Capítulo LXVII

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ALEXANDRE

           Já fazia uma semana desde que Sofia estava em coma e eu era só um trapo humano. Eu não entendi no começo porque Augusto tinha trazido os bebês para cá, mas depois desse tempo, comecei a entender. Eu ia para a casa e ficava algumas horas com eles e depois voltava para o hospital e era isso que mantinha a minha sanidade.

           Sabia que corria o risco de Sofia jamais me perdoar se eu simplesmente não levantasse a minha bunda da poltrona na qual eu ficava o dia todo ao lado dela e não fosse ser o melhor pai do mundo para meus filhos.

          Era pouco tempo que eu passava com eles, pois eu sentia que se eu tivesse ficado no quarto com ela quando ela fez a cirurgia, nada disso estaria acontecendo. Então, eu ficava no quarto ao lado dela, agora que ela já tinha saído da UTI. Antes, eu me paramentava todo, ficava meia hora com ela, e depois saia do quarto, e ficava no hospital.

          Agora ela já conseguia respirar sozinha e tinha ido para o quarto e ali eu estava.

           As vezes eu lia para ela. As vezes eu conversava. Conversava com ela em italiano, em português, as vezes até em alemão ou russo. Outras vezes colocava música para ela. Em outros momentos, só ficava em silêncio.

        Naquele dia, os médicos a levaram para fazer alguns exames e eu aproveitei para tomar café e em frente a cafeteria, do lado de fora do hospital estava uma capela. Era uma capela ecumênica.

         Não tinha mais para onde ir. Estava exausto e quase sem esperanças. Meu celular apita e Augusto me envia uma foto. As três crianças com roupas de papai noel. Meu Deus! Já é Natal! Eu não tinha me dado conta, mas já era novembro, logo viria o Natal.

        Joguei o meu café pela metade na lixeira na porta da capela e entrei. Sentei me no primeiro banco e me ajoelhei no apoio que tinha.

         Desde a morte minha mãe eu não entrava numa igreja.

         - Deus... sendo honesto, nesse momento eu te odeio. Você levou toda a minha família e me deixou aqui sozinho. Você me colocou nessa família, onde eu sou quem eu tenho que ser, e quando eu achei que você não poderia ser mais cruel você me dá um anjo, só para me tomar ela de volta! Que tipo de monstro cruel e sádico você é? Minha mãe dizia que tudo tinha um propósito. Que você é amor... Que você nunca me abandonaria... Se você existe... Se você é bom... por favor... traga minha Sofia de volta! Traga ela de volta pra mim e eu.. eu... prometo achar um jeito de te perdoar por toda essa merda! Eu...- Eu tentei dizer mais alguma coisa, provavelmente eu estava gritando mas não me importei, nem mesmo olhei se havia mais alguém na capela ou não. Queria poder ameaçar Deus até que ele fizesse o que eu queria e me devolvesse minha mulher, minha princesa, o amor da minha vida, mas sabia que não havia como. Não havia ameaça ou súplica, não havia controle, não havia nada. Então me permiti chorar até não ter mais lágrimas. Encerrei com a oração dos narcóticos anônimos, pedi perdão pelos meus pecados e sai

         Então me levanto, saio da capela, compro uma garrafa de água, lavo o rosto e volto para o quarto dela.

         Mais um dia

         Outro dia.

         Outro dia.

         nada.

TRÊS ANOS DEPOIS

         Eu deveria estar nervoso, mas não estou. Tudo o que vivi me trouxe em paz para este momento.

        Enquanto ela caminhava em minha direção e toda nossa história passava diante dos meus olhos, eu tinha certeza de que tudo valeu a pena. Enzo me entrega ela e sai correndo, envergonhado, vestido com um mini terno. Enquanto Isadora sai correndo atrás dele para trazê-lo de volta, exatamente como sempre. Ela é uma menina muito obstinada e madona com os irmãos.

         Dessa vez, o casamento é simples, apenas como parentes e amigos próximos, claro, com alguns dos nossos homens, em especial aqueles que participaram do resgate dela na Suiça e os familiares daqueles que perderam suas vidas, pois sem eles, ela não estaria aqui, e assim ela fez questão, e eu fiz questão de realizar todos os gostos dela.

          Um padre veio dar sua benção no nosso casamento na beira da praia, no quintal de casa e ela repetiu seus votos para mim e eu, a ela.

         Eu podia ver o quanto ela estava emocionada e o quanto isso significava para ela. Finalmente um casamento dos sonhos.

         Sofia caminhava pelo tapete vermelho de mãos dadas com Enzo e vestia um vestido de noiva branco de renda, ela estava calçada com uma sandália baixa dourada e o vestido justo marcava a barriguinha de quatro meses agora.

         Foi um grande susto quando descobrimos que ela estava grávida. Com o transplante de coração há três anos não era o ideal, ela estava bastante assustada pois ela passou muito mal na primeira gestação.

         - calma meu amor, dessa vez eu vou cuidar de você, eu prometo! - mesmo com lágrimas nos olhos ela me sorriu e eu a beijei.

           Eu já planejava pedi-la em casamento, mas isso me fez acelerar os planos, eu queria que tudo fosse perfeito nessa gravidez. Nós eramos casados no papel e diante da sociedade, mas como ela quis ir devagar, eu a pedi em namoro, e a pedi em casamento diversas vezes, mas ela não aceitava. Dessa vez, com meu novo pedido de casamento, espero que ela aceite. E isso vai significar que conseguimos finalmente colocar todo o passado para trás e recomeçar a nossa vida.

          Naquela manhã, uma semana depois de ele me contar que estava grávida, quando ela acordou um pouco mais tarde, já que me encarreguei de mantê-la acordada até tarde. Desliguei o despertador do celular dela e desci, deixando um bilhete para que ela descesse e tomasse café da manhã conosco.

         Quando ela desceu, descabelada e apavorada por ter perdido a hora, estávamos eu, Augusto, os empregados da casa e as crianças segurando rosas nas nãos. Havia balões em formato de coração em toda a casa e mais rosas vermelhas.

         Quando ela me olhou sem entender nada, eu me ajoelhei aos seus pés e disse:

        - Querida, quer passar o resto da vida comigo? Quer casar comigo?

         Ela congela por alguns segundos. Ela nunca tinha falado em nos divorciarmos, mas sempre que eu falava sobre nosso casamento, ela desconversava e já não usava mais nossa aliança de casamento, apenas a aliança que dei a ela quando a pedi em namoro.

         Sofia queria recomeçar do zero nossa relação e nossa confiança precisava ser reconstruída e eu jamais negaria isso a ela. Mas nesse momento, eu precisava que ela acreditasse em nós, e no meu amor, como eu confiava em nós.

        - si!

         - Mama casa con papa! - Isadora dizia, como ela era esperta

         - sim, filha, mama vai casar com papa!

         Nossa festa transcorreu linda e simples, delicada e romântica, exatamente como ela queria.

        Claro que ainda era uma reunião da máfia e ainda houve alguns momentos em que tive assuntos para resolver e pessoas me trazendo seus problemas. Algumas pessoas, optaram por levar problemas a ela, e isso era algo a que eu tinha que me acostumar, dividir o poder com ela.

       Mas na verdade, o poder sempre foi dela. Todo dela. Assim como todo meu amor também.



FIM




Por Enquanto....

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