Com os dias, os enjôos melhoraram, mas não muito. Eu continuava abatida. Manolo me forçava a comer a sua sopa estranha e a tomar uns sucos nojentos, eu continuava vomitando, mas sentia um pouco menos de fraqueza e menos tontura.
As palavras dele continuavam em minha mente. Por incrível que possa parecer era compreensível para mim a atitude de Alexandre. Não que eu concordasse ou deixasse de achar doentiamente errado nem por um segundo, mas eu conseguia entender de onde vinha tudo aquilo..
Ele sempre viera de uma família muito rica, sempre teve tudo o que quis, foi ensinado que podia e devia ter tudo, e se fosse necessário, poderia usar sua força para conseguir. No mundo dele não havia limites, ele mataria para ter o que quisesse. Ele me queria. Ele queria formar uma família comigo. Ele queria que eu o amasse. Ou pensar que ele me drogou para que de alguma forma isso me fizesse amá-lo e me sentir feliz ao seu lado, me fez sentir pena dele. Ele achou que eu só poderia amá-lo se estivesse dopada, do contrário eu não o amaria. E eu já não sabia mais se eram as drogas ou não, mas eu cheguei a ver bondade e gentileza por baixo de toda aquela máscara de força e brutalidade.
E é aí que começava o problema.
Como eu poderia achar que via algo de bom em alguém que me manteve em cárcere privado, que controlou todos os aspectos da minha vida e ainda assim me achar capaz de perdoá-lo? Que espécie de doente eu era?
Cheguei a conclusão que eu o amava. E era isso que me castigava. Cada vez que eu pensava nisso, sentia enjoo e vomitava. Como se eu colocasse esse sentimento para fora.
Cada vez que sentia falta dele, ainda que eu não soubesse se nossos momentos foram verdadeiros ou não, eu queria chorar de desgosto de mim mesma. Cada vez que eu ficava excitada ao lembrar das nossas noites de sexo, eu queria vomitar ainda mais. Alguns dias eu sentia tanta falta dele que me sentia fisicamente fraca. Esses dias eram os piores. Lutar contra o que eu sentia era exaustivo. E eu sempre perdia.
Quando Manolo falava sobre perdão, eu achava que ele não entendia, que eu deveria perdoar a Alexandre, ah se ele soubesse! Perdoar o homem horrível que ele era, era muito fácil pra mim, pois eu o amava.
Não queria dizer que eu voltaria a viver com ele, se isso colocasse meus filhos em risco, mas sim, eu poderia perdoá-lo, e quem sabe, se ele me mostrasse que ia mudar... se ele prometesse que ia mudar... talvez sim, eu poderia viver com ele. As vezes eu sonhava com isso, com o dia em que ele apareceria, me pediria perdão e nós viveríamos juntos para sempre.Era nesse momento em que eu mais me odiava. Por sonhar com isso como se fosse uma criança idiota, porque eu sabia que ninguém podia mudar dessa forma e por sonhar com aquilo que eu queria, e não o que seria melhor para meus bebes.
Era a mim que eu devia perdoar, e era isso que eu não conseguia me dar.
Por causa desse monte de sentimentos, aquele dia em especial tinha sido terrível. Manolo passou o dia em outra ilha, pelo que eu entendi as Maldiva eram um complexo de mais de mil ilhas, em que cerca de duzentas eram habitadas. Havia as ilhas particulares, que pertenciam aos resorts, dos quais a família de Rodrigo era proprietária da maioria, e as ilhas públicas, onde o povo local vivia. O que me fez perceber que estávamos realmente numa ilha deserta, pois só Manolo vivia ali. Não sabia bem aonde, mas estávamos completamente isolados de tudo. Ele disse que tinha que trabalhar, mas não me deu mais detalhes, como ele trabalhava para Rodrigo, deduzi que ele tivesse saído para matar alguém, assim, fácil, como quem sai para comprar pão. Eu passei o dia todo no banheiro vomitando, não consegui comer nenhuma das refeições que ele deixou prontas na geladeira e quando ele chegou no final da tarde, eu estava prostrada no sofá, suada e ofegante, não aguentando mais as náuseas e às vertigens.
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Eu te faço livre
RomanceContinuação do livro "Me faça sua, me faça livre!". Aqui continuamos a história improvável de Alexandre e Sofia. Nesse momento Sofia sabe o preço que pagou para ter seus filhos e o quanto custou viver um amor de sonhos. Agora ela precisa lutar para...