Capítulo 16

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Rafael Laurent

Quando dormi com Josué ele havia me dito algo. Algo que não saio da minha mente até agora. 

Ele havia dito que Gideon foi obrigado a se afastado do jogo. Perguntei o que era esse "jogo" e ele havia me explicado: um jogo competitivo onde quem possuísse meu corpo ganharia, bem, Elias havia sido o primeiro é claro. Mas não era só isso que valia, acho que ganha quem contar a história mais emocionante. Se era sobre o sexo ou o dia em geral, ele não me falou. Mas o ponto é que Gideon havia sido afastado e isso ele deixou bem claro, de uma forma tenebrosa. Eu conhecia o tom dele e sabia que algo de ruim havia acontecido. Sou um sabichão quando quero e para convencer Josué a me contar de algumas coisas dos rapazes foi preciso apenas mais uma rodada de sexo e tive que lhe pagar um boquete, mas isso foi divertido até para mim.

Parado na minha frente, Gideon se nega a falar. Ele não sabe que já sei a verdade. Eu havia lhe dado uma chance, mas ele a jogou fora. 

Contei a ele tudo que foi me contado e a medida que minhas palavras inundavam seus ouvidos ele ia enrubescendo e juro de joelhos que estou amando essa situação em que ele mesmo se colocou. Às vezes a inocência tinha preços altos e Gideon era muito inocente. Ao terminar peço que ele fale alguma coisa, não gosto quando ele fica em tanto silêncio, gosto mesmo vê-lo se atrapalhar nas palavras. 

Mas isso não acontece. Ele consegue me dar uma resposta completa, com frieza.

- Isso não era da sua conta. Não era para você me chamar aqui para falar disso, eu só não quero encrenca, droga! 

Bato com as mãos na mesa e causo um estrondo que o faz encolher na cadeira. De novo um camundongo assustado, mas agora não havia mais graça, eu sabia o quê eu queria. A verdade. 

- Fale.

- Você já disse tudo pelo visto. O que precisa saber? 

- Quero saber quem fez isso com você. Para que possam ser punidos.

Vejo algo em seu rosto, acho que seus lábios tremeram, mas não em uma risada. Algo parecido com temor. 

- Não quero que os puna. 

- Você está sendo idiota, continua com medo.

Ele nada falou. Preciso me acalmar, não são nem oito horas da manhã e estou me estressando como se estivesse em uma reunião com velhos de mente fechada. Não me canso de pensar o quanto ele está sendo idiota. Desisto da ideia dos nomes e penso em outra coisa. 

- Vou te dar três opções agora.

- Uma delas envolve dormir? 

O ignoro.

- Primeira opção: Você me conta a verdade e tudo acontece como eu quero.

Ele nega. Certo, eu já esperava por isso.

- Segunda opção: Você concorda em continuar sua rotina como antes e não vai deixar que nada o impeça. 

Ele hesita na segunda opção e vejo uma chama acender dentro dos seus olhos, então apaga-se e me deixa frustrado, de novo o seu medo. Ele nega, atônito.

- Terceira opção: Você para de ser meu assistente. 

- Vai me demitir? - Ele quase grita. 

- Não vou te colocar como garoto de programa, isso é uma escolha sua. E sei que não quer, da para ver na sua cara que não. Por isso te ofereço outro emprego. 

- Como seria esse... outro emprego?

Sinto-me mais relaxado agora. Bom, ele sabia que havia uma brecha nesta situação, todas as opções são ótimas, na minha opinião. Mas estou tentando facilitar as coisas para ele e não sei porque estou fazendo tal coisa. Quem sabe eu esteja sentindo uma afeição por ele, um intrigamento e estou testando sua coragem para saber até onde ele consegue ir. Acho que estamos começando um jogo onde um fica sabendo um pouco mais sobre o outro. 

- Seria como atendente. 

- Aonde?

- Gin's. Você conhece. 

Consigo ver a pele dos seus braços arrepiarem. Ele nega veementemente e fica corado. Consigo entender sua reação, mas eu ainda não terminei de contar-lhe tudo.

- Naquele banheiro...  

- Gideon...

- Eu... Não sei se conseguiria, minha nossa seria muita coisa para...

- Gideon! 

Mal notei quando me aproximei dele. Foi algo sem pensar, agarrei seus ombros e pude perceber o quanto ele estremeceu e se contraiu, como se ao invés de tocá-lo eu tivesse o socado. Arregacei suas mangas e pude ver a pele dele. 

- Que porra foi essa?

Haviam marcas de unhas, estava vermelho e roxo. Estava sarando, claro, mas eu diria que isso foi feito há cinco minutos. Ele tentou sair do meu aperto, mas não deixei. Quanto mais ele se debatesse pior seria para si, estava tentando não machucá-lo, mas está difícil com ele assim. 

- Pare de se debater! Isso foi eles quem fizeram?

Pela primeira vez Gideon assentiu.

- Vou fazê-los limpar o chão com a língua. - Murmuro. - Quantos contra você? 

Ele não quis responder. O larguei e andei até a porta do escritório. Dane-se o silêncio, dane-se se eles estão dormindo agora ou acordando, molengas de sono ou exaustos, irei fazê-los pagar. Todo ato havia uma consequência, nunca vou esquecer disto, mas eles ainda não aprenderam tal coisa. Hoje seria o dia. 

- Rafael! 

Gideon fechou a porta de novo e o baque foi estrondoso. Olhei para ele com tamanha raiva que Gideon quase hesitou no que iria falar. Quase. 

- Não faça nada. Não percebe que se ousar fazer alguma coisa eles irão fazer coisas piores?

- Então haverão consequências maiores. 

- E eles nunca vão parar! Coloca isso na sua cabeça! Quero paz, quero a porra da paz. Olhe... 

Ele largou a porta e ficou na minha frente, ereto como uma tábua. 

- Eu aceito a proposta. Vou superar o que aconteceu. 

- Você precisa saber de uma coisa. 

- O que seria?

Lembro-me do que iria falar anteriormente antes de ver a marcas em seus ombros. Esqueço uma parte da raiva por enquanto.

- Bryan morreu. 

O rosto dele ficou pálido. Morbidamente pálido. Seu lábio inferior tremeu levemente, notei o movimento como se eu já soubesse que iria acontecer. Sua postura mudou, ele encolheu os ombros e perguntou timidamente o que tinha acontecido.

- Ele sempre misturava as bebidas com energético. Estava com um ferimento na perna desde aquele dia. Deu no que deu, Gideon.

Dois longos minutos se passaram até ele abrir a porta. Virei-me para voltar ao trabalho quando escutei sua voz antes da porta se fechar. Ele olhava diretamente para mim, aqueles olhos azuis vidrados com um quê de divertimento. Gideon falou.

- Você aprendeu a falar meu nome. 

E saiu. 


Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora