Capítulo LX

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       Alexandre e Augusto saíram para uma reunião e eu fiquei em casa. Eu não tinha tanto trabalho assim como gostaria, mas naquele dia isso foi um alívio.

     Eu pensei em fazermos o teste só nós dois, algo íntimo, mas Alexandre organizou um jantar. Umas dez pessoas, pra um evento italiano praticamente não tinha ninguém. Mas eu fiquei constrangida em fazer o teste e ter várias pessoas me esperando, cheias de expectativa. Quando deu negativo, eu fiquei triste. Eu não estava planejando uma gravidez, meus filhos eram perfeitos e já me mantinham bem ocupada. Mas se tivesse dado positivo, teria sido um recomeço. Nós poderíamos ter uma nova chance de curtir tudo desde o começo... Bem, deu negativo, afinal, nós tivemos sexo a pouco tempo, e poucas vezes, não seria possivel engravidar não é?

        Com o resultado negativo, o mau estar continuou. A sensação de cansaço... tontura... dificuldade para dormir... falta de ar... Eu me recusava a pensar no que poderia ser isso.

       Não, não agora que tudo estava indo tão bem.

        Alexandre e Augusto voltaram da reunião, as crianças estavam bem. Nós até voltamos a conversar sobre eu ter meu próprio trabalho, a vida amorosa andava maravilhosa, estava tudo perfeito.

       Alguns dias depois, eu estava na sala com as crianças e resolvi erguer as pernas no sofá, meus pés estavam doloridos e inchados. As três crianças estavam andando sozinhas e eu e as babás ficamos loucas atrás delas. Eram três andadores andando pra lá e para cá, numa casa cheia de degraus e que não era totalmente adaptada para crianças. Até os seguranças tinham que ajudar a atendê-las às vezes.

        Embora eu estivesse exausta, eu era absurdamente feliz, mas do que eu já tivesse sido em algum momento da vida.

       Alexandre chegou mais cedo naquela noite, pois tínhamos combinado de sair para jantar fora. Ele se aproximou de mim e me deu um beijo longo e demorado, enquanto segurava meu rosto com as mãos.

       - olá bella. - ele beijou cada um dos três pestinhas e Augusto chegou logo atrás, e como ele sempre trazia alguma coisa para eles, os três correram no andador atrás dele, enquanto ele fingia correr deles.

      - Oi amore. como foi seu dia? - ele me olhou por dois segundos e pareceu perceber.

       - o que foi bella? Cansada?

       - um pouquinho! - ele se sentou no sofá e começou a massagear meus pés. - não consegui ficar deitada muito tempo porque a falta de ar piorava. Um dos bebês chorou, pelo barulho devia ser Isadora e fui me levantar para ver, mas Alexandre foi primeiro. Não era nada.

        - Vou chamar o médico para examiná-la.

        - Alexandre, por favor, não precisa. Eu só estou cansada! -

        - Augusto, por favor, peça para a babá dar o jantar dos tres e coloca-los na cama. Sofia não está bem, chame o médico por favor.

         - Alexandre, pare com isso! - eu quis me levantar, mas senti uma tontura muito forte e ele precisou me apoiar. Tudo ficou escuro por alguns segundos.

         - Sofia! Está me ouvindo? - Alexandre me chacoalhava e me olhava assustado. Eu estava deitada no sofá.

          - eu estou bem... foi só uma queda de pressão...

          Antes que eu terminasse de falar Augusto já entregava a Alexandre uma maleta de couro preta e Alexandre começou a medir a minha pressão. Droga! Isso não podia estar acontecendo..

         - Ale.. Ale... pare... por favor... pare... - eu não deixei ele terminar, eu não deixei ele medir minha pressão.

          - Sem médicos. Eu só estou cansada e com calor, ok? Eu vou subir para meu quarto e descansar.

           Antes que eles pudessem protestar, me levantei devagar e sai, indo em direção ao quarto. Com certeza um banho gelado iria ajudar. Me apoiando no corrimão consegui subir para o quarto. Meu corpo estava cada vez mais pesado e eu me arrastei para o chuveiro, me apoiando nos móveis. Quando vi, Alexandre estava ao meu lado.

         Ele ficou ali comigo, ao meu lado, provavelmente me atendendo ou tentando arrancar de mim o que ele queria saber, ele era bom nisso.

        - Como foi seu dia?

         - Foi ótimo, as crianças adoraram os andadores novos. Corremos atrás deles o dia todo. Logo já vão andar sozinhos!

          - Que bom! E que mais?

          - não me olhe com essa cara, me diga logo o que você quer saber

           - Eu estou preocupado com você.

           - Eu estou bem. Está tudo bem. Nós estamos bem, as crianças estão bem... - eu sentia um aperto no peito e vontade de chorar. Entrei no box e tomei uma ducha fria, o mais frio que eu consegui aguentar. Quando fui sair do box ele já me esperava com uma toalha e me enxugou. A falta de ar foi piorando, e a dor no peito também.

            - Ale... acho que não estou me sentindo... - nem consegui terminar a frase e meu corpo ficou muito pesado. Eu não consegui reagir. Senti Alexandre me pegar e me colocar no colo. Ele me deixou na nossa cama e deve ter chamado ajuda.

            Senti ele mexer em mim, provavelmente me vestir, mas eu não consegui prestar atenção, a dor no peito estava mais forte e eu só conseguia rezar para que Deus não permitisse que meus filhos crescessem órfãos.

            Acordei no hospital. Eu não reconheci esse lugar. Num primeiro momento senti muito medo, pois me lembrei do médico da famiglia que ajudava Mendonza a me drogar. Tentei me levantar, mas além da tontura, estava cheia de fios. Alexandre se materializou ao meu lado num segundo e tentou me acalmar.

          - sh... ei... está tudo bem... - eu tentei segurar a vontade de chorar...

           - Não amor... não... de novo não... por favor... - não consegui e comecei a chorar. Ele conseguiu se desvencilhar dos fios e me apoiou nos braços dele e tentou me acalmar.

             - calma querida. calma... - quanto mais eu chorava, mais eu ficava sem ar - Sofi... se acalme ou eu vou ter que chamar uma enfermeira para te sedar. Vamos lá, respira comigo. - eu tentei acompanhá-lo e isso realmente ajudou.

              - água ...

           Ele me soltou por alguns instantes e me deu um copo de água e tirou a máscara de oxigênio do meu rosto.

         - o que foi?

          - Há quanto tempo você está se sentindo mal?

          - Me fala o que houve...

          - Me responda, agora! - a voz de Alexandre já estava mais dura, era o Don exigindo uma resposta.

         - não tenho certeza... eu...

           - você devia ter me falado! - ele esbravejou

           - eu não tinha certeza... cheguei a achar que estava grávida. - aquilo desarmou ele - O que os médicos falaram?

          - Eu chamei alguns médicos de fora... eles estão analisando os exames...

          - O que eles disseram?

          - O que eu disse! Que eles estão analisando os exames e...

          - Ale, pare! É comigo que você está falando!

          Eu também sabia quando ele estava mentindo.

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora