Capítulo 51

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Rafael

- Comece pelo seu nome. - Disse.

- Gabriel. É o meu verdadeiro nome. Gideon foi o nome que eu adotei quando vim encontrar você. Eu não deveria ter vindo porque não era para você que eu fui designado. Aconteceu há quase um ano agora. Meu pai tem arquivos confidenciais de pessoas que ele quer ver morta, a maioria assim como você, empresários, pessoas influentes demais. Fui xeretar os arquivos para ver se conseguia algo melhor do que me foi dado. Eu tinha um caso muito longe daqui e não queria ir, Kien tinha fugido de casa após um caso fútil e pensei em fazer o mesmo. Foi então que sua ficha caiu nos meus pés assim que abri a gaveta, foi como se alguma coisa tivesse me mandado vir até aqui. Guardei o arquivo e esperei cinco dias para vir, para que meu pai pensasse que eu estava indo para o caso que me deu e não para o que eu tinha roubado. Deixei-os sem olhar para trás e me senti... bem. Me coloquei no Hot porque sabia que você tinha comprado, mas meu destino teria sido aquele mesmo se você não fosse o dono. Você ter comprado o imóvel foi apenas um golpe de sorte para mim. - Ele toma fôlego e continua - Então apareci lá, fiquei um bom tempo até realmente ver você. Fingi que não sabia ler porque vi que você tinha algo de bom para com isso. Eu nunca soube o porquê.

Não faço questão de responder a pergunta passiva. Mando que ele continue.

- Deixei que Elias e os outros fizessem o que quisessem comigo porque não poderia levantar um dedo sem levantar suspeitas também. Fui a diversão deles por um tempo. Você começou com as aulas de leitura, você pediu para... Você sabe. Naquele dia na sua casa você jogou aquele copo na pia, despejou todo o conteúdo no ralo e eu fiquei me perguntando o que iria fazer. Aquela tinha que ser a minha única chance. Dentro daquela bebida tinha... Veneno de escorpião que eu tinha guardado há um tempo. Não sabe quanto é difícil arranjar aquilo. Então quando você jogou fora eu tive que mudar de tática. O carro. O tiro. Pulei na sua direção porque... Eu não sabia antes o porque. Mas eu sei agora que eu...

- Nem ouse. - Rosnei.

Vi sua garganta oscilar então a história continuou.

- Me joguei por você. Então meu pai descobriu. De algum jeito que não estou nem um pouco interessado em saber. Quando bebeu o que eu trouxe da última vez, você já sabia? - Nego - Certo. Dentro daquilo tinha calmante, apenas o suficiente para fazer com que você dormisse e eu conseguisse tirar uma foto sua para mandar para meu pai. Achei que assim conseguia enganá-lo para fingir que você realmente foi morto. Ele ficou contente, claro. Esqueceu a raiva de eu ter roubado um dos seus mais preciosos arquivos. Mas dois dias depois e os sites não tinham informado sua morte. Foi assim que ele pareceu na minha vida de novo. Me rastreou. Eu tinha desistido de te matar. Eu só vim para cá para cumprir essa missão, então percebi que não podia. Eu já tinha conhecido sua família mesmo que eu saiba que seu pai não confia em mim, ele sempre desconfiou. Mas... Eu não conseguia mais, me descobri fraco como nunca antes. Sempre soube que as consequências seriam severas, com você ou com meu pai. Por algum motivo eu pensei que poderia passar pelas consequências sem dor. Que idiotice a minha. - Gideon dá uma risada amarga. - Kien estava aqui para me ajudar. Ele é o melhor irmão que eu tenho... Digo isso porque tenho mais de dez irmãos e irmãs, então entendo seu drama familiar acho que por isso tivemos uma conexão. Rafael eu... sinto muito. Me desculpe. Eu não imaginava que as coisas ficassem tão destrutivas. Você não sabe o que eu daria para proteger você e sua família, aos seus sobrinhos. Se você quiser me matar vou entender. Não é como se já não tivessem tentado. Quando você descobriu? Como armou tudo isso?

- Soube um pouco antes do evento. Não sei exatamente quando, talvez eu sempre soube, só quis me deixar cego porque encontrei o que achei que nunca encontraria numa pessoa. - A bile fere minha garganta e preciso engolir com força para poder continuar - Quando você falou dos meus irmãos, todas as situações deles eu soube. Soube que, pelo menos eu, nunca tinha contado nada daquilo a você. Então como você soube? Antes disso o acontecimento no Gin's que você e Kien batizaram de assalto. Eu mandei aquele cara lá para fazer exatamente o que fez.

Vejo sua surpresa que seria cômica se eu não tivesse tão profundo nas lembranças.

- Você acha que eu não me importaria de ver as câmeras em uma situação normal? Em um assalto de verdade? Eu sei o que aconteceu ali. Foi uma chance que dei a você de me contar a verdade. Você fugiu, é claro. Então teve... Aquilo com Elias no Hot e fiquei possesso quando descobri que... Você sabe o quê.

- Então você esteve fingindo gostar de mim desde então?

- Eu nunca fingi nada.

Decidi libertá-lo, afinal. Seus pulsos estavam sangrado quando o tirei da berlinda e seu pescoço estava com um arco vermelho perto da nuca e abaixo do pomo de Adão.

- O que vai fazer comigo?

- Nada. Só não quero você por perto.

- Entendo. Vou sair do Gin's. Talvez eu fique na casa de Kien.

Ri.

- Você não entendeu, Gabriel. Eu quero você MUITO longe. Por isso chamei ele.

Então o pai de Gideon apareceu. Seu rosto perdeu toda a cor que já não tinha e ele ficou paralisado de medo, como se visse seu pior pesadelo numa pessoa.

- Vamos voltar para casa. - O pai dele falou.

- Não... Espere... O que está acontecendo? Você queria vê-lo morto!

Antes que ele pudesse correr eu o segurei e peguei a seringa no meu bolso. Em seu ouvido eu sussurrei antes de vê-lo gritar e desmaiar. Não foi delicado como pensei que faria, a pontada o rasgou e o sangue escorreu pelos meus dedos.

- Lembre-se do que combinamos. O deixe longe. - Disse entregando seu filho nos braços.

- O farei. Lembre-se de não interferir mais nos meus negócios.

Não respondi. Sai daquele galpão o mais depressa possível. Quando entrei no carro consegui socar o volante até que meus dedos estivessem com hematomas. Meu peito apertou como grades para um animal grande demais. Eu não conseguia respirar. Por algum milagre eu consegui dirigir até em casa onde encontrei Taiwan.

- Rafael? O que foi? Cadê...

O ignorei e corri para o quarto. Encontrei a privada do banheiro ao lado o mais rápido que consegui e vomitei até meu estômago sofrer com os espasmos. Pareceu durar uma eternidade.

Então voltei para a cama. Não consegui ficar muito tempo deitado, entretanto. Meu corpo queria movimento se não poderia acabar falhando. Fui para o escritório de casa e ignorei ligações de Davi, de Kevin, da minha mãe e Diego. Ignorei as batidas de Taiwan à porta.

Quando mais batidas soaram eu me levantei pronto para mandar Taiwan para o quinto dos infernos. Mas quem estava à porta não era o irmão de Will.
É minha mãe.

Os olhos dela brilharam quando me viram e algo queimou dentro de mim, na minha cabeça e fez até meus ossos doerem. Ela entrou. Ficamos em silêncio e só precisei abraçá-la para descobrir que a dor era na verdade, a antecedência antes das minhas lágrimas. Não lembro a última vez que chorei nos braços da minha mãe, talvez quando ainda era criança burra e feia. Meus soluços eram altos e parecia não haver o suficiente da minha mãe para me abraçar.

- Está bien, hijo. Estoy aquí, seré tu pilar cuando pienses en caer. Estoy aqui.

Não havia palavras que eu pudesse dizer ou pensar. Meu coração estava dolorido, algo dentro de mim sempre foi quebrado mas agora... agora parece que está sumindo... dolorido para sarar. Alguma coisa assim.

Minha mãe não deixou de me abraçar e eu não a larguei até contar tudo o que aconteceu. Derramei minhas confissões junto às lágrimas, ela não falou nenhuma vez, só ouviu, só foi a minha mãe que eu precisava.

- O que eu vou fazer agora? - Sussurrei.

Estar perdido é um sentimento que não experimentava há tempos. Agora estou sendo assombrado de novo, me vendo no espelho, idiota e perdido, chorando e morrendo aos poucos. Eu era patético.

Não houve resposta para minha pergunta. Talvez nem o vento saiba a resposta e eu merecesse isso no fim das contas.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora