Capítulo XI

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SOFIA

       As coisas continuaram calmas. Tudo ali na ilha era calmo. Exceto meu estômago, que não me dava trégua e nem mesmo a sopa estranha de Manolo estava ajudando. Eu comecei a definhar novamente. Eu via no espelho o quanto estava abatida e voltei a emagrecer. Até mesmo Manolo que não era do tipo que ficava me ameaçando tinha dito que as coisas não poderiam continuar daquela forma.

       Eu disse que iria embora. Ele respondeu que eu estava tão fraca que não passaria pela porta. O que provavelmente é verdade.

       Então Rodrigo começou a passar mais tempo na ilha comigo. Eu sabia que ele estava interessado em mim e também procurava deixar claro que eu não correspondia ao sentimento dele, e ele apenas dizia:

        - Não tem problema, eu gosto o bastante por nós dois.

       Até tentava argumentar, mas as crises de vômito estavam tão frequentes que eu não conseguia manter o diálogo, nem nada no estômago.

        Eu estava deitada no chão do banheiro quando Rodrigo entrou.

          - mais uma manhã gloriosa para o vaso sanitário

          - aff! que bom humor irritante.

        Ele me ajudou a levantar, me pegando no colo.

         - Como vocês estão?

          - Bem - e alisei a barriga. Os bebês pareciam bem realmente. Eles se mexiam quando eu falava com eles.

          - Que bom. Precisamos conversar. - senti um espasmo no meu corpo para vomitar, mas já não tinha mais nada.

          - Nós vamos ao hospital.

          - Não Rodrigo. Eu não quero.

         - lamento, passamos desse ponto. Você está morrendo aqui, diante dos meus olhos.

         - você está sendo dramático!

          -me de um bom motivo para não te levar para o hospital.

           Eu fiquei em silêncio.

          Rodrigo me pegou no colo, e foi me levando para fora de casa, para o carro. Eu não tinha forças mais para me debater ou para impedir que ele me obrigasse, eu só comecei a chorar. E quase nem tinha mais lágrimas. Ele entrou comigo no banco de trás da grande camionete que ele estava usando, Manolo, sem dizer nada assumiu o volante.

          Rodrigo se sentou atrás de mim e abriu as pernas, para que eu me apoiasse no seu colo. Ele acariciava meus cabelos e tentava me acalmar.

         Eu não dizia nada, apenas chorava.

          Eu sempre tive esse medo horroroso de hospital, depois fui ver meus pais mortos em um hospital... Eu estava muito abalada e sensibilizada por causa da gravidez, mas parte de mim tinha consciência que não poderia evitar isso para sempre.

           Quando Manolo parou o carro em frente ao hospital, parecia um dia tumultuado. Várias ambulâncias entrando e saindo com suas sirenes ligadas.

         - Pelo amor de deus, Rodrigo. Eu faço o que você quiser!

         - Calma Sofia!

          - Por favor! Eu fico com você se você quiser! É isso o que você quer de mim? Eu te dou! Mas por favor...

          Rodrigo ficou perplexo. Eu não via o rosto dele mas podia sentir.

          - me fale o que aconteceu então. - O tom de voz dele era firme e parecia até um pouco insensível.

           - Por favor...

           - Me diga do que você tem medo?

             Eu não consegui responder.

 RODRIGO

         Juro que quando a vi desfalecida ali nos meus braços, senti vontade de beijá-la e depois de bater nela! Como ela poderia se colocar em risco daquela forma e ainda por cima seus bebês!

         Desde que ela descobriu que estava grávida, ela não fez nenhum pré natal, nenhum acompanhamento. Acho que no fundo ela gostaria de perder o filho para assim não ter mais nenhum vínculo com Alexandre.

         Quando a conheci, no dia do casamento dela, e comparada a hoje, ela era outra pessoa. Ela não fala muito sobre isso, mas algo aconteceu e ela quebrou.

        Agora ela vive doente, vomitando, quebrada e assustada.

       Eu tento dizer a ela que nada de mal vai acontecer a ela, mas ela não acredita em mim. E por que acreditaria? Eu sou um assassino, um bandido, exatamente como aquele que a quebrou desse jeito.

         Normalmente eu respeitaria a vontade dela, mas isso está ficando sério. Ela está definhando na minha frente. Ela está morrendo bem na minha frente.

        Eu não sei como Manolo não faz nada a respeito. O conhecendo como eu conheço, ele deve estar fazendo algo, mas nem mesmo eu sei o que é, ele também não é de ficar parado diante de uma situação assim. Mas ele não me diz o que está fazendo, o que me leva a crer que tem algo que eu não estou percebendo.

        Há, claro, o risco de que ela morra aqui e isso começar um guerra. Eu sei que Alexandre está drogado até o dedão do pé, ele está fora de si e não está raciocinando. Ele certamente vai me culpar por ter tirado ela dele. Ele vai me culpar por tudo.

        E não sem razão, afinal de contas eu a estava seguindo a muito tempo.

            Eu sabia que ela estava tão vulnerável, aliás, ainda está. Não sei porque ela ainda não me aceitou.

         Com o Alexandre em questão de dias eles já estavam juntos, enquanto que comigo ela fica fazendo esse charminho. Como se ela tivesse escolha! Ela não vai sobreviver nesse mundo sem mim, ainda mais com Alexandre atrás dela. Ela não duraria uma semana!

        Se eu conseguir ficar com ela, e com os herdeiros de Alexandre, vai ser um grande passo para mim e para minha organização. Serei dono da Europa toda, praticamente!

        O fato de Sofia ser uma mulher linda e adorável é um bônus maravilhoso para o negócio mais lucrativo da história.

       Primeiro que com a morte de Alexandre, ela é a herdeira de praticamente tudo. Segundo que seus filhos, se eles sobreviverem, serão herdeiros de um lugar na família e podem inclusive ser o próximo chefe, e eu serei como o conselheiro deles. Sou eu quem vou mandar em tudo.

        Mas a infeliz não colabora! Desde que a trouxe para cá ela só sabe chorar e vomitar!! Por que ela tem que tornar tudo tão mais complicado!

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