Capítulo 52

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Gabriel

Abri os olhos e encarei uma parede branca como neve. Vi uma cômoda de madeira de carvalho, um espelho que mostrava eu mesmo e parece que tudo estava na visão em terceira pessoa; Gabriel, eu, deitado numa cama de lençóis brancos com o corpo limpo ainda que doloroso e ele percebeu que tudo que aconteceu não foi um sonho, aqueles sonhos ruins que te dominam enquanto os olhos estão fechados e quando você os abre, some. Não sumiu, Gabriel percebeu.

Minhas costas agradeceram o conforto por apenas um segundo - foi só isso que me permiti relaxar - antes de me levantar em um pulo e ir em direção a porta apenas para descobrir o que eu já suspeitava; trancada, assim como as duas únicas janelas do cômodo. Gritar seria inútil mesmo que alguém estivesse parado atrás da porta, eu teria que esperar a boa vontade do meu pai. Ao pé da cama estava uma única garrafa de água agora já quente mas era melhor do que nada. Bebi tudo em poucos minutos para aliviar meus lábios rachados, para saciar minha sede e conseguir pensar mais coerentemente.

Então Rafael tinha me deixado ir. Tinha me obrigado a ficar o quão distante achou necessário. Que bom para ele que deve estar fodendo com alguém agora mesmo e por isso eu o amaldiçoou de qualquer jeito. Que um raio o atinja, que um meteoro o destrua! Mas medir meu ódio em pensamentos assim é inútil, meu coração ainda chama por ele e me pergunto como é possível estar apaixonado por uma pessoa que me colocou tão distante de si ainda mais com um carrasco que é o meu pai. Rafael deve ter ficado não só irritado comigo, pelo que fiz, Rafael deve está furioso.

Tento achar um lado bom em toda esta situação. Encontro um, mas que não me anima tanto. Comigo longe, eles estariam seguro. Levo a mão ao pescoço quando algum bicho me mordeu. Eu deveria estar em alguma casa nova porque esse com certeza não é o meu antigo quarto. Meu antigo quarto tinha paredes cor branco-neve, a cama era maior que esta e tinha longas prateleiras com livros, bonecos, fotos de lugares que já estive. Lugares esses, percebo engolindo em seco, que Rafael disse que poderíamos visitar no evento antes que falasse aquilo sobre o irmão. Foi naquele momento que me entreguei, vacilei sem nem perceber e fui pego. Bom para ele, de novo.

Não consigo sentir muito ódio por mais que eu queria - uma parte minha entende a raiva do momento que ele sentiu de mim, todas as coisas premeditada que Rafael Laurent fez, eu teria feito também. Talvez pior.
Não, o que sinto mais é tristeza. O destino pelo que acredito só me colocou frente a frente com Rafael para que depois nos separasse como a folha de uma fruta. Simples assim.

Já tinha aprendido a ser forte, a deixar que as lágrimas não me fizessem afogar, ou que meus sentimentos não fizessem o mesmo comigo. Mas a identidade fragilizada e inocente de Gideon me tomou, eu chorei como uma criança, com as pernas perto do peito, soluçando e tendo espasmos agressivos.

Parei para limpar as lágrimas quando ouvi a chave sendo girada do outro lado. Já é final da tarde quando meu pai decidiu aparecer. Ele trazia uma bandeja mediana de prata. Comida. Muita comida. A colocou na cama e quando pensou em se sentar eu estiquei minhas pernas para impedi-lo. Um sinal silencioso de que eu não queria sua presença tão perto mesmo que seja obrigado a aturá-lo.

- Aposto que não reconheceu o quarto. Casa nova. Você vai gostar.

- Duvido muito. Algum dia vai me deixar sair do quarto ou vou ficar aqui até ter cabelos brancos?

Feliciano. Pai. Revirou os olhos, sorrindo com escárnio.

- Drama. Drama. Claro que vou te deixar sair, mas só quando se acostumar com tudo. Calma.

- Vai me colocar para treinamento de novo? Ficar de joelho nas pedras ou qualquer que seja suas diversões sádicas?

O rosto dele ficou inexpressivo. Se antes eu tinha medo das suas emoções, percebo agora que tenho mais medo quando não sei delas.

Minha Submissão | Série Irmãos Laurent-(Livro 4) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora