Capítulo XIV

60 7 3
                                    


Débora olhava para ele e para mim e por fim ela se aproximou de mim protetoramente.

      - Senhor! Você precisa sair daqui. - Augusto estava transtornado. Furioso. Ele a ignorou completamente e se aproximou de mim.

      - Sofia! Mas que merda!

       - Senhor! Saia daqui ou eu vou chamar os seguranças! - ela se colocou entre eu e ele.

       - Débora... está tudo bem. Eu o conheço.

      - O que? Esse é...

       - Esse não é.

Ele se aproximou de mim, empurrando Débora para o lado. Eu estendi a mão para ele. Quando ele a pegou, a expressão do seu rosto se abrandou. Ele não estava mais tão furioso comigo.

      - Débora querida, pode me dar um momento com esse gentil cavalheiro? - minha voz soava fraca e um pouco rouca, embora eu estivesse fazendo um esforço para disfarçar a falta de ar e a fraqueza. - por favor? Depois continuamos nossa conversa fofa. E minha resposta ainda será não.

Ela me deu um olhar furioso e saiu, batendo a porta.

      - Nosso assunto ainda não terminou. - ela disse antes de sair.

Olhei para Augusto. Ele ainda segurava minha mão, e a mão dele suava e estava gelada ao mesmo tempo. Ele estava tenso. Ele olhava para mim e para os fios conectados a mim.

       - Sofia...

       - Augusto...

     Nós ficamos ali parados por um tempo, olhando um para o outro. Ele era o meu irmão, meu parceiro, minha família. Mas ele também era aquele que tinha me traído, sido totalmente e cegamente fiel ao irmão, mesmo que isso custasse a minha vida. Como estava custando. E isso eu podia perdoar, mas não podia perdoar que isso custasse a existência e a morte dos meus filhos.

     Mas eu nome de todo amor que eu senti por ele, eu queria de alguma forma colocar um ponto final nisso. Um desfecho para essa história, afinal a minha história estava tendo um desfecho. Não o que eu esperava, mas a consciência da morte era cada vez mais presente pra mim. Porque eu não poderia perder meus bebêzinhos. Eu não sobreviveria.

      - Sofia... o que está acontecendo? - ele não iria se aguentar por muito tempo, eu agradeci, não saberia por onde começar.- você está doente? O que você tem?

      - Meu coração está cansado de bater - foi a forma mais simples de dizer.

       - E você está...

       - Gorda? - eu disse e tentei rir. Ele olhou para minha barriga e depois para mim, eu acenei dando lhe permissão.

 Augusto empurrou a coberta e tocou minha barriga com cuidado. Eu consegui chegar a 25 semanas. Era um marco.

Havia duas faixas com eletrodos na minha barriga, controlando os batimentos cardíacos dos bebês e contrações uterinas. Ele acariciou minha barriga entre as faixas e me olhou emocionado. Ele era um bastardo que eu amava e odiava, mas ele era uma das pessoas mais passionais que eu conheci.

      O bebê está bem?

       - Estão, mas desesperados para sair daqui. Parece que nem eles me aguentam.

       - Eles?

      - Sim, dois meninos e uma menina.

      - Oh meu Deus, Sofia! - ele voltou a segurar a minha mão e aproximou o rosto do meu, encostando a testa na minha. Ele acariciou meu rosto e colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. - Como você está?

Fiz um gesto com as mãos me mostrando deitada na cama.

       - Você precisa de algo? - ele continuou

       - Não, obrigada. Você já fez o bastante. 

       - Quer me contar por que você fugiu?

       - Direto. Ótimo. Não temos muito tempo.

       - O que houve? Alexandre te procurou tanto...

      - Ele está aqui não é?

      - Não

      - Não?

       - Eu... bem... preferi vir primeiro...

      - E abrir caminho para ele como você sempre fez! Como você pode? Como você pode! Eu não consigo acreditar! Acho que de Alexandre, quer dizer, não sei qual dos dois me dói mais! Achei que nós éramos amigos! Nós éramos família! Você era mio fratello! Meu irmão!

      - Sofia... eu não sei do que você está falando!

       - Augusto, sério, eu não tenho tempo a perder com joguinhos! Se não ficou claro, eu sei sobre as drogas que você estava me dando! Você não só me traiu, mentiu para mim, me deixou doente... mas você colocou meus filhos em risco... Ai!... E isso eu não posso perdoar! Eu já amava o Alexandre, eu já te amava, não tinha... Ai!! Merda!... - eu sempre senti algumas contrações, não era incomum.

     Só que dessa vez eu sentia contrações, dores de cabeça e ânsias de vômito.

      - Sofia! Calma!! Eu não sei do que está falando... Eu vou chamar um médico...

      - Não, se eles vierem não vou poder terminar essa conversa. - outra contração veio e eu travei os dentes para tentar conter o gemido. - Se algo acontecer com meus filhos, eu não vou te perdoar jamais... A culpa vai ser sua! Se algo acontecer com eles, você será o assassino dos meus filhos!! - outra contração veio mais forte e eu não consegui segurar o gemido. Eu estava sendo cruel com ele, e naquele momento era exatamente isso que eu queria.

       Os monitores começaram a apitar e em segundos o quarto estava cheio de enfermeiros. Débora entrou e, claro, Rodrigo atrás dela. Ela veio em minha direção e começou a me examinar e a gritar ordens para os enfermeiros no idioma nativo que eu não entendia uma palavra.

Quando Rodrigo viu Augusto ali, partiu para cima dele para agredi-lo, mas só conseguiu dar um soco, antes que Débora interviesse

      - Rodrigo! Para! Já está na hora. - Rodrigo largou Augusto e veio para mim e segurou a minha mão. Seu rosto expressava pesar. Todo o clima do quarto mudou. Todos sabiam que hora era aquela. Isso fez com que Augusto não revidasse e ficasse olhando para todos sem saber o que fazer.

       - Débi... - ouvir aquilo me abateu, mas tudo bem, estava quase acabando. - Débi, olha pra mim.

       - Agora não Sofia, temos coisas pra fazer. Preparem a sala de cirurgia e avise a equipe.

        - Débi, querida, obrigada por tudo. Está tudo bem. Obrigada Rodrigo.

        - Pare com isso... - ele me disse apreensivo.

E então eu apaguei. 


Esse vai para você @BeatricePAlannis!!Espero que esteja gostando!

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora