Capítulo 23

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Rafael Laurent

Eu estou perto de mais dele, mas não consigo evitar. Acho que estou alterado por consequência da bebida, mas não há perigo em coisas assim, estou totalmente no meu controle e sei que quando bebo tenho que pensar mais de dez vezes antes de decidir levar alguém para a cama; prós e contras, consequências e tudo que envolve estar com essa pessoa. Por mais que meu desejo agora não seja levar Gideon para a cama minha curiosidade bêbada está entorpecida pelos olhos azuis dele que estão avermelhados, causa de choro, causa de lágrimas. Deposito toda a minha curiosidade nas minhas palavras.

- Fiquei observando você a noite toda, sei que também me observava. Porque estamos jogando assim?

- Não sei. - Sua voz foi um sussurro sôfrego. Pela primeira vez não prestei atenção nisso, deixei passar como o vento em meus ouvidos. - Porque o trouxe? 

- Elias? - Ele assentiu - Foi ideia de Peter, confesso. Ele falou com você mais cedo, o que ele disse?

- Não foi nada.

- Você saiu correndo, obviamente foi alguma coisa. Pare de tentar me despistar porque você não vai conseguir...

- Você me ignorou! - Grita. - Não estou sendo... que ódio de você seu cretino. 

Ele bate em meu peito e eu segurei seu pulso e fechei meus dedos ao redor do osso, não cheguei a estalar, mas ouvi algo. O ouvi choramingar. As lágrimas dele parecem mais falsas do que qualquer coisa; sinto-me na obrigação de prestar atenção em mim, por isso aperto seu pulso quando ele tenta se largar. 

- Preste atenção - digo - você parecia muito bem antes,  gilipollas (Idiota) por isso não me intrometi porque você não toma alguma atitude na sua vida e faz algo que preste sem ser chorar pelos cantos como um bebê indefeso porque é isso que você parece ser.

Foi então que aconteceu. Gideon conseguiu se desvencilhar do meu aperto em seu pulso de repente, meus dedos arderam quando sua mão girou para a direita e no impulso acabei tentando pegar seu cotovelo, mas ele deu um passo para trás e acertou um soco no meu rosto, bem ao lado do meu nariz, no olho, certeiro no olho. 

Saltei para trás com um rugido furioso, quase animalesco. Tampei o olho com a mão direita e por apenas um olho o vi respirando forte, vi como o vento escovava os cabelos negros dele e de como estava vermelho. Se minha raiva tivesse uma cor seria o vermelho intenso do rosto dele com certeza. Quis avançar sobre ele, puta que pariu como quis avançar sobre ele e esganá-lo! Mas não consegui. 

Simplesmente a ideia surgiu e evaporou.

O momento passou bem rápido; Gideon se aproximou de mim e segurou meus ombros e perguntou algo, mas o bombeio de sangue nos meus ouvidos me impediu de ouvir qualquer coisa. Me larguei dele, talvez eu tenha o empurrado com bastante força já que ele gritou. Que droga, não acredito que deixei que ele me acertasse, os movimentos dele foram desajeitados, mas rápidos. 

- Rafael - ele vem atrás de mim - me desculpe eu não... não queria... me desculpe.

- Só... saia da minha vista, Gideon. Estou falando sério agora, minha vontade é de voar no seu pescoço e agarrar suas cordas vocais até danificá-las.

- Você não faria isso. 

- Você não me conhece. - Ronso.

- Então, porque não faz. Agora. Faça.

Nos encaramos por um tempo. O céu negro agora estava sombrio e começou uma neblina, o som estava alto de mais, as cores estavam frias assim como os olhos dele que também pareciam altos e sombrios, era um desafio. Agarrei o pescoço dele com a mão que estava livre, aposto que seria uma cena bizarra: dois homens, um deles com a mão no olho e outra no pescoço do outro, e esse outro está deixando ser enforcado, ficando vermelho cada vez mais, mas parecendo não ligar para isso, para o ar que está perdendo. 

- Você - continuo - não me conhece. - O largo e ele cai aos meus pés, tossindo e ofegando. A vermelhidão sumindo do seu rosto ao momento em que toma ar.

Esperei que ele ficasse de pé novamente. 

- Não conheço mesmo. - Sua voz ficou rouca - Mas mesmo assim, me desculpe.

Eu não mereço isso! Me afasto dele e vou em direção ao meu carro, está na hora de ir para casa, está na hora de deixar a raiva esfriar e não posso fazer isso com ele aqui. Enquanto caminhava em direção ao carro percebi que a habilidade dele de lutar poderia ser boa, que as desculpas dele eram verdadeiras e nada disso fazia sentido, como ele podia ser tão singular? E como isso poderia ser tão atraente? Parei com a mão na maçaneta prateada; eu não tinha ideia do que estava pensando quando fiz o que fiz, talvez a bebida tenha me afetado, mas duvido. 

Voltei aonde ele estava e o encarei de novo antes de beijá-lo.

Minha boca estava com gosto de álcool, sabia disso, só não sabia que a boca dele estava com gosto de menta, o que causou ardência, uma ardência prazerosa e mágica. Deixei que a minha língua conhecesse a dele de um modo lento, porque não havia mais nada a se fazer além disso. Deixei minhas mãos na sua cintura já que não quis agarrar seu pescoço de novo e apesar das mãos dele encostarem no meu corpo, me senti aquecido.

Quando o deixei respirar, me afastei um pouco.

- Porque eu? - Foi a sua pergunta. 

- Porque você me deixa... curioso. Porra, me deixa... É a única pessoa da qual não sei nada. 

- Isso é bom ou ruim?

- Ambos. 

Ele agarrou minha nuca e assim iniciamos de novo aquele negócio estranho que aprecio pouco, mas que com ele era interessante. Que se dane. 

Agarro sua cintura e agora o trago para mim, nossos corpos ficando gelados por causa da chuva e quente devido ao prazer. Acho que ficamos assim por bastante tempo, minha boca ficou dormente quando nos separamos, mas ainda forças em mim para mais. Muito mais.

- Não posso dormir com você. 

- Porque?

- Agora, quis dizer. Não agora, Rafael. Por favor.

Assinto. Acho que ele já sabe dos boatos que circulam o Hot. Por isso, deduzo, estava chorando.

- Vou voltar a trabalhar. Meu chefe não pode gostar de me ver aqui assim.

- pode apostar que ele gosta. - ronrono em seu ouvido antes de tentar agarrá-lo de novo. Ele se afasta, rindo como pode. 

- Hoje não. Amanhã quem sabe. 

- Daqui a pouco é meia-noite.

Gideon finge que não me escuta e corre para a boate de novo enquanto eu fico plantado no lugar e em cinco minutos vou para o carro de novo, dessa vez aceito ir para casa. 



Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora