Capítulo XXX

74 3 0
                                    

       Manolo concordou comigo que qualquer negociação não deveria envolver as crianças. Isso foi um ponto pacífico entre nós. Eu me comprometi a ajudar no que fosse preciso para as negociações, como gratidão por "tudo o que Carlos tinha feito a mim".

        Quando estive sozinha com Manolo, aproveitei a chance, pois tive medo que não tivesse muitas.

       - Manolo, eu queria te dar isso.

        Entrego a ele um pequeno pacote embrulhado no saco de papel prateado. Ele me olha ressabiado e não diz nada, apenas abre.

       Quando ele abre, há uma caixinha. Ele abre a caixinha curioso. Há três moldes de gesso dos pézinhos dos bebês. Na caixinha tem um cartão escrito: "Quer ser nosso padrinho?"

       Finalmente eu vejo aquele velho rabugento chorando. É claro que são lágrimas tímidas, o nariz fungando com força.

       - Que bobagem é essa?

       - Entrega essa caixinha para Débora. Você já sabe o que tem dentro. E foi graças a você, que nós sobrevivemos. - Eu o abracei apertado, desconsiderando qualquer coisa ao nosso redor. Dou o abraço apertado que sempre quis dar, de gratidão, de amor e de reconhecimento. É que eu achei que teria mais tempo e sempre adiava.

        Quando Augusto disse que já tinha providenciado quase tudo, eu disse a Manolo que Rodrigo podia voltar.

       Ele o avisou e em minutos ele chegou no apartamento. Com um olho roxo e um lábio cortado.

       - Sofia! Ele vem direto para mim, mas para um centímetro antes de me abraçar.

        - Eu preciso de um tempo.

        - Meu amor, mas... por favor... me perdoe...

        - Eu vou resolver algumas coisas, vou para o Brasil, vou ficar na casa dos meus pais por um tempo. Preciso esfriar a cabeça.

       - Você vai voltar.

         - Sim. eu não vou mais fugir.

        Me despeço dele ali mesmo, sem dar muita chance para que ele faça uma cena. Manolo e Augusto já me esperam na garagem com o carro pronto. Rodrigo deve saber que Augusto veio, mas não diz nada.

       - Por favor, me perdoe! Eu te amo! Eu não vivo sem você! Você é tudo para mim! Por favor! você precisa me perdoar.

        - Eu vou te perdoar, só preciso de um tempo para isso. Você, dentre tantas pessoas, é a que mais sabe o quanto isso tudo foi dolorido para mim.

         A babá apareceu para trabalhar e me ajudou a arrumar as coisas dos bebês e a descer com eles até o carro.

        Coloco as crianças no carro, Augusto está no passageiro, mas antes que Manolo possa assumir o volante eu o paro.

        - Conseguiu o que te pedi?

        - Sim.

        - Acho melhor você não ir.

         - Mas Rodrigo me disse para ir.

         - Ele te disse para me espionar e me controlar. E eu não quero mais isso

         - Posso ir como seu amigo.

        - Sim, é verdade, mas depois de tudo o que pode acontecer, você pode não ser mais bem vindo para voltar.

         - Deixe que eu me preocupe com isso.

         - Eu sei o quanto você ama isso aqui. Fique. Se eu precisar eu te chamo. E se as coisas não derem certo, preciso de alguém que possa cuidar de tudo para mim.

         - Eu teria largado tudo, se você me pedisse.

        Sei que é uma decisão difícil para ele, mas para mim não é. Se ele for comigo, Carlos vai caçá-lo, como vai caçar a mim. E não quero estragar a vida dele. Além do que, ele pode ser o único a interceder por misericórdia por mim. E para as crianças.

       O que ele me disse deveria me pegar de surpresa, uma declaração de amor singela. Talvez o único que não me pediu nada em troca. Nem mesmo meu amor. Mas não me surpreende. Como se uma parte de mim já soubesse. Sinto uma pontada de tristeza, porque qualquer coisa que pudesse ter sido, mas nunca houve a chance de ser.

        Eu preciso de Alexandre forte, porque ele é o único que vai poder deter Carlos de me caçar, mas para isso preciso chegar a um acordo para que ele pare de caçar a mim. 

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora