Capítulo 44

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Gideon

Acabo recebendo a ajuda de Kien para me arrumar. Além de cozinhar, ser um bom irmão, ser bom em tiro ao alvo e mais dezena de coisas que não consigo lembrar meu irmão ainda sabe como fazer eu usar um terno decente sem parecer brega. Azul, para combinar com meus olhos ele disse.
Fazia tempo que eu não vestia terno, na verdade fazia tempo que eu não vestia qualquer coisa que deixasse meus braços e meu tronco tão confortável. Sinto falta disso, do algodão, percebo isso agora.

- Espera, deixa eu ver se eu entendi... Você disse a ele que não sabia ler? Essa é a piada mais engraçada que ouvi em dois anos.

Um rubor dormente percorre minhas bochechas e ficam até que Kien decida parar de rir de mim o que demora no máximo dois minutos inteiros.

- Ele me ensinou. Ou tentou. Paramos com as aulas porque... Acho que você já sabe o porquê, estou errado?

- Mais ou menos, irmãozinho. Eu não sabia que você estaria aqui até pouco tempo.

- Papai fez uma visita a você também?

Kien assente sombriamente. Vejo a cor dos seus olhos ficar mais escura, seus ombros ficaram mais tensos e é quase como se ele tivesse voltado no tempo àquelas lembranças sombrias demais para serem ditas.
Isso me faz lembrar a família Laurent. Apesar de serem carinhosos a maior parte do tempo, também brigam. Mas perto do que já presenciei a briga deles parece brincadeira. Aposto que nenhum irmão Laurent teve que ficar acordado durante duas noites enquanto não fizesse uma tarefa à perfeição. Ou ficar de joelhos até que seu pai decida que já se passaram doze horas ou vinte.

As lembranças me fazem arrepiar.

Sinto a ardência atrás dos olhos mostrando que as lágrimas estão chegando por isso faço de tudo para me mostrar indiferente. Se eu me mostrar indiferente o suficiente vou acabar acreditando nisso assim como todos ao meu redor. Kien ajeita o meu cabelo enquanto ainda está nas lembranças.

- O que você fez durante esse tempo? - Perguntei para fazer com que o tempo não parecesse tão letárgico e deprimente.

- Hã... Eu... O de sempre.

- O de sempre seria... o quê?

Kien bufa na minha nuca.

- Tinha trabalho. Então eu... fui trabalhar mas ocorreram algumas coisas. Mas agora vou parar de pensar nele porque...

- Nele quem? Quem você conheceu? Qual o nome dele?

As bochechas de Kien enrubesceram quando seus lábios formaram sílabas gaguejadas para depois um nome coerente e nada mais:

- Anderson.

Bato palminhas no mesmo momento.

- Vocês dois...

- Não! Gab... Gideon. Da pra parar com isso? A situação dele é complicada.

- Ele tem alguma doença?

Kien balança a cabeça, negando.

- Então...

- Você devia saber melhor do que ninguém que outras pessoas podem deixar nossa situação na ponta da faca. O problema não é dele, o problema só tomou conta dele. Entendeu?

Da uma forma esquisita eu tinha entendido. Porque aconteceu o mesmo comigo. A ponta da faca é onde me encontro no momento, o problema tomou conta de mim e agora estou agindo de modo imaturo seguindo o meu caminho como se não houvesse consequências. Bom, haveriam. Eu só não sabia quais ainda.

- Daqui a pouco seu boy magia chega. Você comeu?

Nego.

- Vou te fazer uma vitamina para você não desmaiar de fome no evento. Se você ganhar alguma coisa eu quero trinta porcento. Entendido?

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora