Capítulo 12

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Rafael Laurent

A casa de Davi continuava a mesma, exceto por uma coisa. Agora o irmão de William mora aqui: Taiwan Stony, que também recebeu o nome de Laurent no fim. Era uma combinação de nomes péssima. Quando cheguei ele estava sentado no sofá com uma pilha de cadernos ao lado, parecia concentrado, mas era distraído demais e prestou bastante atenção quando entrei e fechei a porta; uma série de movimentos que o deixou curioso. Mas no fim, sentei à frente dele com a perna cruzada e um olhar inquisitivo, ele me observava como se eu fosse o algo novo que a ciência revelara, um anúncio na televisão sobre algo que ele tem interesse. 

- Meu irmão está?

Taiwan assentiu e apontou para o corredor que levava aos quartos. Me pergunto se ele e William estão tendo momentos íntimos e só de pensar nisso fico enjoado. Resolvo prestar atenção no garoto; pelo que sei até agora, ele completará dezoito daqui a algumas semanas e pelo que vejo nas suas anotações, ele tem interesse em criminologia: talvez a mente dele seja tão misteriosa quanto a minha. Não, impossível, nenhum demônio era igual e Taiwan era esperto, era atraente, ele conseguiria mexer com a cabeça de qualquer um que quisesse e ainda teria tempo para se divertir vendo suas proezas. 

Será que estou descrevendo a mim? 

- Porque fica só me olhando?  - O tom dele é mais curioso do que acusatório. Ele é sem dúvidas, um curioso nato. Espero que isso não o mate. 

- Porque gosto de observar as pessoas deliberadamente. Me faz relaxar saber o que elas estão fazendo ou o que tentam fazer. 

- O que pensaria se eu dissesse que o observo agora?

Dou de ombros porque realmente quero saber.

- Acho que está incomodado. 

- Com o quê? 

- Isso eu não sei, tio.

Ele sorriu com uma doçura venenosa para mim. Taiwan sabia que não gostava quando me chamava de tio, era como se eu tivesse um compromisso com ele e isso é algo que não tenho mesmo. Mas um garoto de 17 anos não iria me irritar, nem ferrando. Nem Gideon conseguiu me irritar. 

Davi e William apareceram. Ambos comportados e vermelhos. Não fiz nenhum comentário sarcástico ou inicieis minhas habituais provocações, acho que não estou no clima para tais coisas. Levantei do sofá.

- Não achei que vinha mesmo.

- Eu não sou de descumprir promessas. Você devia saber disso. Como vai carinha de anjo?

No fim, é inevitável não fazer comentários como este. 

William apenas disse um oi seco e chamou Taiwan para dar uma saída.

- Agora? - Taiwan indagou. Como não tinha se virado para nos olhar ele ficou alheio até mesmo ao tom sugestivo de Will que o agarrou pelo ombro e saíram pela porta rapidamente.

Pronto. 

Davi e eu estamos sozinhos. 

Os olhos dele ainda são desfoques, ainda não enxergam meu rosto, ainda não enxergam como posso e como estou o olhando. Será que eu queria mesmo que ele percebesse o medo no meu rosto como neste fodido momento? Não, eu não quero. Eu podia lhe contar a verdade e eu queria que ele soubesse da verdade porque, então, começaria a pensar em mim como os outros pensavam. 

Mas, penso, a qualquer momento isso pode acontecer então, porque não agora?

Antes que eu pudesse produzir alguma fala Davi já tinha agido, havia erguido a palma da mão e tocado meu rosto com tamanha gentileza que me deixou enjoado. Mas não afastei sua mão da minha bochecha, os dedos dele eram macios e nada calejados, quentes mas aromáticos. 

- Você parece preocupado. O que houve?

A verdade está na minha garganta.

- Rafael? Eu te conheço. Posso ser cego, mas não tenho problemas mentais. Sinto quando agem diferentes comigo. - Davi suspira e se ele pudesse ver a si mesmo agora, aposto que se sentiria deplorável. Não. Acho que estou descrevendo a mim mesmo de novo. - É a cirurgia. - Ele adivinhou. 

Assinto. Ele não me vê. Ainda.

- Nunca soube o que você acha de verdade. 

A verdade era um monstro terrível que queria sair da minha garganta a todo custo. Eu sabia ser mais forte que muitas coisas, eu sei me controlar e ser auto-competente. Odeio mentiras, são as piores coisas do mundo, porque mentiras levavam à injustiça e depois para algo maior e pior. Mas não acho que exista injustiça nesse caso então resolvo engolir a verdade monstruosa. Que se dane ela, eu a guardaria para mim e só para mim porque Davi não precisa da minha opinião egoísta. Ele tinha que ser feliz, não é? Já brigamos por anos de mais, acho que agora todos nós merecemos um descanso. 

- Estou contente por você, Vista. Não há nada para comentar, só isso. Talvez eu até peça sua opinião para algumas peças íntimas. Gosta mais de couro ou algodão?

Davi riu e tirou a mão do meu queixo onde já partira para o ombro e o apertou suavemente, um aperto reconfortante de irmão para irmão. Eu não sabia se ele sabia que eu estava mentindo: odeio mentiras, mas me passo por um bom mentiroso. Isso fazia de mim um hipócrita? Absoluta.

- Quais seus planos hoje hermano?

- Nenhum em especial. Tenho que ir trabalhar, só isso. 

- Eu estou o atrasando.

Sim, está. Não diria uma coisa dessas e ele, claro.

Em um misto de impulso e nervosismo eu o abraço. O abraço como se fossemos crianças, isso se eu esquecer que nunca nos abraçamos por vontade própria quando crianças. Agora é diferente, ele inspirou pela surpresa e pelo choque do meu corpo no dele. Depois ele me deu um abraço de urso que eu, admito, queria poder ter aproveitado mais. 

Mas eu me larguei dele. 

- Você está cheirando a sexo. - Digo e ele cora. - Tenho que ir. 

- Espere. Você vai, não vai? Vai ser importante para mim se você for.

Bom, não havia como negar. Assenti de novo e me repreendi por isso. Com a maioria das pessoas eu falava pouco, movia a cabeça ou fazia gestos. Com Davi tenho que falar muito e isso me cansa. 

- Irei. Nunca quebro uma promessa. Você deveria saber.

- Eu sei. 

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora