Capítulo XVII

61 6 4
                                    

AUGUSTO

       Eu não dispunha de tanto tempo assim para ficar ali em Male. Eu sai escondido e logo Mendonza sentiria a minha falta. Alexandre provavelmente não sentiria minha falta, a última notícia dele era que ele estava em Milão há três dias sem sair do bordel. Um dos seguranças dele era da minha equipe pessoal e ficava de olho nele para mim e me contava tudo.

      Assim que tomei a decisão de vir para Male atrás do rastro de Sofia, hackeei o rastreador que eu tinha, para que ninguém pudesse me localizar. Eu tive que burlar nossos sistemas de segurança para que meu chip rastreador não denunciasse que eu estava em Malé e mostrasse que eu estava na Bélgica, que era para onde eu disse que tinha ido. Havia um homem meu de confiança e ele estava fazendo isso, mas não duraria para sempre. Desde o sequestro de Sofia no começo do ano, nossos negócios com a família de Rodrigo estavam acertados, e nada justificava a minha presença aqui.

       Eu ainda me sentia enojado com tudo o que ela tinha passado e estava passando, e queria do fundo do coração acreditar que não tinha sigo Alexandre, mas cada vez que eu pensava nisso, eu me lembrava da noite de núpcias deles em que ele a agrediu e a estuprou. Ele também não precisava fazer nada daquilo. Eles viviam bem e se pegando o tempo todo, eu não sei o que aconteceu, mas o que quer que ele quisesse de Sofia, ele poderia ter conseguido de outra forma, com amor e não a força.

       Eu sentia o gosto da bile subindo e larguei o café que estava tomando no quarto do hotel.

       Jamais eu condenaria Sofia por esconder os filhos de Alexandre, foi exatamente o que minha mãe fez quando descobriu que estava grávida de mim.

       No quarto dia, eu precisava voltar, mas quis passar no hospital primeiro, ver Sofia, os meus sobrinhos e falar com Rodrigo, queria ter certeza de que ele não sumiria com ela, eu queria ter certeza de que voltaria a vê-la

        - Rodrigo, eu preciso ir embora. Quero saber se você vai me deixar voltar para vê-la e se me dará notícias dela.

        - Se ela quiser te ver, você pode vir.

         Se ela não quisesse me ver, eu respeitaria. Eu imploraria o perdão dela, mas eu respeitaria. Mesmo que eu não tivesse feito nada, ao menos conscientemente, era meu dever garantir a segurança dela e eu falhei.

          Para minha surpresa, quando cheguei, ela tinha acabado de acordar. Estava fazendo alguns exames e logo iria para o quarto, decidi esperar.

        Ela permitiu que eu entrasse no quarto.

        - olá bella! Como você está?

        - Atropelada por três caminhões! - ela estava sorrindo. Ela ainda estava zonza por causa das medicações e parecia um pouco bêbada, mas sorria e estava resplandecente, como todas as madonas.

       - Obrigada por me deixar te ver.

        - Eu disse que te perdoava.

         - Mas que não acreditava em mim.

         - Não, não acredito. Eu não posso me dar ao luxo. Eu não posso permitir que ninguém me engane e me faça mal de novo, eu tenho que pensar nos meus filhos, que precisam de mim.

         - Eu entendo. De verdade

          - Entende?

         - Sim

         - Então não vai contar nada a Alexandre?

        - Você sempre quis saber algo de mim, vou te contar uma história. Meu pai, Mário, era casado com a mãe de Alexandre, e era um acordo entre famílias, foi um casamento por negócios, ele não a amava. Ele amava a minha mãe, Marina. Eles continuaram se vendo e se encontrando escondido. E mesmo sendo uma amante ela não se envergonhava disso, não se envergonhava dele. Ela sempre foi uma mulher determinada e que não se prendia a conceitos sociais, ela seguia o seu coração e me ensinou a seguir o meu. "Nós nos amávamos meu filho. Seu pai nos amava muito". No entanto, um dia, ela largou tudo e se mudou para o Brasil, onde eu cresci. Ela decidiu que não aceitaria mais nada dele, que viveríamos a nossa vida com o que ela pudesse nos dar, e ela trabalhou dia e noite para me dar uma vida confortável. Quando eu perguntava, ela apenas dizia: "Seu pai nos amava, mas é preciso mais do que amor para criar um homem de bem". Era a única resposta dela. Eu nunca conheci meu pai. E não pensava nisso. Ela era tudo para mim, minha mãe, meu pai, minha irmã e minha melhor amiga. Eu tive uma ótima vida. Minha mãe trabalhava num restaurante no Rio Grande do Sul, não me faltava nada e eu era feliz. Quando ela descobriu que estava doente, ela teve câncer, ela resolveu me contar quem era o meu pai e o que ele fazia. Naquele dia eu sentia raiva, de tudo e de todos, eu não saberia o que fazer sem a minha mãe, então eu procurei meu pai. Pedi a ele que me ajudasse financeiramente para cuidar da minha mãe. Nós viviamos confortavelmente, mas não éramos ricos. Eu queria que ela tivesse o melhor tratamento para que pudesse sobreviver. E então Mário me acolheu, disse que me daria tudo o que o dinheiro pudesse comprar, com a condição que eu fizesse meu treinamento ao lado dele, aprendesse os ossos do ofício. Ele disse que eu não precisaria assumir se eu não quisesse, mas ele pediu que eu conhecesse e aprendesse dos negócios. E eu aceitei. Ele me registrou como filho, me incluiu em seu testamento. Alguns anos de vida, e minha mãe teria todo o tratamento e pronto, eu voltaria para ela e para nossa vida. Ela ainda lutou por três anos. Eu estive ao lado dela sempre que podia, mas o resto do tempo eu aprendi a atirar, primeiros socorros, comecei a faculdade de administração, conheci Alexandre e passei a conviver com a família do meu pai. Um dia, ele me disse que eu deveria voltar e ficar ao lado da minha mãe, pois não havia nada mais que pudesse ser feito. Eu fiquei seis meses ao lado dela, e no final ela morreu. Eu ainda devia dois anos a ele, depois que enterrei a minha mãe, voltei para a Itália. Nesse tempo, Alexandre e eu ficamos muito próximos, eu adorava ele, e quando o nosso pai morreu, decidi continuar ao lado dele, nós não tínhamos mais ninguém mesmo.

         - depois de todo o sacrifício da sua mãe para te manter longe...

         - bem, não era essa a moral da história, o que eu queria te dizer era que eu te entendo e não te julgo. Eu não vou contar. além do mais, esse era o meu destino.

        - Mas será esse o destino dos meus filhos?

         - Eu não sei... mas de alguma forma, crescer com ela e não com a máfia, eu gosto de pensar que sou um homem de bem, apesar do que você deve achar.

           - Se você cumprir sua palavra, e não contar a Alexandre, será um homem de bem para mim.

             Eu prometi que não contaria, pelo menos até que eu tivesse certeza absoluta que ele não tinha nada a ver com aquela tragédia toda. Assim nos despedimos e eu fui embora. Voltei para a Itália. 

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora