Capítulo 43

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Rafael

Nas primeiras horas da manhã eu acordei pensando se deveria mesmo ir ao evento da revista, que se chama King's Evolution. Eu odeio participar de eventos tanto quanto odeio câmeras na minha cara, repórteres interesseiros ou perguntas idiotas quando se está em um palco. As respostas são as mesmas. "Qual o segredo para seu grande sucesso nos negócios?" , "Estudo muito, também conto com apoio de profissionais". Não aguento pensar nisso. Mas me levanto mesmo assim porque já mandei um e-mail confirmando minha presença à mesa da minha família e seria cruel deixar a cadeira vazia que alguém se deu ao trabalho de arrumar. Não sou mais um peão, entendido, mas isso não significa que não respeito eles.

As pessoas de baixo são importantes para manter as pessoas de cima. Todos deveriam se lembrar disso, não existe pirâmide sem a base.

Tento ligar para Gideon mais uma vez; não obtenho resposta de novo então decido ir ao Gin's. Ele não pode ter esquecido o celular.
Quando chego percebo que há algo de errado. Algo grande.

Percebi três coisas em sequência. A) haviam garrafas faltando, b) o cheiro de desinfetante está pior que o do hospital, c) um único respingo de sangue na parede perto do quartinho. Não era tão pequeno, mas você nunca acharia se não estivesse procurando por erros. Um grande vazio toma conta de mim por alguns segundos, poucos segundos até que a raiva e a desconfiança tomem conta do meu ser. A passos rápidos procuro Gideon, mas não o encontro. Só o que sobrou do seu celular jogado na parede. Do ângulo que quebrou posso apostar que ele estava sentado no chão, se estivesse em pé teria acertado mais para a direita.

Antes que eu pudesse pegar meu celular para contatar alguém disposto a procurá-lo, o vejo cruzando a porta com outra pessoa. Um homem de olhos azuis como os dele. O ciúme percorre meu sangue apenas por determinado momento antes de eu ver que os dois estavam mantendo distância.

- Rafael? - Seu susto ao me ver me deixa com o estômago embrulhado - Escute eu posso.... Explicar isso tudo.

Sentei-me em uma das cadeiras do bar. Meus olhos vagam por ele sem o menor pudor: cabelo ajeitado para o lado, cachos nas pontas, olhos vermelhos e inchados, lábio cortado. O amigo dele parece um pouco melhor já que só está com um corte na bochecha esquerda.

- Estou ansioso para ouvir.

- ... e foi isso. - Gideon concluí seu monólogo.

O rapaz, Kien, assentiu. Fui apresentado a ele antes de tudo. Saber o nome dele facilita muito as coisas para mim. Eu esperava uma explicação mais sofisticada, mas foi algo simples que tampou as lacunas da minha mente. Eu acredito em cada palavra que ele diz. O importante, penso, é que ele está bem.

- Rafael... Pode repor o estoque com o meu...

- Você aceita ser meu convidado num evento hoje à noite? - O interrompe depressa antes que eu mudasse de ideia.

- Oh! Eu... Não sei... - Gideon olhou para Kien, ele por outro lado está sorrindo tanto que me deixa com raiva - Pode ser. Sim, claro que sim. Aonde vamos?

- Surpresa. Só tente usar um terno decente, sapatos e... - Me aproximo do seu ouvido para sussurrar a última parte - nenhuma roupa de baixo.

Isso o fez enrubescer totalmente o que arrancou risadas de Kien. Gideon deu uma cotovelada no amigo e ele parou de rir. Ou pelo menos tentou.
Saí do banco para esticar as pernas. Eu ainda tinha outros assuntos a cuidar por isso só dei tchau para os dois e disse para Gideon tentar ser mais corajoso diante de uma tentativa de assalto. Sério eu poderia oferecer uma das minhas armas a ele, mas não dou armas assim de graça a qualquer um. Mesmo que Gideon mereça ter algumas aulas de tiro ou defesa pessoal. Um assunto para o futuro.

Futuro. Com ele.

***

Quando saí da empresa a primeira coisa que trarei de fazer foi ligar para meus pais. Para minha mãe, na verdade. Ela estava animada como sempre está quando atendeu a minha ligação. Seu primeiro assunto, obviamente, foi o evento.

- Você vai, não vai? - Questionou em tom ameaçador. Algo mais parecido com "se não for te dou uma facada". Minha mãe é boa em arremesso, é algo que poucos sabem.

- Sim. Vou. Já reservei meu lugar com vocês.

- Maravilha! Gideon também vai, não vai? Seria ótimo se ele aparecesse com você, talvez com termos combinando! Você de preto e ele branco ou ele de azul para combinar com os olhos e você...

Afastei o celular da orelha para que eu pudesse ter alguns segundos de paz antes de falar para minha mãe que entendi tudo que ela disse. Tudo.

- Então - ela voltou a falar depois que voltei a prestar atenção - você e seu pai estão de intriga de novo? Todo ano vai ser algo assim, Rafael Laurent?

- Meu pai não respeita minhas decisões.

- Você não dá ouvidos a ele nem se ele avisasse que um meteoro iria cair na sua cabeça!

Murmuro algo que ela não entende. Palavrões em espanhol não tem a menor graça, o português me diverte pelos palavrões diversos. Minha mãe desata a conversar outro assunto que roda entre meu pai, o evento, Gideon é ternos. Por sorte chego ao Hot a tempo de desligar a ligação no momento em que o assunto se referia a casamento.

Entrar no Hot depois de tantos dias é, ao mesmo tempo, estranho e renovador. Vou procurar Edgar, o escolhido para ser o gerente do lugar, mas não o encontro.

- Onde Edgar está? - Questiono para um dos garotos que passava pelo corredor naquele instante.

- Ele foi resolver um assunto de família. Acho que o filho dele está doente. - O rapaz diz, simplório.

Murmuro um agradecimento antes de entrar na minha sala. O silêncio me conforta um pouco, mas só dura poucos segundos antes de Elias entrar na minha sala. Aja paciência.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora