Capitulo 7

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Rafael Laurent

Apareço no Hot às oito e meia de uma sexta-feira. 

O lugar só abre agora às dez. Mas não é para gerenciar o lugar que vim, foi para buscar Gideon. Ele estava no mesmo quarto solitário de ontem à noite, refletindo. Antes de chamá-lo me perguntei no que ele tanto pensava, parecia que queria resolver um dilema, que queria resolver um quebra cabeça de dificuldade máxima. Ele se assustou quando o chamei, um pulo de susto cômico que o fez ficar vermelho até à raiz do cabelo. 

Foi então que percebi que Gideon estava pensando em algo relacionado a mim.

Não comentei com ele que percebi tão coisa. 

- Estou adequado para aonde iremos? 

O olho de cima a baixo a contragosto. Uma calça jeans velha, camisa que cobria os pulsos, tênis surrado. Se olhá-lo de longe pareceria um adolescente de rua, mas não posso fazer nada se ele é quase isso mesmo. 

- Está apresentável. Vamos.

Percebi os olhares dos outros enquanto passávamos. A inveja nos olhos daqueles homens para comigo era hilária e quando cheguei ao carro realmente ri. Gideon ficou me olhando como se não entendesse minha cabeça, mas por sorte não fez nenhuma pergunta. Não sei se tem medo de mim ou se me acha estranho, mas percebo certo questionamento dentro dos olhos dele. 

- Aonde vamos? Você ainda não me disse.

- A um lugar onde você não precisa saber o nome agora. Satisfeito?

- Nem um pouco. 

Não caio em suas provocações. Eu sei que ele queria puxar conversa mesmo que fosse à base de uma discussão. Continuo dirigindo. Sem querer acabo pensando em Davi e sei que faltam menos de uma semana para a cirurgia dele, não estou atualizado das coisas por preferência minha mesmo, disse a meu pai que queria distância deles e dos meus irmãos e agora estou pensando se devo ir porque ainda sei o nome do lugar que ele estará. Seria imprudente da minha parte. Seria burrice, em geral. Como posso pensar em ir ao hospital e ver meu irmão que era cego, enxergar e me olhar daquela maneira? Da maneira como meu pai me olha, da maneira como Kevin e Diego me olham quando pensam que não estou notando ou sem pudor às vezes. Mas eu notava muita coisa. Muita.

- Está indo muito rápido. - Gideon diz e percebo que ele está segurando o encosto do banco com força o suficiente para que seus dedos fiquem brancos. 

Estou acima do limite de velocidade. Estou adorando isso, mas tenho companhia e tenho que me controlar. Porque será que Gideon nunca me olhou com asco? Ele certamente deveria fazer isso, mas em retrospectiva eu só o conheço a quatro dias, ele terá tempo para conhecer quem realmente sou. Ele e os outros.

Dirijo por mais vinte minutos. A cada cinco minutos Gideon perguntava se estávamos chegando e eu não lhe respondia, o que o deixava vermelho de raiva. Ele demonstrava o que sentia fácil demais, era um quebra-cabeça fácil demais. Isso era divertido. 

Quando chegamos ao local - uma grande construção azul-escuro e de janelas escuras que tampavam a maior parte do som lá dentro. - eu parei o carro no meio-fio e antes de sairmos, disse a ele:

- Se correr vai levar um tiro nas costas.

- Você vai atirar em mim? - Ele pergunta com a voz monótona.

Nego. Eu não tinha uma arma aqui para fazer tal coisa.

- Há seguranças e caras ruins lá dentro. 

- Então, porque me trouxe para um lugar desses?!

- Você vai saber assim que entrarmos. Vamos. Agora.

Ele saiu do carro relutante. Andamos pelo caminho de pedras enormes e polidas no gramado bem-cuidado, encaramos dois seguranças um pouco maiores do que eu, mas não o suficiente para me fazer levantar o queixo para eles. Os dois homens, Cal e Martin, me deixaram entrar assim que me reconheceram, mas barraram Gideon com um braço em seu ombro. Ouvi quando o osso estalou de leve.

- Ele fica sobre minha responsabilidade. - Digo e puxo o outro ombro de Gideon para entrarmos.

Paramos em um corredor escuro com cheiro de desinfetante. O cheiro de drogas também estava no ar assim como o de bebidas e suor. Havia todo o tipo de gente neste lugar, todo o tipo de homem. Gideon era, no vocabulário do Gin's, "Carne nova" e aqui havia muitos, centenas de lobos famintos.

- Você precisa saber de mais três coisas.

- Que perfeito.- Murmura - já não basta saber que posso ser baleado?

- Precisa saber que, em primeiro lugar, não aceite nada que te derem a não ser eu. - Ele quis me interromper de novo e eu tampei sua boca com minha mão. - Calado. Eu ainda não acabei. - Ele bufa contra minha mão. - Segundo lugar, se for a algum lugar me avise e em último lugar, em hipótese alguma aceite um cartão roxo. 

Não dei tempo para ele saber o que seria um cartão roxo. O guiei para mais longe no corredor escuro até que minha mão que antes estava em sua boca tocou em uma porta aveludada que eu sabia que era vermelha. A abri e o som de uma música lenta e os cheiros que antes pensei me atingiram em cheio. Mas eu estava acostumado, Gideon por outro lado, ficou entorpecido. 

- Que lugar é esse?

Sorrio para o lugar. As paredes são de um tom branco que com a luz negra fica roxo. Há mesas com cadeiras coladas à parede em círculos, há um bar maior que o do Hot, uma cortina vermelha que levava aos fundos. Duas portas para o banheiro à esquerda e se você virar à direta indo naquela direção entraria em uma área onde o cheiro de cocaína era mais forte, onde haviam dançarinos e orgias se você procurar bem por uma.

- O paraíso. - Respondo.

Dou um passo e Gideon me segue. 

Pela sua expressão de choque deve estar se perguntando o porquê o trouxe até aqui, mas ele logo, logo saberia. Mas agora não. 





Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora