Gideon
Quando ele foi embora eu me senti aliviado, mas não senti medo nenhum dele. Já tinha experimentado o gosto do medo nas minhas entranhas: era frio quase congelante e se você não reagisse, mesmo em um momento de desespero, ficaria congelado até a alma. Foi assim com Bryan. Lembrar que ele forçou o pênis dele na minha garganta me faz sentir dores de novo, um arranhão agudo, enjoo e nojo de mim mesmo porque ainda sinto as mãos dele em mim, sinto que se eu entrar em um quarto escuro minha pele brilhará em vermelho vivo com marcas de mãos e dedos por todos os lados.
Parei de pensar nisso, eu vomitaria a qualquer momento.
Com Rafael não foi nada disso, acho que no começo eu o achei presunçoso e nada de mais. Mas ele nunca me deu medo. Hoje quando apaguei no seu sofá tive um sonho que, olhando para o Hot acabei de lembrar.
Era noite e eu tinha saído do lugar, precisava de ar. Senti alguém atrás de mim e isso me causou medo de repente e a primeira pessoa que me veio à mente foi que Bryan estava atrás de mim para completar o que tinha começado e dessa vez, com a rua deserta, ele conseguiria. Meu corpo era chumbo, não conseguia levantar os braços para me defender. Por um segundo a sombra chegou até mim e uma mão enorme me fez virar para encará-lo. Fechei os olhos com força para não ver Bryan. Mas não era Bryan. Era Rafael. E ele estava me encarando com aqueles olhos verdes meio azuis, é difícil definir a cor dos olhos dele pois estão sempre mudando, às vezes azul, às vezes verde. Ele falou para que eu abrisse os olhos, não, não foi um pedido e sim uma ordem. Eu estava à mercê dele no sonho e fazia tudo que ele mandava, não tinha poder nenhum sobre meu corpo. Até que ele me pediu para tocá-lo e foi então que eu cai. Literalmente. Do sofá. O chão bateu com tanta força na minha cabeça que fiquei tonto por dois minutos ou mais; por isso acordei cedo, por isso não consegui mais dormir.
Suspirei e entrei no Hot. O último lugar que eu queria estar.
O lugar continuava o mesmo de ontem, mas eu estava diferente.
Vi alguns dos garotos conversando em um canto e pararam para me ver entrar. Notei com um constrangimento fulminante que minha camisa estava melada de vomito e meus sapatos de sangue seco. Não posso me dar ao luxo de jogar estas roupas fora, teria que ser uma bela de uma lavagem e depois eu teria que fingir que nada disso tinha acontecido, era melhor assim. Do que adiantaria eu denunciar Bryan se nem mesmo sabia por onde começar? Onde era o lugar? O dono, o que eu estava fazendo e com quem, as coisas que tomei e o fato de não ter nenhuma câmera? A corda sempre torava para o lado dos mais fracos e eu estou desse lado.
Caminhei até os quartos. Que finalmente foram reformados. Havia uma nova cor, novos lençóis, uma janela e, graças aos céus, um banheiro equipado adequadamente e com água quente. Entrei no banheiro e joguei a roupa no chão, deixei que a água me abastecesse de confiança e relaxamento, era disso que eu precisava. Uma coisa que eu tenho uma relação de amor e ódio durante o banho é quando penso e esses pensamentos me levam a outros e depois a outros. Rafael não era o vilão. Não o culpo por nada naquela noite, eu sou de maior, sabia que estava bebendo, sabia que meus sentidos estavam confusos e sabia, desde o momento que o vi que Bryan não era confiável, mas ignorei isso e deu no que deu.
Quando sai do banheiro peguei minha roupa limpa e me vesti. Sequei os cabelos. Então comecei a tossir e sangue escorreu da minha boca. Minha garganta ardia como o inferno e eu estava congelado no lugar, como sabia que o medo fazia. Não acredito que aqueles minutos foram suficiente para deixarem-me assim. Cuspi o gosto metálico na pia e passei três minutos colocando água na boca. Só depois saí.
Elias me aguardava. Tinha começado a evitá-lo para o nosso bem, eu não queria confusão. Não quero que Rafael coloque a culpa em mim e me rebaixe. Elias enrolava uma de suas madeixas louras no dedo e se levantou da cama em que estava, veio para bem perto de mim.
- O que aconteceu entre você e Rafael?
Eu não sabia que ele o chamava pelo primeiro nome.
- Nada.
- Ele comeu você?
- Não.
- Então ele te levou para jantar?
Nego de novo e isso o estava irritando. Seu rosto está ficando vermelho começando das bochechas: ele não queria demonstrar ciúmes, mas está falhando miseravelmente.
- Porque você fica tempo de mais na sala dele?
- Porque trabalho. Só.
- Ele te deixou no carro aqui - rebate e sorri. Um sorriso sinistro. - Aonde foram? Foi em um lugar importante?
- Porque...
- Ele é um empresário importante quase no mundo todo! Aquele carro, a roupa dele, até os anéis valem mais do que podemos imaginar.
- A casa dele não é assim.
Automaticamente percebo o que acabei de dizer e me arrependo.
Elias agarra meus ombros e me põe contra a parede. Largo minha roupa suja no chão e tento tirar suas mãos de mim, mas não consigo. A unha dele cravou na minha pele mesmo por cima da camisa eu senti uma dor agonizante.
- Ai!
- Você foi na casa dele! - Grita. - Porque você... Porque logo você?
Não consigo nem dar de ombros porque está doendo.
Ele me larga tão rápido quanto me pegou e eu só não escorrego porque minhas pernas não estão bambas. Elias pega minha roupa e empurra na direção do banheiro, molhado-as completamente. Ótimo.
- Vá para o inferno. - Disse e saiu.
Mal sabe ele que eu já estive no inferno mais de uma vez.
***
Depois de um tempo eu decidi sair do Hot. Acho que Elias havia espalhado mentiras sobre mim, ao passar pelo corredor eu sentia como se fosse morto com o olhar pela maioria dos rapazes. Agora quero passar mais tempo aqui, do lado de fora, sentindo a brisa fria e os sons urbanos. Não tinha pensado tão afundo em algo, mas agora percebo.
Todos esses rapazes estão fazendo uma competição silenciosa onde o prêmio é Rafael Laurent. E eles acham que eu sou um problema porque já sai com ele.
Arrepio e tenho certeza de que não é pelo vento.
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Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)
RomanceRafael Laurent é o mais novo, o mais sagaz e misterioso dos irmãos Laurent. Gideon veio de muito longe, deixou várias pessoas para trás e chegou para cumprir um objetivo difícil. Uma mistura de mistério, sexo, descobertas de sentimentos e loucura...