sangue.

Me afastei da poça mesmo que eu já estivesse melado o suficiente para desejar desmaiar. O sangue era quente no tecido das minhas roupas mas mesmo assim abracei Rafa. Antes que ele emitisse um som incomodado.

- Obrigado. Você se arriscou demais.

- Eu tinha de fazer. Era o certo. A gente tem que sair daqui. Eu ouvi passos.

Então lembrei que Rafa foi treinado para ouvir. Não havia nada que eu quisesse no quarto... A não ser a adaga de Ryan que ainda estava na sua mão. Tive de abrir os dedos ainda quentes dele para pegar a arma e quando fiz não consegui evitar o calafrio na espinha. Disparei corredor a fora com Rafa ao meu alcance. Portas foram se abrindo e meus irmãos gritaram quando nos viram cheio de sangue. Ousei olhar para trás para ter certeza do que eu já suspeitava: Estávamos sendo seguidos.

- A porta está sempre trancada. - Rafa diz enquanto corria. - O que a gente vai fazer?

- Plano B. Entre na cozinha, pule a janela, você consegue passar por ela.

- Você também!

Senti meu peito apertar. Eu também, Rafa.

Corremos até a cozinha e eu coloquei uma cadeira perto da janela. Rafa foi rápido como um raio e conseguiu sair pelo menos ele. Então ouvi sua voz me chamando do lado de fora da casa, no jardim aonde tínhamos nos conhecido. Então fechei a janela logo depois de tirar algo no bolso e entregar para ele. Algo que o ajudaria mais tarde. Corri até a parte mais profunda da cozinha onde ficava o centro da energia, embutido na parede aqueles controles não tinham marcação. Mas o primeiro era o da cerca elétrica, tinha de ser. Não quis deixar dúvida e coloquei todos no off.

Yuri foi o primeiro a chegar. Então outros o seguiram como abelhas seguem o alvo em comum. A adaga em minha mão pareceu inútil tanto quanto se tornou. Não havia chances. Eu podia lutar e matar um, não trinta. Larguei a adaga para saber qual seria o próximo passo daquele exército. Mas nada aconteceu e desejei que Rafa tivesse conseguido pular o portão sem ter se machucado.  O corredor está lotado, só posso ir até uma pequena porta de vidro e mesmo assim não teria chances de uma fuga. A raiva borbulha nos olhos de Yuri tanto quanto dos outros. Eu tinha acendido a chama da raiva em cada um deles, a gasolina seguia uma linha e eu tacara fogo apenas no começo para que o resto se espamhasse sozinho.

- Abram espaço! Agora!

A voz dele fez meus pelos eriçarem. Quando apareceu, estava vermelho de raiva. Os olhos azuis brilhando, ferozes. Antes que eu pudesse pensar em algum tipo de defesa fui puxado pelo braço para próximo do seu rosto.

- Que se dane o acordo. Vou fazer você se arrepender do que fez, seu idiota.

Engoli em seco. Não tenho dúvidas que isso não era um blefe. Eu morreria em breve, essas palavras estavam nas entrelinhas.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora