Capítulo 49

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Vocês neste capítulo: 🤡.

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Gideon

Eu estava impossibilitado de me mexer. Meus pulsos e pescoço estavam presos. Mas não notei nisso no exato segundo em que acordei, notei, na verdade, que tive um sonho bom. Sonhei que estava no quarto de Rafael, era um dia lindo e ele acabara de sair do banho, uma toalha enrolada à cintura e um sorriso magnífico no rosto. Percebi também que não havíamos feito sexo, não sei como eu sabia daquilo eu só sabia. Dormimos juntos, como um casal. O Rafael do meu sonho estava se aproximando para me beijar e naquele momento todas as células do meu corpo pediam por aquele beijo, todas os meus nervos queriam que ele se aproximassem para que eu pudesse sentir seu calor e não me sentir tão solitário e frio. Quando nos beijamos as cores mudaram. De um amarelo do sol entrando pela janela, da cor pálida dos lençóis fazendo com minha pele brilhe, fazendo com que mais luz inunde o rosto de Rafael. Tudo isso ficou escuro com pontos amarelos, como se velas dançassem ao nosso redor, só para nós, só para que me vissem sorrir, só para que Rafael ficasse dourado. A pele dele era macia, tinha o cheiro que me acalmava, as mãos dele tinha a mesma habilidade. Eu queria tudo que ele pudesse me oferecer porque a esta altura eu sei que já sou entregue a ele, deixei de ser eu só meu quando pus os olhos nele, mesmo fingindo ser quem não sou. Enquanto mordia meu pescoço eu falava essas coisas, tudo que já pensei, todas as declarações que eu conseguia produzir estavam sendo ditas porque ele merecia. Rafael podia ter segredos, mas eu queria ser alguém que não precisa mantê-los perto dele. Seria tudo mais fácil.
Seria tudo melhor.
Eu estava me afogando com os beijos dele, minhas mãos passeavam por suas costas de um jeito tão comum que parece que já fiz isso há anos; acordando juntos, eu sorria enquanto ele ainda dormia. Os relâmpagos me assustava no meio da noite e para me acalmar eu entrava no meio dos seus braços procurando a calmaria, acariciaria suas costas até que minha digital estivesse toda marcada em um caminho confuso, só meu. Eu iria conhecer a pele dele de lá de cá assim como eu permitiria que Rafael Laurent conhecesse a minha pele, a minha mente se ele ousar. Então eu mudaria minha vida, eu deixaria as partes ruins para trás e ficaria apenas com as partes realmente boas: Kien, a família dele, ele... isso me faria feliz.

Quando o sonho ia escorrendo por meus dedos como água eu decidi dizer o resumo de todos os meus sentimentos. Não acho que ele tenha escutado. Foi o susto que levei ao acordar e perceber que estava preso. Estou de joelhos e pelo formigamento nas pernas percebo que estou assim por bastante tempo, tanto que minha coluna está doendo e ardendo. Minhas mãos pendem, inúteis. Meu pescoço está do mesmo jeito, só consigo observar uma sala escura sem nada que possa me dar um sinal de onde estou, o com quem estou. Nenhuma janela. Mas meu pai é esperto, conheço seus truques, ele nunca se arriscaria a colocar uma janela para alguém que capturou. Seria mais fácil ele pegar a única janela que este lugar possuía e construir uma parede por cima. Truques esses que fomos obrigados a aprender quando crianças, cada coisa que sei deveria agradecer ao meu pai por ter me ensinado.

Eu só queria que a sala não tivesse tão silenciosa. O silêncio parece ser a pior parte de estar sozinho, a partir dele minha mente começava a trabalhar e não de um jeito que me ajudava. Não sou daquelas pessoas que pensa, pensa, pensa e fica contente com a reflexão. Meus pensamentos me afundam, eles teriam me dominado de um jeito ruim se eu tivesse permitido. Mas agora eu me pergunto qual o motivo de lutar.

O silêncio sussurrou a resposta: Rafael.

Mesmo que sei que não consigo tento me soltar. Não acredito que vou ficar aqui nesta sala enquanto Rafael deve estar em uma bem pior, talvez com meu pai e alguns dos meus irmãos? Não importa.

Tento de todas as maneiras me libertar. Tanto que meus pulsos ficam doloridos e sem querer acabei cortando a bochecha. O gosto de sangue me deixa nauseado, o cheiro de mofo me faz ficar ainda mais doente.

Então ouvi o som de correntes. O sibilar foi como o de uma cobra gigante bem atrás de mim, pronta para dar o bote.

- Rafael? - Sussurrei para as paredes.

Nenhuma resposta. Nenhuma respiração forte demais.

Ele devia estar desacordado. Ele devia estar mais machucado do que eu estou agora. Meu pai com certeza faria algo do tipo. Consigo ouvir a voz dele: "veja ele sofrendo", " veja o que você causou para si mesmo!". Um calafrio percorreu minha espinha no exato momento em que pensei se o ferimento poderia não ser tão inocente assim. Poderia ser um corte fundo, porque conheço Rafael, ele com certeza não cairia sem lutar. Não sei se posso considerar isso uma coisa boa no momento.

Fiz uma oração silenciosa para que ele estivesse bem.

Então aquela saleta ficou em silêncio de novo. Meus joelhos já não aguentavam tanto o peso do meu corpo, eu não conseguia me mover, eu não conseguia sequer me manter acordado por muito tempo: a realidade precisava sair da minha cabeça, mas em pouco tempo eu não queria ter como dormir de novo, precisaria ficar acordado e ver o que aconteceria comigo. Ou com Rafael. Talvez eu tenha que assisti-lo morrer, ou ver a família dele toda morrer por minha causa. As crianças, a mãe dele... todos mortos e no fim só lembrarão que a culpa fora minha. Porque falhei.

Não sei quanto tempo - uma hora ou duas, não fazia tanta diferença - eu escutei mais alguns ruídos que não levaram em nada mais que absoluto silêncio depois. Soltei um suspiro derrotado porque é isso que se faz quando você perde. Você aceita.

- Gideon?

A voz dele fez com que tudo dentro de mim despertasse; abri os olhos e tentei me mexer, então percebi que ainda estava preso. Ainda deixado daquele jeito.

- Rafael! Rafael! - Gritei - Você está bem? Escute... O que aconteceu? O que meu pai fez com você?

Haviam tantas perguntas que eu queria fazer, tanta coisa que eu queria saber. Está ferido? Está morrendo? Pelo amor do santo Deus... Eu mal conseguia respirar pelo nervosismo correndo nas minhas veias como heroína. Eu me sentia alto, quase flutuando, de um jeito que me deixava nervoso.

A voz dele sumiu de novo e dessa vez não aguentei. Comecei a gritar, desesperado, minha garganta doía de tanto gritar o nome dele e o nome do meu pai. Eu só queria saber de me libertar meu pescoço e minhas mãos, ajeitar minha coluna e correr para aonde quer que os dois estejam. Existem mais salas? É algum tipo de lugar abandonado? Alguém consegue me ouvir? Duvido muito.

Meus pulsos estão doloridos demais, mal consigo me mexer. Todo o meu corpo está em chamas que machucam, em dores que são como facadas.

Então escuto passos. Ficando cada vez mais altos, mais próximos. Minha boca saliva do tanto de coisas que quero jogar no meu pai. Primeiro por sequer aparecer, por falar comigo, me procurar! Se intrometer na minha vida como se não fosse suficiente estragá-la durante a infância agora isso?

Posso começar pedindo para ele poupar a vida dos Laurent, entretanto. Talvez ele queira que eu me humilhe. Eu o faria sem pensar duas vezes apenas para ter sua palavra de que não deveria com ninguém daquela família. Eu merecia ser punido. Só eu.

Observo primeiro seus sapatos. Meu estômago revira e quero vomitar só de pensar em olhar para sua cara agora. Vou subindo o olhar, devagar, me estendendo ao máximo. Até encarar aquele rosto.
Que não é o do meu pai.

O sorriso se alarga de um jeito doentio e percebo, nauseado, que não há sequer um arranhão nele. Qualquer vestígio de que esteja ferido ou sofrendo. Na verdade, Rafael parece estar se divertindo me olhando como estou.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora