Capítulo 53

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Gabriel

Acordei no meio da noite com a frase de Rafael na minha cabeça. Antes que injetasse aquela seringa em mim para que eu pudesse desmaiar.

Faço tudo por um motivo, você deveria saber.

Então eu desmaiei. Notei agora que ele não colocou apenas uma seringa em contato com minha pele. Mas duas. A primeira no meu pescoço, que até agora não parei de coçar até descobrir que se tratava de um rastreador. A seringa que foi colocada na minha coxa me fez desmaiar, não aquela. Foi tudo premeditado porque a mente de Rafael nunca parava. Não adianta subestima-lo.

Fiquei a maior parte do tempo no quarto mesmo quando tinha a liberdade de sair até os parâmetros do jardim imenso. Conversei por mais tempo com Rafael do que o normal, ele me fazia visitas clandestinas na calada da noite.

- Feliciano vai castigar a nós dois se descobrir. - Falei.

- Não ligo. - Ele tinha retrucado, dando de ombros.

Parece que não ligava mesmo. Rafael - que eu tinha aprendido a chamar pelo apelido, Rafa - sempre mostrava uma indiferença fria quando se tratava de Feliciano. Não é muito diferente de mim quando menor, só que eu não tinha um temperamento tão pavio curto igual a ele. Qualquer coisa o irritava, até mesmo as menores das coisas. Talvez por esta razão, além do fato de ter bons ouvido, Feliciano tenha decidido adotá-lo. Mesmo que de modo ilegal, como faz com todos nós.

À meia noite ficamos apenas deitados na minha cama. Cada um em seu espaço já que aprendi outra coisa sobre Rafa: ele odiava toques. A maioria ele permitia como no treinamento, até aítudo bem. Mas toques exagerados o deixavam abafado, como se em uma gaiola. Eu respeitava isso mesmo quando ele queria ficar na minha cama até às cinco da manhã, hora de voltar para o próprio quarto e fingir que esta noite não aconteceu. Um segredo de nós dois.

No quinto dia do meu inferno pessoal eu convenci Rafa de me conseguir papel e caneta para que eu pudesse escrever uma carta já que aparelhos celulares ou e-mails estavam fora do meu alcance. A carta seria a melhor escolha para mim, para que alguém viesse me ajudar. Alguém que não era Kien, ou Rafael Laurent, ou um anjo da guarda misterioso até então.

- Para quem é? - Perguntei.

- Um amante. - Murmurei ao selar a carta com meus dedos trêmulos.

Tinha tentando escrever três vezes, na quarta vez consegui o razoável. Estava longe de ser algo detalhado e complexo, é na verdade, o oposto disso. Desesperado e simplório. Mas espero que mesmo assim chegue a quem eu quero.

Pela manhã, à mesa, tive que lidar com meus irmãos. A mesa era grande e não havia só uma, mas cinco. Todas lotadas de jovens e crianças como num presídio ou orfanato. Para mim parece a mesma coisa. Não havia cadeiras nas cabeceiras das mesas porque havia uma regra que dizia que ninguém merecia aquele lugar. A não ser o pai de todos que, acreditem ou não, nao era Deus. Feliciano gostava da mesa um. Eu ficava mais na última, a quinta. Porque é a menos lotada e Rafa gosta.

Então num dia tranquilo quanto possível eu achei que nada me incomodafia demais. Até três pessoas sentarem à mesa junto a mim, a Rafa e outras crianças menores.

- Oi de novo, Gabe. - A voz de Ryan parece muito como ferro arranhando uma superfície límpida. Arranha e machuca os ouvidos.

Não respondi, entretanto.

- Ele não quer falar? Que droga. - Quem falou dessa vez foi Yuri. Ele estava mais maduro desde a última vez que o vi. Mas não posso dizer que seu cérebro também amadureceu como seu rosto.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora