Capítulo XXXVII

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SOFIA


          Deixei que ele ficasse zanzando pelo galpão, longe da minha vista. Não tinha como ele sair dali mesmo, estava tudo lacrado. Deixei ele ter o tempo dele. Não sei quanto tempo passou. Ali sem janelas, não dava para ter uma noção clara do tempo.

          - Deixa eu ver isso tudo de novo.

         Ele sentou se no chão, espalhando as fotos e documentos pelo chão. Depois de um tempo, ele olhou para mim, olhou em volta e falou:

        - Você matou alguém aqui ou eu estava delirando? 

         - Oi?   

         - Você entendeu muito bem.

          - Entendi, e não quero mentir para você. 

         - Então não minta.

          - Então me dê a sua palavra que você também não vai mentir para mim.

           - Você não pode me pedir nada!

          - Não posso, mas mesmo assim eu preciso e vou. Por favor, me perdoe. E por favor, nunca mais me esconda nada nem minta para mim. Eu voltei por que queria resolver as coisas entre nós.

           - Nós?  

            - Sim, nós. Eu vim pedir o seu perdão, mas eu entendo se você não quiser. Entendo você estiver com muita raiva. Mas eu voltei e não vou fugir mais. O mundo é um lugar grande, deve ser grande o bastante para que nós dois possamos achar um jeito de conviver.

          - Você matou alguém aqui?

          - Vai ser recíproco? Eu não tenho tempo nem energia pra responder nenhuma pergunta sua se não for reciproco.

         - Ou o que? Vai me drogar de novo? - eu ri - o que foi isso que você me deu?

          - Uma antiga receita de família - ele riu também.

           -  Minha cabeça está confusa.

           - Eu imagino. Eu não quero te pressionar. Eu... eu precisava resolver isso... e essa forma torta foi a melhor forma que eu encontrei.

           Ele mudou um pouco a postura. Já não parecia mais tão agressivo. Ele parecia estar se esforçando para juntar todas essas informações. Eu nem reparei em que momento ele tirou o acesso venoso. Dentro da mim eu repetia uma prece para que tudo, de alguma forma, encontrasse um jeito de ficar bem. 

          - Você imagina? Você imagina tudo pelo que eu passei?

          - Na verdade eu imagino sim, porque eu também me senti enganada, traída, perdida e assustada. Eu também passei por muita coisa. mas diferente de você eu não pude me drogar até o cu na Tailândia.

          - Drogar até o cu? desde quanto você ficou tão bocuda? - ele ria, debochando de mim. Respirei fundo. Alguém precisava estar no controle da situação.

          - Me diga o que você não entendeu, que eu te explico de novo. 

         - Não vai mentir?

          - Você tem a minha sinceridade se você me oferecer a sua. Sem soro da verdade.

          - Por que agora você decidi u me dar a chance de explicar? Por que não antes?

           - Antes eu estava tão quebrada. Tão angustiada. Eu não conseguia raciocinar. Eu te disse, eu fiquei doente, mas quando eu comecei a ficar inteira de novo, eu pude parar para refletir, pensar... e vi que haviam coisas que não se encaixavam. Eu acreditava que você tinha me procurado. Essas fotos aqui são de dois anos antes de nos encontrarmos. Se você tivesse me encontrado antes, você teria entrado em contato comigo. - eu peguei essas fotos - está vendo? Eu sei quando essa foto foi tirada. Alguém já sabia onde me encontrar muito antes disso, mas acho que você não.

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora