Capítulo LXIV

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           Alexandre

          Bernardo não me deixou dirigir. Sabia que eu estava alterado. Eu estava concentrado e focado, embora por dentro um milhão de coisas fervilhassem em minha mente e no meu coração.

           Augusto já está sabendo e me liga. Ficamos discutindo pelo telefone, ele vai mandar reforços. Só precisamos que Sofia aguente firme.

          Corremos com os carros e vi que logo outros carros se juntaram a nós formando uma longa carreata de carros. Augusto me avisou que era o reforço que ele estava mandando. Não conhecia as pessoas e tive medo que fosse uma emboscada. Mesmo que fosse, só nos restava enfrentar,não havia como voltar atrás.

           Antes mesmo que o carro parasse, eu saltei dele. Pude ver um enorme avião e alguém sendo carregada no colo. Só podia ser ela.

          Normalmente nós iriamos tentar uma aproximação mais discreta, mas ali, não tinha jeito. Era uma especie de propriedade na area rural e a guarita ficava bem na entrada.

         Nós passamos primeiro, como que voando e arrebentando a cancela, alguns homens atiraram em nós, mas logo os carros de trás os derrubaram. No meu carro não havia forte armamento, além das nossas pistolas pessoais, das quais não me separo e de Bernando, que trouxe suas pistolas e uma mala com uma metralhadora.

           Parece que os carros que vieram atrás de nós tinham muito mais armas, porque em minutos, apesar do tiroteio, os homens de Rodrigo foram neutralizados, até porque estavam em menor número.

            Pelo menos assim, me pareceu, até que comecei a ouvir alguns tiros, espaçados e notei alguns homens caindo ao meu lado. Olhei em volta para ver de onde vinham os tiros. Eu estava atrás da porta do nosso carro, usando- a como escuto.

         As vezes eu levantava a cabeça para atirar pela janela e voltava a me esconder. Eu já não via mais Rodrigo ou Sofia, mas a porta do avião ainda estava aberta. Eu estava procurando um jeito de chegar até o avião, antes que ele fosse embora.

          - Bernardo! Me dá cobertura, eu vou até lá! Bernardo! - Olhei para o lado e vi ele caido no chão - Que porra!

            O homem que estava atrás de mim me puxou pelo colarinho do casaco para trás me derrubando.

         Quando consigo me reerguer, e olho para trás, o homem que me puxou tinha um tiro que destruiu seu crânio, na altura do nariz. Aquele tiro era para mim.

         Chamo os homens no comunicador que acabei de colocar no ouvido

         - Pessoal, esse avião não pode decolar

          - Sim senhor!

          Bernardo tinha me dado um colete a prova de balas que eu tinha vestido as pressas. Pego o fuzil que o homem que está atrás de mim carregava e chego, sem munição, dou a volta no carro e pego a metralhadora de Bernado. Ele trazia consigo diversos carregadores.

         - Me deem cobertura. Vou entrar no avião

           - Espere mais um momento senhor, nossos homens vão junto.

           Eu gostaria de poder esperar. Meu lado racional me diz que devo esperar, mas não tenho tempo, vejo movimentação no avião e sei que algo deve ter dado errado para não ter decolado ainda.

          Saio correndo e ouço a voz de Augusto no meu ouvido

         -Porra fratello! Vai lá! - segundo depois vejo uma fila de homens armados até os dentes me seguindo. Ouço o barulho dos motores do avião e pulo na escala. Ele ainda não começou a taxiar, mas que porra! Por que a merda da porta ainda está aberta??

           Quando vou subir no primeiro degrau, sinto alguém me puxar para trás de novo pela alça do colete. Me livrei do casaco em algum momento. Está frio e nevando, mas eu não sinto nada.

          Alguém me puxou, mas dessa vez não cai. É um dos meus homens que se coloca na minha frente e entra primeiro no avião. Ouço ele atirar.

         - Cuidado com Sofia! - grito, pois tenho medo que ela possa morrer no tiroteio. Se ela sobreviver a cirurgia.

          O barulho dos tiros dessa vez me tira completamente fora de mim e empurro qualquer que está na minha frente e caio de joelhos no chão.

        Sofia está caída no chão da aeronave e Rodrigo está ajoelhado em cima dela. Ela ainda veste a camisola do hospital e seu peito há uma enorme mancha de sangue. Rodrigo tenta fazer uma massagem cardíaca, mas ela está desacordada.

         Um homem vestido de piloto de avião se aproxima com um aparelho que penso ser um desfibrilador. Ele fala alguma coisa com Rodrigo para que ele saia de cima, como se pedisse licença para intervir, mas Rodrigo está fora de si e parece não ouvir nada. Ele nem se dá conta da minha presença.

        Os meus homens não param de entrar no avião e parece que não há mais resistência, mas estão todos paralisados com a cena.

          Minha reação dura um segundo e eu vou para cima de Rodrigo. Eu tento tirá-lo de cima de Sofia, Não me preocupo em matá-lo, porque a morte seria rápida demais para ele e para tudo o que ele me fez passar.

    Sinto mais alguém me ajudar e tiramos Rodrigo de cima dela, então o piloto sem perder tempo usa o desfibrilador nela.

      Uma, duas, três...

      Ele abaixa e cabeça, desistindo.

      Tento gritar, mas a voz não sai da minha garganta. Saco a minha arma e atiro em Rodrigo, acerto-o no peito.

      Vou até o piloto e pego o desfibrilador da mão dele.

         - Uma ambulância.

        - Já está a caminho!

         Eu não tenho certeza se ainda sei usar o desfibrilador, mas sou puro instinto agora.

         Uma, dua, três, quatro... Perco a contagem.
Alguém se aproxima de mim, tenta tocar meu corpo, mas me desvencilho e continuo.

         Não sei quanto tempo fico assim, mas o barulho de um disparo me trás de volta

         - Rodrigo!

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora