Capítulo XVI

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AUGUSTO

 - Rodrigo... Manolo... eu... preciso saber o que exatamente vocês mostraram a ela, e preciso disso logo!

 - Nem perca seu tempo! Ligue para seu irmão e eu mesmo vou resolver o problema dele.

 - Ela me fez prometer, que não contaria a ele. - Rodrigo riu, ela fazia isso com a gente. Quando menos esperávamos ela nos desarmava

 - Eu te disse. Mendonza. A segurança dele é um lixo. A de todos vocês é.

Deixei passar a ofensa, eu estava focado em.... nem sei no que... esclarecer as coisas? Entender as coisas? Qual o sentido disso tudo se ela morresse? Ou se os bebês morressem?

 - Mas por que ele faria algo assim? O que ele exatamente ganharia com isso?

  - E eu é que vou saber como funciona a mente desse doente! - eu fechei meus punhos com raiva ao ouvir Rodrigo xingar meu irmão, mas respirei fundo. Agora era o momento de tentar entender e quem sabe, resolver essa merda toda.

  - Qual o objetivo dessas drogas? O que ele conseguiria que ele já não tivesse?

 - Um filho?

 - Ela tinha concordado em tentar, ele não precisaria droga-la para isso... ela já tinha aceitado se casar com ele... eu não entendo...

 - Você tem certeza que ela realmente tinha aceitado? E não por causa da gravidez? Eu a vi no dia do casamento... 

 - Sim, ela tinha algumas dúvidas, é verdade, mas ela o amava... eu sei porque eu ficava com ela a maior parte do tempo, nós fazíamos tudo junto...-  as lembranças daquele dia me acertaram como um tapa na cara, ela estava emotiva, chorosa... e bem, teve o que aconteceu depois. Me perguntei se Rodrigo não tinha tido nenhuma participação na violência de Alexandre.

 - E você diz que não sabia? como não percebeu?!

 - Eu... - fechei meus olhos por alguns segundos e tentei pensar... - Quando nós nos conhecemos ela fazia tratamento para depressão, e ela continuou, ela estava num lugar difícil. O novo médico dela trocou alguns remédios, eu achei que apenas tivesse fazendo efeito... ela estava alegre, confiante... animada...

 - E que mais?

 - Eufórica... agitada... palpitações... dores no peito... tremores... Oh merda! O médico nos garantiu que eram apenas crises de pânico... - Naquele segundo, tudo ficou claro para mim como um filme, todos os sintomas estavam lá, eu apenas não notei, porque o médico nos dizia coisas e eu acreditava.

 - Pelo que nós conversamos, era exatamente esse o objetivo das drogas... quer dizer... - era a médica falando - para que ela ficasse feliz ao lado de Alexandre... deixá-la submissa, controlada, dependente...

 - Entendo o que você quer dizer, mas ainda não faz sentido para mim... Alexandre não precisaria de nada disso... ele... ele parecia dominar muito bem a situação... ele sabia lidar com ela... ao menos assim parecia...

 - Então, o uso prolongado desse tipo de drogas, causou problemas cardíacos, e isso tem afetado outros órgãos... como o pulmão...

 - Ela já tinha problema respiratório quando nos conhecêssemos, não tinha problemas cardíacos, mas ela tinha crises de pânico, em que os sintomas eram parecidos... ela dizia que achava que estava tendo um ataque cardíaco e não conseguia respirar... sempre que ela ficava nervosa isso acontecia.... Eu simplesmente não notei nada... Doutora! Por favor... nós temos que fazer alguma coisa... Deve haver um jeito...

 - Nós estamos tentando fazer o nosso melhor...

 -Não me leve a mal, mas haveria algum especialista, algum outro hospital com mais recursos... Nada?

- Infelizmente não.... acho que ela não aguentaria ser transferida a essa altura...

- E antes?

- Ela se recusou a vir ao hospital antes... Ela não permitiu...

- Ela sempre odiou hospitais... Droga!

O celular da médica tocou e ela saiu sem dizer nada.

Isso tudo era uma grande merda.

As horas foram passando e a nós só cabia esperar. Rodrigo desistiu de me mandar embora algumas horas depois, em especial quando ele notou que eu estava lá sozinho. Ele fez algumas perguntas sobre como eu cheguei nela, eu disse a verdade. Tinha alerta para os nomes dela, quando o sistema do hospital ficou online, o alerta disparou eu arrisquei e fui checar. Mais importante, Alexandre nem ninguém sabia que eu estava lá, se ele quisesse me matar... ninguém nunca descobriria...

Ele não disse mais nada sobre como ele conseguiu as informações que passou para Sofia, apenas me disse que conseguiu no computador de Mendonza. Compreendi que se Mendonza fez algo assim, seria sob as ordens de Alexandre, embora parte de mim duvidasse que ele fizesse algo assim, eu tinha que concordar com o raciocínio dele e Deus sabe que Alexandre não era nenhum santo, mas Deus também sabe como ele amava aquela doida.

Apenas na manhã do dia seguinte tivemos alguma notícia concreta além de "estamos fazendo o melhor... ela está em estado crítico..."

- Os bebês nasceram! - Débora veio, colocando apenas a cabeça dentro do quarto e nos chamando.

Nós três a seguimos para a ala da maternidade. Para a UTI neonatal. O fato é que o hospital era sim bem equipado. E pelo vidro nós pudemos ver os três bebezinhos.

Meus sobrinhos eram três bebezinhos minúsculos, cheios de fios e com touquinhas brancas com o nome do hospital.

Nenhum de nós pode entrar na uti para vê-los.

Acho que na verdade a médica não sentiu se segura, afinal, nenhum de nós era o pai. Droga! Como eu vou falar com Alexandre? Como eu não vou falar nada para ele?

- E sofia?

 - Ela está em coma induzido por enquanto, nós fizemos um reparo no coração, mexemos o mínimo possível, eu mesma fiz a cirurgia, nós não pudemos fazer uma cirurgia de peito aberto, porque o corpo dela ainda está debilitado e não resistiria. Então fizemos uma cirurgia minimamente invasiva por laparoscopia. Não resolveu o problema, mas acho que ganhamos algum tempo.

Com ela ainda em coma, e com as crianças vivas, Rodrigo saiu para tomar um banho, comer alguma coisa... eu ia sair procurar meu segurança, mas Manolo me chamou num canto.

- Espere

- O que foi? - saiu mais grosso do que eu queria. Eu estava exausto. - Desculpe...

- Não precisa. Estamos todos cansados. Você não acredita em nada disso que Rodrigo falou...

-Acho difícil de acreditar... não o estou chamando de mentiroso... é só que não faz sentido...

 - Eu entendo, as vezes é difícil justificar aqueles que servimos... eu sei o quanto você deve fidelidade a ele. Só que a Sofia não conseguiria lidar com ele agora... Não sei se ela aguentaria...

Eu entendi o que ele queria dizer... ela estava num situação delicada e Alexandre chegaria como um furacão, como um tsunami como ela dizia às vezes. E se ele fez mesmo isso, ele com certeza não merecia saber de nada agora. Sem mencionar os riscos que isso implicaria, quando nossos inimigos, outros, além de Rodrigo, descobrissem... a cabeça dela e dos bebês seria posta a prêmio... e eles eram tão pequenos, tão frágeis... Eles nem nasceram e já tinham que lutar tanto.

E também não era como se Alexandre ainda fosse o mesmo. Ela agora estava só uma sombra de tudo o que ele era. Talvez o verdadeiro Alexandre pudesse ajudar, aquele por quem ela se apaixonou, e não esse drogado nojento que ele era agora.

Que situação.

Eu fui para o hotel, eu precisava descansar e então pensar em alguma coisa. 

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora